No meu funeral, a verdade veio à tona. Seu irmão, Gabriel, revelou as mentiras de Alessandra e a minha inocência. O arrependimento o consumiu, mas era tarde demais.
Eu não entendia por que meu amor e lealdade foram trocados por tanto ódio e desprezo. Por que ele escolheu acreditar nela e não em mim?
Mas, quando abri os olhos novamente, eu não estava mais morta. Eu renasci em um novo mundo, curada e livre, ao lado da única pessoa que sempre esteve comigo.
Capítulo 1
Os médicos me deram uma semana. Uma semana para morrer.
Uma enfermeira com olhos cansados me ajudou a sair da cama dura do hospital. Eu senti o chão frio sob meus pés descalços.
"Devo ligar para seu marido, Sra. De Pinho?", perguntou ela, a voz monótona.
Eu balancei a cabeça. Não.
Meu corpo estava fraco, mas minha voz era firme.
"Não se incomode."
Eu não queria que ele soubesse. Não queria que ele visse a ruína que eu havia me tornado. Não queria que ele tivesse mais motivos para me desprezar.
Danilo já tinha me abandonado uma vez.
Foi há apenas alguns dias, mas parecia uma eternidade. Eu estava no mesmo hospital, mas em uma cama diferente. Meu corpo estava queimando, minha cabeça latejando. A toxina rara, vinda de uma planta, já estava agindo.
A enfermeira havia me informado que Danilo estava lá. Ele tinha chegado pouco depois de eu ter sido trazida às pressas, desmaiada, após o ataque.
Eu me agarrei à esperança de que, talvez, ele se importasse.
Mas então, o telefone tocou. Era Alessandra, sua ex-namorada, de volta.
Ele saiu correndo do quarto sem olhar para trás.
Eu não o vi novamente no hospital.
Ninguém viu.
Apenas alguns dias antes, eu tinha sido atacada no caminho para a farmácia da família. Rivais de negócios. Isso era o que a polícia dizia.
Eu me arrastei para casa, sangrando e mal conseguindo respirar. A dor era insuportável.
Liguei para o telefone dele, mas ele não atendeu. Tentei de novo, de novo. Nada.
Naquela manhã, o telefone tocou. Eu atendi, esperando ouvir sua voz preocupada, talvez um pedido de desculpas.
Mas era a voz dele, fria e sem emoção.
"Heloísa", ele disse. "Quero o divórcio."
Minhas mãos tremeram.
Eu voltei para casa naquele dia, tropeçando em meus próprios pés. Minha cabeça girava, meu corpo doía. A porta da frente estava aberta.
O cheiro de um perfume caro, mas enjoativo, preenchia o ar. O perfume de Alessandra.
A bile subiu pela minha garganta. Minhas feridas internas queimavam. Eu sabia que ele estava lá. Com ela.
Na sala, Danilo estava sentado no sofá, Alessandra ao seu lado. Seus olhos, antes tão frios, agora estavam cheios de um calor que eu nunca recebi.
Ele olhou para mim com desgosto.
"Então, você está fingindo uma doença agora?", ele perguntou, a voz cheia de escárnio.
Eu tentei falar, mas minha garganta estava seca.
"Eu... estou envenenada...", eu consegui sussurrar.
Ele riu. Uma risada fria e sem humor.
"Envenenada? Onde está a prova? Você parece perfeitamente bem para mim."
Meu corpo estava em chamas por dentro, mas por fora, eu parecia normal. A toxina era insidiosa.
"Os médicos... eles não sabem que tipo de veneno é."
"Claro que não", ele zombou. "Sempre uma desculpa, não é, Heloísa? Três anos. Três anos de mentiras e manipulação."
Ele se levantou, a figura imponente projetando uma sombra sobre mim.
"Eu já aguentei o suficiente. Quero você fora desta casa. Fora da minha vida."
Uma dor aguda perfurou meu peito. Eu cambaleei.
"Ah, não comece com o drama", ele disse, seus olhos revirando. "Seu show não me engana mais."
Eu me agarrei à parede, tentando manter o equilíbrio. Meu orgulho me lembrava que eu não podia cair na frente dele. Eu tinha que manter minha dignidade, pelo menos.
"Tudo bem", eu disse, minha voz um fio. "Eu aceito o divórcio."
Minhas pernas cederam. Eu caí no chão.
Por um breve momento, vi um flash de algo em seus olhos. Mas desapareceu tão rápido quanto surgiu. Ele se recompôs.
"Esta é a sua chance, Heloísa", ele disse, sua voz dura. "Pelo que você fez, por ter me roubado da Alessandra, por ter forçado este casamento ridículo... você merecia muito pior. Mas eu estou sendo generoso."
Meu coração pesava.
"Danilo, você ainda está com raiva por algo que não aconteceu?", eu perguntei, sentindo um cansaço profundo.
"Você nunca será perdoada. Nunca."
Ele se virou e saiu, batendo a porta com força.
A dor me engoliu. Eu senti cada célula do meu corpo se desligar. A escuridão veio, suave e convidativa.
Eu acordei com o cheiro de antisséptico. Luzes brancas me cegaram. Eu estava de volta ao hospital.
Um rosto familiar estava curvado sobre mim. Gabriel, o irmão mais novo de Danilo. Ele parecia exausto.
"Heloísa? Você acordou!", ele disse, um alívio em sua voz.
Eu tentei sentar, gemendo. "Estou bem, Gabriel. Apenas... um pouco cansada."
Ele balançou a cabeça, os olhos cheios de tristeza. "Não, você não está. Os médicos disseram que o veneno é tão raro que eles não têm antídoto. Você tem no máximo uma semana antes que seu coração pare de funcionar."
Uma semana.
Eu olhei para o teto branco. "Então, eu tenho uma semana, não é?"
A voz dele estava hesitante. "Danilo sabe? Ele... onde ele está?"
Eu ri, um som oco. "Danilo? Ele já partiu. Nossa relação acabou antes mesmo de eu desmaiar."
Gabriel empalideceu. "Acabou? O que você quer dizer?"
"Exatamente isso. Ele pediu o divórcio. Eu aceitei. Ele não tem mais nada a ver comigo."
Seus olhos se arregalaram. "Mas... isso é insano! Pelo seu estado, essa notícia pode ser fatal!"
Ele se levantou, os punhos cerrados. "Eu vou falar com ele. Ele precisa saber a verdade! Ele precisa te ajudar!"
"Não, Gabriel!" Uma força repentina me impulsionou. Eu segurei seu braço. "Não vale a pena. Eu não quero mais ser um obstáculo entre ele e Alessandra."
Ele rosnou o nome dela. "Aquela... aquela mulher! Você não sabe a verdade sobre ela, Heloísa!"
Eu o interrompi. "Não importa, Gabriel. Deixe o passado no passado."