Ela nunca atrasava seu despertar, mesmo aos sábados. Criara esse hábito desde que saíra da casa dos pais, que sempre a incentivaram a manter disciplina. Filha única de dois professores universitários renomados, crescera cercada de livros, música clássica e arte, mas seu maior encanto sempre foi a literatura.
Lara se espreguiçou lentamente, permitindo que o corpo acordasse aos poucos. O longo cabelo castanho-escuro se espalhava pelo travesseiro, sedoso e espesso como uma cortina de seda. Os fios caiam em ondas suaves pelas costas, alcançando a cintura com facilidade. Sua pele era de um tom alabastro, uniforme e macio como porcelana fina, um contraste encantador com os cabelos escuros.
Seu rosto possuía um equilíbrio quase etéreo: olhos azuis brilhantes, intensos como um lago sob o céu limpo, que mudavam de tom sob a luz; cílios longos que delineavam o olhar com uma suavidade natural; nariz pequeno e delicado; e lábios cheios, naturalmente rosados, que davam um ar de sensualidade mesmo quando ela não desejava.
Lara era dona de uma beleza que chamava atenção sem esforço. Desde pequena ouvira elogios, e conforme crescera, sua presença se tornara impossível de ignorar. Os homens a fitavam por mais tempo do que deveriam, e as mulheres frequentemente murmuravam sobre sua aparência, algumas fascinadas, outras apenas invejosas.
Apesar disso, Lara era discreta. Não gostava de provocar ou exibir-se, talvez porque sua essência fosse mais contida, mais interior. Estava com vinte e três anos e trabalhava como revisora numa editora pequena no centro da cidade, onde se sentia confortável rodeada de páginas, histórias e cafés quentes.
Ela não tinha muitos amigos, mas os poucos que possuía eram sinceros. Sempre preferira relações profundas às superficiais, evitando multidões e barulho. Gostava de cafés, livrarias, sebos e galerias de arte. Era o tipo de mulher que encantava sem sequer tentar.
Naquela manhã, decidiu que queria passear pelo centro histórico da cidade. Amava o charme das ruas de paralelepípedo, os casarões antigos e os pequenos negócios escondidos em vielas. Escolheu com cuidado a roupa: um vestido branco de alças finas, ajustado na cintura e solto nas pernas, que balançava a cada passo com leveza. A peça valorizava seu corpo: cintura fina, quadris delineados, e seios proporcionais, numa harmonia que saltava aos olhos sem ser vulgar.
Nos pés, calçou sandálias de tiras finas e salto baixo, e completou o visual com um chapéu de palha clara e uma bolsa transversal de couro marrom. Ela se olhou no espelho antes de sair, ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorriu de canto, satisfeita.
Ao sair de casa, não tardaram os olhares a recaírem sobre ela. Acostumada, ignorava-os com elegância, seguindo pelas calçadas arborizadas. O sol estava agradável, o céu limpo e o vento leve.
Ela caminhava despreocupada até sua cafeteria favorita, uma que ficava numa esquina charmosa, com mesas de madeira na calçada e plantas penduradas por toda parte. Pediu um cappuccino e uma fatia de bolo de limão e se sentou junto à janela, onde a luz do sol fazia seus olhos azuis parecerem ainda mais vibrantes.
Enquanto esperava, abriu um livro de poesias francesas que sempre carregava consigo. Perdia-se nas palavras, e ao seu redor, o mundo parecia desacelerar. Não percebeu que, do outro lado da rua, alguém a observava com atenção quase perigosa.
Encostado num carro preto de luxo, Matteo Romano tragava um cigarro enquanto a fitava, os olhos escuros analisando cada detalhe dela.
Matteo era um homem de presença imponente. Alto, de ombros largos, cabelo preto penteado para trás, barba curta e bem alinhada. Vestia um terno escuro impecável, que delineava seu corpo forte e musculoso. Mas o que mais chamava atenção nele eram os olhos: negros como a noite, frios, como se carregassem os pecados do mundo.
Não era o tipo de homem que passava despercebido. As pessoas se afastavam ao vê-lo passar, mesmo sem saber por quê. Era um predador elegante, um lobo que usava terno.
Matteo era o chefe de uma das famílias mafiosas mais temidas da cidade. Crescera envolto em lealdade e traição. Sua vida era um jogo constante de poder e controle, onde sentimentos eram fraquezas que não se podia permitir.
E ainda assim, lá estava ele, parado há minutos, só para observá-la. Não era a primeira vez. Ele já a tinha visto outras vezes, andando despreocupada pelas ruas, sempre elegante e delicada. Algo nela o intrigava, o atraía. Ela parecia intocável, pura demais para um homem que já tinha tantos erros nas costas.
Por isso, sempre a admirava de longe. Um envolvimento com alguém como Lara seria como arrastar uma borboleta para dentro de uma tempestade.
Mas o destino, caprichoso, parecia ter outros planos.
Lara terminou seu café e seguiu seu caminho, andando pelas ruelas onde havia lojinhas de antiguidades. Comprou um pequeno broche de prata com pedras azuis que combinavam com seus olhos. Continuou andando, distraída, segurando o objeto delicado entre os dedos.
Foi então que o inevitável aconteceu.
Num cruzamento de ruas estreitas, ela esbarrou em alguém com força inesperada. O impacto a fez tropeçar, quase caindo, e o broche escapou de suas mãos, caindo no chão.
- Me desculpe! - disse a voz masculina, firme e grave.
Lara levantou o olhar e sentiu o ar escapar dos pulmões.
À sua frente estava Matteo. De perto, era ainda mais intenso. Os olhos escuros a encaravam de cima, o rosto sério, mas com um traço de preocupação contido.
- Eu que estava distraída - ela respondeu, ajeitando o chapéu e os cabelos.
Matteo se abaixou, pegou o broche e o examinou rapidamente antes de entregá-lo.
- Está intacto. - estendeu o objeto para ela, o olhar preso nos olhos azuis de Lara.
Os dedos se tocaram brevemente, e um arrepio sutil percorreu o corpo de ambos.
- Muito obrigada... senhor...? - ela perguntou, com um sorriso tímido.
- Matteo. - respondeu após um instante.
- Prazer, Matteo. Eu sou Lara.
Ela estendeu a mão, que ele apertou de forma firme e respeitosa. O toque era quente, sólido.
Houve um breve silêncio entre eles, como se o mundo tivesse desacelerado ao redor. Matteo queria ir embora. Sabia que quanto menos tempo passasse ali, melhor seria. Mas não conseguiu.
- Permita-me compensar o esbarrão. Posso te pagar um café? - ele sugeriu, surpreendendo a si mesmo.
Lara sorriu, encantada com a gentileza vinda de alguém com aparência tão severa.
- Claro, eu adoraria.
E assim, os dois seguiram juntos até a cafeteria mais próxima, sem imaginar que aquele simples esbarrão mudaria o rumo de suas vidas.
Ela jamais imaginaria que o homem por quem começava a se interessar era dono de um coração tão sombrio quanto a noite mais densa. E ele, apesar de todo o controle, já sentia que estava cedendo ao brilho daquela mulher - e que cedo ou tarde, ela descobriria quem ele realmente era.
Mas naquele instante, tudo o que sabiam era que o destino, de alguma forma, havia decidido cruzar seus caminhos.