Nara Ferrari
Nara Ferrari
A raiva é algo que não consigo evitar, é tudo muito injusto, o trabalho deveria ter saído perfeito se não fosse pelo idiota do Kleber. Uma nota baixa logo no começo do ano? Pior, uma nota baixa no currículo escolar de Nara Ferrari? Não pode acontecer, não quando estudei e sei que mereço uma nota melhor. É o cúmulo ter meu currículo manchado por culpa de outra pessoa.
Sair da sala e não olho para trás é o mínimo ou mato aquele imbecil.
- Nara, você precisa se acalmar... - Sasha, minha amiga, vem atrás de mim.
- Não tem como, Sasha.
Aperto minha pasta com força contra o corpo. É preciso me lembrar que o MacBook está ali dentro, não vou ficar querendo as minhas coisas. Mas nada me impede de acertar a cabeça Kleber caso tenha uma oportunidade.
- Amiga, estamos no começo do ano. - Tenta me confortar. - Recuperar essa nota será fácil para você.
E seria mesmo. Mas me dá raiva porque me empenho para ser a melhor, entregar o melhor que posso e vem uma pessoa que não quer nada da vida e apenas gastar o dinheiro dos pais. Acaba atrapalhando o meu progresso e de quem quer algo a mais.
Dinheiro não é problema, minha mãe nos garantiu uma vida tranquila ao casar com Anthony Ferrari. Um homem maravilhoso que nos ama e não cansa de nos mimar, mas nem por isso fico na aba dos meus pais. A minha vergonha seria de ter que pagar além da mensalidade um valor a mais para não ser reprovada. Ah, não, essa vergonha não dou a eles.
Nem pensar!
- Ele me paga. - Rosno.
Faço faculdade de ciências contábeis, fala sobre dinheiro, é muito bom. E logo estarei pronta para os negócios. Sasha continua falando, querendo me acalmar, passamos pelos corredores e ela entra em um novo assunto.
- Amanhã teremos palestra daquele bonitão. - Ela ri. - Quero dizer do Henry Sanchez. Amiga, essa informação, tem que te animar.
Sasha está falando de um figurão bilionário da cidade, são famosos pela riqueza que possuiu, fácil de saber pelos negócios que tem, mais difícil de saber sobre eles em relação ao assunto pessoal. E nesse momento é quando menos quero saber, Kleber está muito enganado se pensa que deixarei essa vergonha passar.
- Ele é alto, sério e cabelos bem pretos e macios. - Sasha continua falando, suspirando sonhadora. - Bem, parece ser macios. - Sorri, envergonhada. - Nunca passei a mão em seus cabelos, mas um dia fui em um jantar que ele estava, sabia? E sei que é muito cheiroso.
Agito a mão no ar, cansada de ouvir sobre sua paixonite por esse homem.
- Ok, Sasha! Preciso ir agora. Talvez mais tarde continue me contando sobre esse homem aí...
Estou irritada demais para ver as outras aulas, é melhor ir para casa. Me apresso para virar no corredor e não dar espaço para Sasha continuar falando, mas não sai nada como meu plano. Porque ao virar no corredor, meu corpo se choca contra outra pessoa e acabo caindo no chão. Solto um grito curto e agudo, fechando meus olhos. Aí meu bumbum.
- Nara! Você está... - Sasha para de fala.
Abro meus olhos, olhando para a muralha que me jogou no chão. Seu maxilar firme se contrai sob um semblante muito sério, meu corpo todo se arrepia. O homem com as mesmas descrições feitas pela Sasha segundos atrás sabe colocar medo em alguém com um simples olhar. Porém, ver ele pessoalmente, minha amiga poupou muitos detalhes. É lindo e forte, mal-encarado com aquele maxilar firme.
Ele respira fundo, parecendo se controlar e abaixando para pegar minha pasta.
- Não olha para onde anda?! - Questiono, ele deveria estar me ajudando a levantar.
É bonito, mas cavalheirismo zero.
Seus olhos se estreitam, mas sua resposta não é imediata. Olhos castanhos escuros ficam presos em mim, tempo suficiente definido por ele.
- Cuidado como fala comigo, garota.
Garota?! Sou Nara Ferrari e é ele que tem que tomar cuidado.
- Desculpe, Sr. Sanchez. - Sasha diz apressada e me ajuda a levantar. - Minha amiga não quis falar...
- Quis sim. - Rebato, arrumando a roupa em meu corpo.
A minha raiva pelo Kleber está sendo mais forte, ser jogada no chão não é nada elegante. Talvez em outro momento poderia considerar não arranjar briga com esse homem. Porém, estou estressada e vou descontar raiva nele sim.
- Não deveria derrubar uma mulher jovial e...
- Louca? - Inclina a cabeça para o lado. - Não vou perder meu tempo com você, garota. - Faz questão de repetir a última palavra lentamente.
Ele percebeu que não havia gostado antes e agora menos ainda. Ergue a pasta em minha direção, também não vou perder meu tempo com ele. Mas é porque sou eu que não quero. Quando vou pegar ele solta a minha pasta no chão e dessa vez fazendo um barulho maior. Arregalo meus olhos, ele não fez isso! Cretino! Se meu notebook não quebrou antes, agora com certeza quebrou.
Henry Sanchez arruma o terno no corpo e passa por nós pouco se importando com o que acabou de fazer.
Aperto minhas mãos em punhos e me viro para xingá-lo. Sasha é rápida em colocar a mão na minha boca e me dando a chance de vê-lo ir embora com seu andar superior.
Idiota! Idiota! Homens são idiotas, é o que queria gritar com ele.
[...]
Ouço batidas na porta. Mais cedo pedi para que Helena, minha mãe, me deixasse sozinha e passei o resto da tarde no meu quarto. A maior parte do tempo foi estudando, não me considero nerd, entendo que preciso estar atualizada. Como o trabalho hoje foi em grupo a nota acabou sendo péssima, posso culpar Kleber facilmente, mas tinha outros no grupo que não ajudou em nada.
Detalhes: passei para cada um o que tinham que falar. Uma cópia e cola fácil e rápido, nem isso souberam fazer.
Não há uma cobrança na parte dos meus pais, mas sou uma pessoa ambiciosa com meus desejos para conquistar. Tenho 21 anos, uma mulher negra na flor da idade e rica. Muito rica. Quero ser tão bem sucedida como meus pais são.
A porta é aberta e Anthony aparece, sorrindo. Ele entra e fecha a porta.
- Posso saber por que minha florzinha não sai desse quarto?
Sorri com o apelido e o jeito de me tratar, não tem como segui estressada com Anthony perto. Afasto os livros dando espaço para que sente ao meu lado.
- Teve um dia difícil, querida? - Beija minha testa e passa o braço pelo meu ombro.
Me deixo ser acolhida por ele. Anthony é o melhor pai do mundo, ele me chama de florzinha, porque quando nos conhecemos era muito quieta e com o tempo floresci como ele mesmo diz. Não vejo meu pai biológico desde dos meus 12 anos, meus pais eram separados desde que nasci, só via meu pai quando ele queria. Dá para contar nos dedos.
Anthony chegou na minha vida quando tinha 13 anos e foi a melhor coisa que me aconteceu.
- Sim, mas vai se resolver.
- Quer me contar o que aconteceu?
- Nada de mais. - O tranquilizo. - Apenas mais um dia precisando dar o melhor de mim para pessoas que... poderiam ser extintas do mundo.
Anthony rir.
Sasha está certa, a nota pode ser recuperada. Agora aquele Henry Sanchez? Não quero Anthony se estressando com aquele ogro e sem cavalheirismo, amanhã passo no shopping e compro um notebook novo. Só quero esquecer o acontecido de hoje.
- Você é maravilhosa, meu amor.
- Eu sei. - Olho para ele, entendo muito bem. - As pessoas que não enxergam isso, pai.
Ele sorri mais e aperta minha bochecha.
- Logo vão ver, porque claramente o problema está nessas pessoas.
- Sim! - Praticamente grito de excitação.
Apenas Helena e Anthony realmente me entendem.
- Não demore muito, logo vamos jantar. - Se levanta. - Teremos cupcakes de sobremesa.
Fico mais animada, ele sabe que amo cupcakes. Após jantar com meus pais, me rendo ao sono, mas não sem antes fazer uma boa limpeza de rosto. No dia seguinte teria aulas na parte da tarde na faculdade, aproveito o tempo para passar no shopping e comprar um nono notebook. Me arrumo rapidinho, infelizmente não poderia aproveitar uma carona com meus pais saíram logo depois do café da manhã.
Na sala, um funcionário se aproxima com uma caixa grande em mãos.
- Encomenda para meu pai? - Pergunto a ele.
- Não, senhorita. É para você.
Estranho, pego o cartão, agradecendo e peço que deixe no sofá enquanto vejo no cartão quem havia entregado. Mas essas coisa só ficam mais estranhas, porque no cartão havia somente as iniciais "HS". Minha curiosidade aumenta e não penso duas vezes em abrir a caixa, havia um MacBook, o último lançamento da marca da Apple.
Ergo uma sobrancelha com um sorriso surgindo em meus lábios.
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