Divido um apartamento com uma amiga - ou melhor dizendo, com quem eu achava que era uma amiga. Também estou, ou estava, em um relacionamento. Um ano juntos. Doze meses de entrega, risadas, segredos e planos. Era nosso aniversário de namoro. Eu queria fazer uma surpresa. Queria que fosse uma noite especial... a nossa noite.
Adiantei meu trabalho, pedi folga na sexta-feira e preparei tudo: a casa, o jantar, a lingerie nova escondida no fundo da gaveta. Estava nervosa, ansiosa. Tinha decidido que era hora de me entregar por inteiro.
Mas o que encontrei quando abri a porta da minha própria casa foi um soco no estômago. Meu namorado. A minha amiga. Na minha cama. A traição escancarada como uma ferida aberta. Fiquei paralisada por um segundo. Depois veio a raiva - quente, cortante, real.
Ela tentou se justificar, como se existisse justificativa. Mandei ela sair, gritando, sem filtro. Ele veio atrás, falando coisas que não ouvi direito. Só sei que bati nele. Com força. Não me orgulho disso, mas também não me arrependo. Coloquei os dois pra fora. E fechei a porta. Sozinha.
Depois disso, fiz o que qualquer pessoa em pedaços faria: fui tomar um banho. Deixei a água cair sobre mim, como se pudesse lavar a dor, a humilhação, a decepção. Não lavou. Então me vesti, sem pensar muito, e fui para o primeiro bar que vi.
Bebi. Bebi como se estivesse tentando apagar a noite. E foi ali, entre copos e conversas tortas, que conheci ele. Um estranho. Também bêbado, também quebrado, eu acho. A gente riu de coisas que não faziam sentido. E no meio da confusão, ele me chamou pra passar a noite com ele num hotel.
Eu aceitei.
Tivemos uma noite de sexo casual. Sem compromisso, sem promessas. Só dois estranhos tentando esquecer a dor. Mas o que aconteceu no dia seguinte foi ainda mais surreal do que a noite anterior.
Ele me fez uma proposta: queria que a gente se casasse.
Sim, casamento.
Eu ri. Pensei que era uma brincadeira. Mas ele estava sério. Disse que seria apenas um contrato. Um acordo.
Antes que eu pudesse responder, meu celular tocou. Era minha mãe. A voz dela fraca, tensa. Disse que estava doente. Que precisava de ajuda.
Senti meu mundo girar de novo, mas de outro jeito. Entrei em desespero.
Foi nesse momento que ele repetiu a proposta. Disse que, como meu marido, poderia ajudar. Que tinha os recursos, o poder, a influência. E, por algum motivo que eu não compreendi na hora, ele queria fazer isso por mim.
Talvez pela minha dor. Talvez porque também quisesse escapar da própria vida.
Eu aceitei.
Nos casamos no dia seguinte. Tudo rápido, quase secreto. Um contrato com prazo de validade - era o que eu dizia pra mim mesma.
Mas a vida gosta de rir da nossa tentativa de controlar as coisas.
Na segunda-feira, entrei na empresa onde trabalho como qualquer outro dia... e quase desmaiei. Porque ele - meu marido por contrato - era o CEO. O dono de tudo. E pelo olhar dele, percebi que ele também não fazia ideia de que eu era funcionária dele.
E foi assim que tudo começou.
Meu nome é Pietro Salvatore. Tenho 28 anos e, sinceramente, já deixei de acreditar no amor há algum tempo.
A única vez que me permiti sentir algo mais profundo, a única vez que pensei em construir uma vida com alguém, fui deixado no altar. Isso muda um homem. Machuca. Endurece. Prometi a mim mesmo que nunca mais me deixaria ser vulnerável. Desde então, tenho me dedicado inteiramente ao que sei fazer melhor: liderar. Sou CEO de uma das maiores empresas do país, e levo isso com seriedade. Meu mundo é exato. Sem margem para erros. Sem espaço para sentimentos.
Sou direto quando preciso ser. Mas a verdade é que raramente digo o que estou sentindo. Prefiro o silêncio. O controle. Há quem me chame de frio... talvez com razão. Mas eu aprendi a sobreviver sendo assim.
Tudo começou a desmoronar - ou talvez a se reconstruir - quando minha mãe me chamou para conversar. E como sempre, ela foi ao ponto:
- Ou você se casa, ou deixará de ser CEO da empresa principal da família.
Confesso que a princípio pensei que ela estivesse brincando. Mas ela estava decidida. E quando minha mãe coloca algo na cabeça, não há quem a faça mudar de ideia. Ela queria "estabilidade" no topo da empresa. Alguém que representasse responsabilidade, compromisso. Família.
Absurdo, eu pensei. Mas não podia perder tudo pelo que lutei.
Naquela noite, decidi ir ao bar. Precisava sair da minha cabeça. Beber. Sentir qualquer coisa que não fosse frustração. Foi ali que a vi. Sentada no balcão, bebendo sozinha. Havia algo nela. Beleza, claro, mas também uma sombra no olhar. Dor. Fúria contida. Me aproximei, e quando ela me contou que tinha sido traída, soube que ela estava tão quebrada quanto eu.
Talvez tenha sido o álcool. Talvez o momento. Mas propus que passássemos a noite juntos. Sem nomes. Sem promessas. Apenas uma fuga.
Ela aceitou.
Foi uma noite intensa, crua, real. Pela primeira vez em anos, me permiti sentir algo, mesmo que eu não conseguisse dar nome àquilo.
No dia seguinte, ainda deitado ao lado dela, olhei para aquele rosto sereno e uma ideia começou a tomar forma. Estranha. Louca. Mas... possível.
- Case-se comigo - eu disse, num tom calmo, como se estivesse propondo um acordo comercial.
Ela riu. Achou que eu estava brincando, e quem poderia culpá-la?
Mas antes que eu pudesse explicar, o celular dela tocou. Estava no viva-voz. A mãe dela. Doente. Precisando de um tratamento caro. Desespero do outro lado da linha.
Foi aí que eu vi. Vi a chance de resolver meu problema e ajudá-la ao mesmo tempo. Fiz a proposta outra vez. Um casamento de conveniência. Eu pagaria pelo tratamento da mãe dela. Ela, por sua vez, fingiria ser minha esposa.
Ela hesitou... mas aceitou.
Organizei tudo com a precisão que me define. Em menos de 24 horas, estávamos casados. Frio? Talvez. Mas necessário. E, por algum motivo que ainda não entendo, certo.
Levamos nossas malas para minha mansão, e pela primeira vez dividi meu espaço com alguém de verdade. Achei que o choque viria depois. Mas não... ele veio na segunda-feira.
Assumi meu cargo na matriz, como novo CEO, e logo cedo me sentei na sala de reuniões esperando minha equipe. Foi quando ela entrou.
Minha esposa. Minha nova secretária pessoal.
Ficamos os dois em choque. Ela não sabia que eu era o CEO da empresa onde trabalhava. E eu, sinceramente, não fazia ideia de que tinha me casado com alguém da minha própria equipe.
O silêncio entre nós foi constrangedor. Mas olhei nos olhos dela e vi algo diferente. Admiração. Medo. Confusão. Tudo misturado.
Decidi naquele instante que a protegeria. Não como chefe. Mas como homem.
Com o tempo, criamos algo novo. Não era amor. Ainda não. Mas era amizade. Respeito. Lealdade. Dois estranhos que, por motivos diferentes, tinham desistido de sentir - e que, aos poucos, estavam aprendendo a se reconstruir juntos.
E pela primeira vez em muito tempo... eu quis tentar.