Vasti não era idiota e sabia muito bem que alguns casais resolviam aliviar outras necessidades nos banheiros das boates, portanto, aquele deveria ser o caso.
"Falta de consideração do caramba!", Vasti pensou.
Barulho de roupa, zíper e, finalmente, a porta se abriu. Uma loira alta, bonita e com o batom borrada saiu de lá, passando os dedos pelo canto da boca. Vasti sabia o que a mulher estava fazendo.
- Estraga prazeres! - a mulher disse e passou por Vasti, batendo no ombro dela.
"Me poupe!" Vasti pensou, fazendo careta.
- Ah, pois - ela acabou falando e se virou para o banheiro, quando deu de cara com aqueles olhos verdes que ela reconheceria de cara.
"Mas... Não é possível!"
Ele a olhava penetrantemente, com as mãos no bolso da calça e um sorriso de lado.
- Você não desiste, não é? - o homem perguntou, olhando-a de cima a baixo e com um sorriso descarado de lado, mas os olhos dele continham desdém.
Isso trouxe Vasti, que estava olhando para ele de boca levemente aberta, à realidade. Ela franziu o cenho, olhando para ele de maneira incrédula.
- Não entendi o que você tá querendo insinuar - ela devolveu o olhar de desdém a ele.
Ele zombou, olhando em volta rapidamente, antes de pousar os olhos nos dela, novamente.
- Eu detesto mulher que se faz de sonsa. Se você quer tanto foder, basta falar. Não tem que ficar de jogos e, muito menos, me perseguindo.
Vasti abriu a boca, dessa vez, sem acreditar no que estava ouvindo.
- Como é que é?! - ela esbravejou. - Você é maluco? Deve ser, mesmo. Porque por sua culpa, eu fui demitida! E eu nem sei o motivo. Foi porque eu esbarrei em você?
Ela balançou a cabeça e o homem levantou as sobrancelhas. Vasti continuou.
- E agora, não satisfeito, está me acusando de TE perseguir? - ela soltou um riso de deboche e o olhou de cima a baixo. - Pra sua informação, eu vim com a minha amiga, que conhece gente que trabalha no local! Essa é a boate que visitamos normalmente. E eu só vim aqui porque precisava espairecer depois de um certo babaca prepotente e metido a besta me demitir sem razão! Portanto, é mais fácil VOCÊ estar me perseguindo!
Ela sabia que não deveria falar assim do chefe dela.
"Não, não, EX-CHEFE", ela se lembrou. Sim, ex. Isso significava que ela não tinha que segurar a língua dela coisa nenhuma. O homem tinha sido um completo idiota e ainda fez picuinha, para que Vasti perdesse o emprego. Ela poderia apostar que tinha sido ele! "como se já não bastasse a minha família, ainda me aparece esse enviado do cão!"
O homem inspirou profundamente, antes de se mover rapidamente. Ele segurou o braço de Vasti e a puxou para dentro do banheiro e fechou a porta. Ela sentiu as costas dela baterem na superfície de madeira e antes que pudesse reagir, lábios quentes e macios tomaram os dela.
- Oh! - ela soltou por reflexo. O homem prendeu-lhe as mãos acima da cabeça dela com apenas uma dele, que era imensa, enquanto a outra segurava firme na cintura de Vasti.
Ela abriu os lábios com surpresa e ele aproveitou a chance para beijá-la mais profundamente, arrancando suspiros da mulher que tinha passado o dia atormentando o juízo dele. O joelho do homem ficou entre as pernas de Vasti, abrindo-as e dando a ele mais acesso ao corpo dela. Vasti não era de beijar estranhos, mas ela estava se sentindo tão bem...
- Ei! Vasti? - uma batida na porta fez Vasti dar um sobressalto. O homem não a soltou de pronto, mas sim aos poucos, deixando as mãos dela descerem. Ele segurou uma delas e colocou-a no peitoral dele. Com a mão livre, o homem tocou o rosto de Vasti.
- J-já vou! - Vasti gaguejou. Os lábios dela estavam levemente inchados e a respiração entre-cortada. - Me dá um minuto! Eu já vou sair!
- Ok... - e o barulho do salto de Fernanda se afastando foi ouvido. Vasti olhou para o homem. Ele estava com o cabelo impecável, o rosto próximo ao dela e os lábios meio abertos. Ele deu um sorriso.
- É melhor você ir pra casa, ou vai acabar se atrasando, amanhã - ele falou com a voz rouca.
- Atrasar? - Vasti perguntou, temendo que o cérebro dela ainda não tivesse voltado a funcionar direito.
- Claro. Você é a minha secretária substituta - ele falou e deu um beijo rápido no pescoço dela, fazendo com que Vasti suspirasse. - Eu não gosto de atrasos.
Então, foi quando ela se deu conta: o homem que tinha estraqado o dia dela não era um fofoqueiro, ele era o próprio chefe! Vasti o empurrou com as duas mãos e o encarou, feio.
- Do que está falando? Eu fui demitida! Por você!
Ele deu um passo para trás e, segurando na cintura dela, ele a colocou para o lado, a fim de que pudesse abrir a porta..
- Pois está readmitida. Lembre-se: sem atrasos - O belo homem deu uma piscada e saiu porta afora, deixando Vasti ainda desnorteada.
As pernas dela pareciam feitas de gelatina, mas ela conseguiu sair do banheiro e ir para a mesa onde Fernanda e Will estavam.
- Caramba! O que aconteceu? - Fernanda perguntou, até que percebeu o estado da amiga. As luzes do local acabaram disfarçando, mas assim que Vasti se aproximou um pouco mais, ela viu. Os lábios inchados e vermelhos, sem batom, os cabelos bagunçados e a roupa desalinhada.
Will também notou e segurou o riso.
- Sua safada! - Fernanda falou, dando um tapinha no braço de Vasti, que não respondeu nada. Ela parecia meio assustada. O sorriso de Fernanda morreu. - Pera aí... Alguém forçou você a alguma coisa?
Fernanda se levantou rapidamente, como uma leoa pronta para proteger a cria e olhou em volta.
- Ah, não. Eu... Eu tenho que ir.
- O quê? Por quê? - Fernanda não estava acostumada com Vasti agindo estranho daquele jeito. - Amiga, conta a verdade, alguém te encurralou, tentou alguma coisa?
A latina de cabelos sedosos na cintura olhava preocupada para Vasti.
- Eu não posso me atrasar amanhã.
Fernanda olhou para Will.
- Do que você tá falando?
- Pelo visto, eu consegui o meu emprego de volta - essa resposta fez Fernanda levantar as sobrancelhas.
- Ok... Fico feliz por você. Eu acho... - Fernanda observou Vasti pegar uma nota de dinheiro da bolsa, colocá-lo em cima da mesa e se inclinar para ela, a fim de dar-lhe um beijo na bochecha. Acenou para Will e se foi.
- Sua amiga é maluquinha - o namorado de Fernanda falou, soltando uma risada. .
- Eu vou descobrir o que rolou - Fernanda disse. - Amanhã. Agora, você e eu vamos nos divertir um pouquinho.
Vasti saiu da boate e só então se deu conta de que nem sequer havia usado o sanitário.
"Excelente! Espero que o táxi não demore...", ela falou para si mesma.
- Uma mulher como você, a essas horas e sozinha... É um tanto quanto perigoso, não é? - a voz profunda do homem a pegou de surpresa, mas ela se virou devagar para encará-lo.