Aitana finalizou o brilho de algumas unhas gelatinosas em tons de rosa pastel, com delicadas linhas brancas formando borboletas em miniatura. O estilo estava na moda no TikTok, e seus clientes o exigiam como um passaporte social. Foi o seu toque pessoal. Sua marca.
"Essas unhas são literalmente virais", comentou a garota à sua frente, uma influenciadora de moda com histórias diárias e namorados rotativos. Ninguém cuida dos detalhes como você, Aitana. Que dedos mágicos você tem.
"Obrigada, amor", respondeu Aitana com um sorriso. Ele manteve a voz suave e profissional. Mas, por dentro, o elogio a fez flutuar um pouco.
O mundo dela eram pregos, arte minúscula, controle. Ela se sentia segura lá.
Até a porta explodir.
-Como você ousa sair com meu namorado?!
O grito cortou o ar como uma faca. Todos os clientes e funcionários se viraram em uníssono. Aitana congelou, seu arquivo erguido, seu coração dando um salto traiçoeiro.
A mulher que tinha acabado de entrar era uma tempestade de olhos negros e pura raiva. Alta, cabelo perfeitamente liso, rosto de modelo... mas em ruínas. Sua maquiagem parecia intacta, mas suas emoções não.
-Você! -Ele apontou o dedo para ela como se estivesse invocando uma maldição. Você é Aitana, certo?!
-Quem é você? -Aitana conseguiu dizer, com a voz mais baixa do que gostaria.
-Não se faça de bobo! A mulher se movia pelos postos de manicure como um furacão sobre rodas. Você achou que eu não ia notar?! Ele postou uma foto sua, com suas lindas unhas de menina!
Ele colocou o celular na cara dela. Uma foto de duas mãos segurando uma a outra. Ele, com seu clássico relógio preto. Dela - dela! - com o desenho que ela tinha acabado de replicar alguns minutos atrás. Sua assinatura. O estilo dele. O teste.
Monólogo interno de Aitana:
Simplesmente não pode ser. Por que isso aumentou? Pedi para ele não fazer isso. Eu disse a ele que não... Deus. O que eu fiz? O que eu fiz?
-Você dormiu com ele? Diga-me agora! VOCÊ COMEU ELE?! - gritou a mulher, com a voz trêmula. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas isso não a tornou menos feroz. Estou com ele há quatro anos, quatro! Quem diabos você pensa que é?!
O silêncio era total. Até os secadores de cabelo pareciam sem graça.
-Eu... Eu não sabia que ele tinha namorada. "Eu juro", disse Aitana, sua voz agora um sussurro quebrado. Ele me disse que era solteiro.
-Mentiroso! Você é um hipócrita! Você sabia! -A mulher agora chorava sem tentar esconder-. Todas as garotas como você agem de forma ingênua. Você age de forma doce e rasteja na cama dos outros!
-Chega! - interveio timidamente uma das recepcionistas.
Mas a mulher não parou. Ele se inclinou sobre a mesa de Aitana, a apenas alguns centímetros de distância entre seus rostos.
-Você sabia? Espero que ele faça com você o mesmo que fez comigo. Espero que isso quebre seu coração e te deixe chorando como um idiota no banheiro! Porque é isso que ele faz. É isso que ele é.
Aitana engoliu em seco.
Monólogo interno:
Não consigo respirar. Estão todos olhando para mim. Isto é um pesadelo. Como eu entrei nisso? Era só um encontro. Apenas uma mensagem. Só um beijo.
A gerente do spa apareceu instantaneamente, caminhando rapidamente sobre seus saltos altos.
-Senhorita, isso é inaceitável. Você deve sair agora mesmo.
-NÃO! - gritou a mulher, girando como um chicote. Ela deveria ir! Ela! Aquele traidor! Roube mais dos namorados dele, vadia! Vamos ver quanto tempo você dura!
E antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, ela pegou um frasco de esmalte fúcsia e jogou no chão. O vidro quebrou. Um grito escapou de entre os clientes.
-Chega! SEGURANÇA! - gritou o gerente.
Dois funcionários da academia vizinha entraram correndo e escoltaram a mulher para fora, ainda gritando palavrões que sumiram atrás da porta.
Silêncio.
Aitana estava tremendo. O arquivo caiu de sua mão. Seu coração batia forte contra suas costelas. Eu queria gritar, desaparecer, desmoronar.
O gerente se virou para ela, com o maxilar cerrado.
-Quero ver você no meu escritório quando terminar com esse cliente. Isso não pode acontecer novamente. É um aviso formal, Aitana. Mais um e você está fora.
Aitana apenas assentiu, incapaz de falar. Sua garganta estava um nó.
A cliente, que ainda tinha uma mão dentro da lâmpada UV, retirou lentamente os dedos.
-Uau. Isso foi... intenso.
Aitana se levantou sem dizer uma palavra. Ele foi direto ao banheiro. Ele fechou a porta. Ele se encostou na pia.
E ele começou a chorar.
Não era um grito controlado ou digno. Era feio, trêmulo, com ranho, com raiva. Com vergonha.
Monólogo final:
O que estou fazendo? O que estou fazendo com a minha vida? Eu só queria pintar as unhas. Eu só queria criar beleza. E agora... agora eu sou o outro. O idiota. A manicure com o coração partido e a reputação manchada. O que eu faço agora?*
Ele se olhou no espelho, suas bochechas encharcadas, seu nariz vermelho.
"Juro que isso não vai acontecer comigo de novo", ele sussurrou.
Mas algo dentro dela sabia que aquela era uma promessa quebrada, mesmo antes de ela dizê-la.