O cheiro de terra úmida e clorofila sempre foi o perfume de casa para João Carlos.
Até o dia em que a rara orquídea "Beijo de Cobra", símbolo de sua vida e resiliência, desapareceu do Jardim Botânico.
Mas o vazio do pedestal não era nada comparado ao que ele sentiria em casa.
Foi um pequeno brilho no chão, um brinco de pérola que ele deu à esposa, Ana Lúcia, que congelou seu sangue e sua alma.
A visão dela, rios de risadas com outro homem - Rodrigo, o sujeito que ele tanto desprezava - e sua orquídea rara sobre a mesa de centro, como um troféu macabro da traição, tornou-se o mais profundo abismo para João.
Sua voz saiu rouca, dolorida: "O que é isso, Ana Lúcia?".
Em meio a mentiras vergonhosas e acusações cruéis, a voz de Ana Lúcia, carregada de um cinismo gélido, revelou: "Essa flor dá sorte no amor. Achei que o Rodrigo merecia um pouco de sorte."
A humilhação ressoou pela vizinhança.
Ele ligou para a mãe dela, Dona Helena, em um ato de desespero: "Sua filha está aqui em casa. Com outro homem. E com a orquídea que ela roubou do meu trabalho para dar de presente pra ele."
Ana Lúcia gritou: "Você enlouqueceu?".
"Louco fui eu de acreditar em você por todos esses anos!"
Arrastado para fora de sua própria casa, a última frase dela cravou-se em sua memória: "Eu preciso de dinheiro. Você sabe que eu não trabalho. Você tem que me dar a minha parte de tudo."
Foi então que a bomba explodiu: um acidente de carro de Ana Lúcia revelou que ela estava grávida de oito semanas.
E o pai não era ele.
A avó gritava que a culpa era dele.
João Carlos, então, olhou para tudo e todos ao redor, e tomou a decisão que mudaria tudo: "Eu preciso de ajuda. Estou sendo agredido e acusado falsamente. Eu quero chamar a polícia."