Nova York acordou sob um céu cor de chumbo naquela manhã de outubro, mas para Isabella Moretti, o mundo já havia desmoronado horas antes.
Ela estava no apartamento do SoHo, vestindo apenas uma camisa masculina larga - lembrança de uma noite que não terminara em arrependimento, mas em insônia - quando o telefone tocou. Era Victor, o advogado de sua família, com uma voz tão tensa que ela sentiu o estômago embrulhar antes mesmo de entender as palavras.
- Bella, precisamos conversar. Agora!
Trinta minutos depois, ela estava no escritório da Moretti Media, um império que seu avô construíra com reportagens investigativas e que seu pai transformara em um conglomerado de revistas de luxo e influência política, até que os tempos mudaram e as dívidas se acumularam em silêncio.
- Falidos? - Ela riu, como se fosse uma piada de mau gosto. - Como? Nós temos propriedades, ações, parcerias...
- Tínhamos. Victor corrigiu, passando-lhe um dossiê. - Seu pai contraiu empréstimos usando tudo como garantia. Os bancos estão chamando. E os acionistas... bem, eles já estão se afastando.
Bella folheou os documentos com dedos que tremiam de raiva, não de medo. Os números eram claros: a fortuna dos Moretti não existia mais. Apenas as aparências e as dívidas.
- Onde está meu pai?
Victor hesitou.
- Em Genebra. Ele... não quis ser o responsável por lhe dar a notícia.
laro que não. Sebastian Moretti sempre fugira de conflitos, preferindo festas e amantes a reuniões de diretoria. Agora, ele deixara a filha lidar com o desastre.
Foi então que a porta do escritório se abriu, e Dmitri Volkov entrou sem bater. Um homem alto, com um terno que custava mais que o salário anual de seus funcionários e um sorriso que não chegava aos olhos.
- Ah, Isabella. Que tristeza ouvir sobre os problemas da sua família. Disse ele, fingindo uma condolência que não sentia. - Mas talvez eu possa ajudar.
Ela conhecia aquele tom. Era a voz dos tubarões farejando sangue na água.
- Ajudar como? - Ela ergueu o queixo, desafiando-o a dizer a verdade.
- Compro a Moretti Media. Pelo preço de mercado, é claro. Ele sorriu. - Dado o estado das coisas... bem, você sabe...
Ela sabia. Era uma fração do valor real. Um roubo. Bella olhou para os papéis, para o advogado nervoso, para o predador em seu escritório. E, então, algo dentro dela se acendeu. Não era desespero. Era fúria.
- Obrigada pela oferta, Dmitri - ela disse, fechando o dossiê com um estalo. - Mas os Moretti não estão à venda.
Ele riu, como se ela fosse uma criança teimosa. - Todos estão à venda, querida. Só depende do preço.
Então prepare-se para falir tentando me comprar - ela respondeu, segurando seu olhar até que ele, surpreendentemente, foi o primeiro a desviar.
Quando a porta se fechou atrás dele, Victor exalou.
- Bella, o que você está pensando? Não temos capital para...
- Não precisamos de dinheiro - ela interrompeu. - Precisamos de alavancagem.
E então, com uma calma que assustou até o velho advogado, ela acrescentou: - E eu vou conseguir.
Naquela noite, Bella queimou os avisos de falência na banheira de mármore de seu apartamento e abriu uma garrafa de bourbon caro, um presente de um ex-amante que agora provavelmente a evitava.
Ela bebeu um gole, olhando para o horizonte de Manhattan pela janela. A cidade estava cheia de homens como Dmitri. Homens que achavam que poder, dinheiro e sexo eram a mesma coisa. Homens que subestimavam mulheres como ela.
Erro deles.
Ela pegou o telefone e ligou para um número que não ligava há anos. Um contato do tempo em que trabalhava como jornalista.
- Preciso de um favor, ela disse quando atenderam. Quero tudo o que você tiver sobre Dmitri Volkov. E sobre quem mais estiver com ele.
Do outro lado da linha, uma risada.
- Finalmente acordou para a guerra, Moretti?
Bella sorriu, pela primeira vez naquele dia.
- Não é uma guerra se eu for a única com armas.