Acordo com o cheiro a queimado, grávida de nove meses, e o prédio está em chamas.
Com a minha mãe, ficamos presas no 12º andar, o fogo a bloquear a saída.
O meu marido, Leo, está lá em baixo.
Clamo por ajuda ao telefone, e ele promete que vem nos salvar, instruindo-nos a ir para a varanda.
Mas, do nada, ouço a voz da sua meia-irmã Sofia, em pânico total.
Leo hesita apenas um segundo antes de me dizer que Sofia está mais perto do fogo e que precisa dele primeiro.
E desliga.
Abandonada à sorte, espero, enquanto o fumo e o calor nos sufocam.
Quando os bombeiros finalmente chegam, é tarde demais.
No hospital, a verdade cruel: a minha barriga está lisa.
O fumo e o stress provocaram um descolamento da placenta, e eu perdi o meu bebé.
Leo aparece, não com remorso, mas com desculpas esfarrapadas, culpando a minha "falta de calma" e defendendo a sua "escolha heroica".
O meu sogro e a própria Sofia, que ele salvou, juntam-se ao coro, tentando virar a culpa contra mim.
Como pôde o pai do meu filho, o homem que jurei amar, ter-nos abandonado num incêndio, levando à morte do nosso bebé?
Como podem acusar-me de uma tragédia que a escolha dele causou?
A dor dilacera-me, a raiva incendeia-me, mas no meio das cinzas do meu luto, uma decisão inabalável nasce.
Olho-o nos olhos e, com voz firme, sentencio: "Quero o divórcio."
Nenhuma chantagem ou manipulação me impedirá de arrancar este pesadelo da minha vida.
Esta é a minha revanche.