- Nesse caso, não cometa nenhuma loucura. Você começou a organizar sua vida financeira há pouco tempo e ainda deve horrores na faculdade.
- Nem quero pensar no que devo, senão nem saio de casa. Aliás, sairia apenas para trabalhar. Triste vida de sofredora.
- Se for pensar assim, nem eu saio. Duro ser pobre, miga.
- Por isso mesmo que vou investir nessa viagem.
"Vou reaver o meu namoro com o Marcos, sinto que ele está ficando distante. Para salvar nosso romance, vou comprar em doze suaves prestações o pacote de viagem para esse cruzeiro de luxo que ele tanto falou. É um sonho dele, e se ele for comigo, será inesquecível! Nessa viagem, pretendo dar um grande passo no nosso romance de dois anos."
Uma hora depois...
- Janete, finalmente consegui! Comprei as passagens para o cruzeiro pelo Caribe. O Marcos vai adorar. Afinal, ele disse que voltaríamos a namorar como antes se eu desse este presente para ele.
- Alice, pelo seu bem, você deveria ter cuidado com o que faz pelos outros. Você não é a empregada dele. Pelo que vejo, parece que ele só quer te explorar.
- Não, amiga, sei que ele me ama. Já namoramos há quase dois anos e eu nunca quis dar um passo além no nosso relacionamento.
- Ele deveria respeitar a sua decisão! Fazer sexo só porque o seu namorado decidiu, deveria ser fora de questão.
- Você sabe. Os homens se interessam muito por sexo. Não posso me considerar moderna se não conseguir fazer isso pelo meu namorado.
- Pelo seu namorado? Tinha que ser porque você quer, Alice! Aquele homem não parece ser honesto o suficiente. Ele não te valoriza, e dormir com ele não vai mudar em nada o que ele sente por você.
- Ele é diferente, sei que é. Só que está passando por uma fase que nem consegue um contrato de jogador de futebol. Precisa mesmo espairecer e de minha ajuda.
- Ninguém muda sentimentos por receber ajuda ou porque fez algo por uma pessoa que não gosta de verdade. – Janete suspirou.
- Vai ver, amiga, nós vamos reatar. É só eu ceder ao que o Marcos quer, sinto que ele vai amolecer o coração. – Alice sorriu.
- Alice, aquele lá não parece ser do tipo romântico, talvez só você pense isso. Está parecendo algo unilateral, um romance que o cara se aproveita dos seus sentimentos e não apenas isso.
- Amiga, tenho que voltar a trabalhar. Ainda tenho muito trabalho para digitar. As pessoas pedem, sabe que não sei dizer não.
- Alice, o seu trabalho já terminou faz tempo! Esqueça os pedidos que só favorecem os colegas. Eles são uns aproveitadores.
- Tenho que fazer as coisas que me pediram. Senão, eles acabam ficando chateados quando furo com eles. Principalmente se o trabalho acumular.
- Alice, você se esforça demais pelas pessoas erradas!
- Sabe que só vou ficar bem se ajudar os meus companheiros de trabalho.
- Nunca vou te entender, Alice. Tente ser menos obediente, busque fazer algo mais rebelde. Se solta mulher! – Ela tocou no ombro da amiga.
- Simplesmente não consigo!
- Tente pelo menos começar.
- Não, Janete, sou mole quando se trata de ajudar os outros. Sinto um peso na consciência.
- Bom, Liz, já estou indo, e você deveria fazer exatamente o mesmo.
- Prometo que fico apenas um pouco mais.
--- Centro comercial de Vitória da Encosta, Empresa da Nóbrega. ---
- Tadeu, então o que me diz? Podemos vender a ilha ainda nesta semana?
- Senhor Diego, lá mora uma pequena população que vive da pesca de peixes, ostras e outros frutos do mar. As pessoas precisam do trabalho para sobreviver.
- Sei que é um homem decidido, senhor Diego, que não costuma mudar de ideia tão fácil.
- Não me interessa se isso que chamam de ilha não me der lucro. Não sou bonzinho assim, a ponto de fazer caridade para um grupo de pessoas que eu nem conheço.
- Claro, o senhor é quem manda. - "Esse deve se achar só porque tem cabelos castanhos escuros e olhos acinzentados, é forte, com aproximadamente 1.90 m de altura e é podre de rico?"
- Marque uma reunião o mais rápido possível, máximo até a próxima semana. Seja lá onde for que os empresários estiverem, vou atrás deles. Não gosto de negócios que não me rendam bons frutos.
Ele olhou sério.
- Deve ser por isso que está podre de rico.
- Eu não ouvi você falar nada disso, Tadeu. Escutei?!
- Não, senhor. - "Ainda bem que não escuta pensamentos."
- Jeremias, se mais algum de vocês achar que não conseguirei vender aquele pedaço de terra, que saia daqui agora, peça demissão e procure outro emprego. Não quero nenhum pensamento contrário ao que tenho. – Disse o encarando.
- Entendido, senhor! – Todos responderam.
- Senhor Diego, já que o senhor insiste, irei procurar um comprador para aquela bendita ilha o mais rápido possível.
- É assim que se fala. – Bateu na mesa. - E sei muito bem que é petulante, Tadeu. Seu olhar diz o que pensa sobre mim. Se controle, homem.
"Será que esse homem tem mesmo esse poder de saber o que penso, apenas pelo meu olhar!? Não se tivesse escutado eu estaria demitido."
- Não pensei nada, senhor!
- Melhor assim. Se não tiver satisfeito, já sabe.
--- Minutos depois, no escritório da Biogás da Nóbrega. ---
- Senhor, parece que um grupo de empresários interessado pela tal ilha estará em um cruzeiro pelo Caribe na próxima semana.
- Então, Jeremias, trate de comprar as minhas passagens e uma extra para a Clara, de primeira classe. – Ele sorriu. - Vou aproveitar para fazer mais um pedido de noivado.
- Claro, senhor!
- E, de quebra, oferecer aquela ilha sem graça por um bom preço.
"Minha linda namorada tem a pele tão clara, o que combina com seu nome, Clara. Seus lindos cabelos castanhos levemente ondulados, com aproximadamente 1.60 m de altura, e é magra, com tudo no lugar. Ela é maravilhosa."
- O senhor está pensando nela mais uma vez?
- O que disse, Tadeu?
- Seu olhar e o leve sorriso.
- Não se meta na minha vida!
- Mas, senhor, este será o terceiro pedido. Se contar somente os deste ano.
- Quem se importa com isso? Se precisar, pedirei Clara em casamento por uma vida inteira. Sabe que a amo!
- A sua avó, Gorete, já não aguenta mais de tanto esperar.
- Tadeu, se tudo der certo, e tenho quase certeza que vai, semana que vem estarei finalmente noivo da Clara, e minha avó não terá do que reclamar. Nem que demore a ter filhos.
- A não ser pelo fato de que ela não terá um bisneto.
- Nem me lembre disso. Mesmo assim, posso protelar com o casamento.
- Claro que pode, senhor. – Tadeu disse com um leve sorriso.
- Olhe, homem. Não senti firmeza em suas palavras.
- É que a sua avó quer que o senhor se case porque quer ter um bisneto antes de fazer 80 anos, e isso já é para ano que vem. - "Em resumo, esse cara vai descontar em mim se tudo der errado! Tomara que saia logo esse bendito noivado!"
- Por que cargas d'água eu sou filho único e sem primos? Essas bobagens só sobram para mim.
- Ela quer o tal herdeiro, senhor!
- Esse assunto já deu. Vai logo aos afazeres que tenho que conseguir organizar meu mais novo pedido de noivado. Quero que tudo ocorra perfeitamente e Clara não me recuse mais uma vez.
- Já acionei a equipe. Tem pelo menos 10 pessoas envolvidas só para organizar tudo, antes de entrarmos no cruzeiro senhor.
- Jeremias e Tadeu, não economizem nesse navio. Comprem o que precisar e preparem tudo do melhor. Escutem com atenção: não vou economizar gastos.
"Mais uma vez, está metido a besta. Para que esbanjar tanto dinheiro?" – Tadeu pensou.
- Que olhar é esse, Tadeu? – Diego resmungou.
- Nada, senhor. Estava pensando apenas que é romântico. – Ele sorriu falso.
- Está querendo dizer alguma coisa?
- Apenas que vou providenciar tudo. Não é Jeremias?
- Claro!
- Estou achando que dou muita liberdade para vocês dois.
--- Enquanto isso, em um escritório perto dali, no centro da cidade. ---
- Não acredito que já passou das 20 da noite e eu estou aqui sozinha, trabalhando para terminar um serviço que nem é meu! Por que eu aceitei? Infelizmente, nem sei por que sou tão boba. Depois, ainda tenho que correr contra o tempo para arrumar minhas malas!
- Vou ligar para o Marcos para matar a saudade. – Alice esboçou um sorriso.
"Meu Marcos é um homem perfeito, magro, com 1.85 m de altura, cabelos castanhos e olhos esverdeados. Meu mais lindo romance!"
--- Início da ligação. ---
- Alô, amor! Está com saudades de mim?
- Ei, Alice, estou com fome. Não tem nada pra comer nesse seu apartamento.
- Me desculpe, é que estou sobrecarga de trabalho e não tive tempo de comprar nada.
- Quando vier, pode trazer um sanduba com refrigerante?
- Claro! Meu amor.
- Vai demorar? Não poderia pedir? Sabe que gosto de ser servido pela minha mulher.
- Vou demorar pelo menos uma hora!
- Tudo bem, aguardo.
- Já arrumou as suas coisas?
- Não, isso também vou deixar passar. Você é a melhor no papel de empregada, minha magrelinha.
- Poxa! Vou chegar cansada e você, que está o dia todo aí, nem ao menos...
- Vou desligar, estou vendo futebol e meu time está ganhando.
- Marcos! Me escute...
--- Fim da ligação. ---