Com um suspiro, me voltei para Teresa e comecei: "Eu só estava..."
"Ah, sim, você só estava olhando ao redor e, por coincidência, seus olhos caíram bem nele", comentou ela, rindo.
Reprimi um sorriso e desviei o olhar.
Teresa era minha confidente. Conhecia cada detalhe da minha vida.
"Sendo a filha do Beta desta matilha, ele não pode te ignorar para sempre", ela falou, como se fosse óbvio.
Neguei rapidamente com a cabeça. "Não quero que ele me veja como a filha do Beta do pai dele, mas sim como uma garota normal."
"Você é linda, Allison. Tenho certeza de que, eventualmente, ele se apaixonará por você. E se não se apaixonar, juro que quebro o pescoço dele..."
"Shh. Ele pode ouvir!", sussurrei, cobrindo a boca da minha amiga com a mão.
Logo, o sinal da próxima aula tocou, e seguimos para a sala.
Seria uma aula de Marketing de Marca, uma das poucas disciplinas onde veteranos e calouros podiam dividir o mesmo espaço.
Estávamos esperando do lado de fora da sala quando avistei Ethan se aproximando.
Meu coração disparou, e segurei a respiração, torcendo para entrarmos juntos e, quem sabe, conseguirmos nos sentar lado a lado.
Me preparei para entrar na sala quando, de repente, senti alguém esbarrar em mim pelo lado direito, me jogando direto contra Ethan.
Ele agarrou minha cintura rapidamente, me segurando firme para me colocar de pé. Senti suas mãos fortes e veias marcadas nos braços ao meu redor. O calor do corpo dele me envolveu por completo, quase o suficiente para me fazer desmaiar.
Minha atenção se prendeu à sua testa lisa, com uma franja leve caindo de lado, seu nariz bem definido e os olhos escuros e intensos.
"Você está bem?"
Eu o ouvi claramente, mas só então percebi que estava encarando seus traços marcantes.
Ethan estava cursando o quarto ano na nossa Universidade de Moonlight.
Eu, por outro lado, ainda era uma caloura.
Todos ao redor pararam para nos observar.
Recuei um passo e limpei a garganta antes de responder com timidez: "S-sim, obrigada."
Com isso, ele apenas assentiu e seguiu para dentro da sala.
Notei o olhar furioso de algumas garotas. Todas eram completamente obcecadas por Ethan. Para elas, ele era o garoto mais bonito que já tinham visto e, além disso, era o futuro Alfa da matilha.
Mas meu sentimento por Ethan não tinha a ver com sua aparência ou atitude. Eu gostava dele porque, tempos atrás, ele havia salvado minha vida quando eu corria perigo. Se não fosse por ele, quem sabe o que poderia ter acontecido comigo?
"O que foi isso?", ouvi Teresa sussurrar ao meu lado.
Me virei rapidamente e dei um leve soco no braço dela.
"Ai! Eu estava esperando um beijo na bochecha de você, não um empurrão!"
Teresa sempre tentava me aproximar de Ethan, assim como tinha acabado de me empurrar em direção a ele instantes atrás.
"Ele poderia ter ficado bravo. Então não faça mais isso, Teresa, por favor."
Ela soltou um suspiro dramático e revirou os olhos. "Desse jeito, você nunca vai conquistar o coração dele."
Soltei uma risada e entrelacei meu braço com o dela enquanto caminhávamos para dentro da sala.
O espaço estava completamente cheio. Procurei por algum lugar vazio e encontrei algumas cadeiras disponíveis. Mas infelizmente, nenhuma era próxima de Ethan.
Por fim, tivemos que seguir para os assentos vagos, bem distantes dele.
Logo, o professor entrou e deu início à aula.
"Prezados alunos, hoje falaremos sobre como escolher o patrocinador ideal para o seu produto. É fundamental saber quem melhor representa aquilo que vocês querem transmitir."
Eu mantinha o foco na aula e sempre prestava muita atenção, pois estava determinada a ter um bom desempenho e encher meus pais de orgulho.
"O Alfa Ethan é o rosto da nossa instituição. Somos extremamente sortudos por tê-lo entre nós", comentou o professor.
Todos os olhares, inclusive o meu, se voltaram para Ethan.
Com o cenho franzido, ele se apressou em corrigi-lo: "Ethan."
O professor ficou visivelmente confuso com a interrupção.
"D-desculpe?"
"Pode me chamar apenas de Ethan."
"Ah, claro, claro. Será uma honra", respondeu o professor, sorrindo.
A turma toda se esforçava para não cair na risada.
"Pronto, começou a bajulação. Ninguém aqui perde uma chance de puxar o saco dele", murmurou Teresa, revirando os olhos.
Não consegui conter uma risada depois do comentário dela. Olhei para Ethan, que parecia concentrado em seu livro. Mas ao observá-lo atentamente, dava para perceber que sua mente estava em outro lugar.
Ele sempre era discreto e reservado. Nos conhecíamos desde pequenos. Além de meu pai ser o Beta do pai dele, os dois também eram melhores amigos.
Mas havia uma história complicada por trás. Ethan não era filho do atual Alfa, Neil Iversen, e sim do irmão dele, Evan Iversen.
Infelizmente, ele perdera os pais aos cinco anos. Foi então que o Alfa Neil o acolheu e passou a criá-lo como parte da família.
Muitos diziam que Ethan era a sombra do Alfa Neil, alguém moldado para assumir a liderança da matilha no futuro.
Mas havia outro detalhe importante.
O Alfa Neil tinha um filho biológico. Ele e Ethan tinham a mesma idade.
Todos sabiam que a relação entre Neil e seu filho, Ryan Iversen, era bastante complicada.
Ryan também era alguém com quem eu tinha certa familiaridade. Porém, não o via desde os meus onze anos. Já havia se passado quase oito anos desde que seu pai o mandara estudar fora.
"Você vai hoje à noite?"
Deixando meus devaneios de lado e percebendo que era Teresa quem falava, respondi: "O quê?"
"Ryan Iversen está retornando hoje. Os veteranos estão organizando uma festa de boas-vindas para ele."
Com o cenho franzido, comentei: "Mas ele nem é aluno da nossa universidade."
"Ele vai se matricular aqui", disse uma garota sentada à nossa frente.
"Vimos quatro guerreiros da matilha vindo falar com o decano hoje, e um dos professores comentou com os meninos que Ryan será nosso novo aluno transferido."
"Entendi", murmurei.
Ryan não era como Ethan. Na verdade, eles eram completamente diferentes. Quando éramos crianças, eu só me lembrava dele se irritando com todos.
"Você vai comigo?", indagou Teresa.
"Não."
"Reflita sobre isso. Ethan certamente estará lá."
Dei uma olhada de longe em Ethan e soltei um suspiro. Agora, ele parecia concentrado no celular.
Depois do fim das aulas, Teresa me deixou em casa, já que meu endereço ficava no trajeto dela.
Quando entrei, percebi que a casa estava vazia. Então peguei o celular e liguei para minha mãe.
No instante em que ela atendeu, perguntei: "Mãe? Onde você está?"
"Já chegou, querida? Imagino que esteja com fome. Olha na cozinha, eu deixei o almoço pronto antes de ir para a casa da matilha."
"A casa da matilha? O que foi fazer lá?"
"Ryan volta hoje, lembra? A Luna Elena me ligou pedindo ajuda para preparar os pratos preferidos do filho. Você sabe como Ryan adorava minha comida quando era pequeno."
"Está bem, mãe", respondi antes de encerrar a chamada.
Minha mãe nutria um carinho especial por Ethan e Ryan. Além disso, ela também era amiga próxima de Luna Elena, o que fazia de nossas famílias bastante unidas. Estávamos sempre presentes em todas as reuniões e comemorações.
Por fim, segui para o meu quarto e tomei um banho relaxante. Depois, almocei mais tarde do que o habitual.
No início da noite, Teresa apareceu em minha casa.
Eu estava vestida de maneira simples: jeans azul, uma camisa preta folgada e o cabelo amarrado em um rabo de cavalo alto.
Não queria, de forma alguma, chamar atenção.
"Vamos", falei para Teresa.
Entramos no carro dela e seguimos até o clube onde os veteranos haviam organizado a festa.
Assim que chegamos, entrei no local e fui imediatamente atingida pelo cheiro de fumaça e pelo som alto da música. Nunca tinha pisado em um lugar assim antes, então tudo era uma novidade para mim.
"Vamos beber alguma coisa", sugeriu Teresa, me puxando pela mão.
Notei que praticamente todos os alunos mais populares da universidade estavam ali.
De repente, meus olhos encontraram Ethan, que conversava com alguém.
"Já volto", falei para Teresa antes de começar a caminhar na direção dele.
Não éramos desconhecidos, afinal, nossas famílias tinham laços próximos.
Aproximei-me devagar, parando logo atrás dele.
"Ethan."
Ele se virou e olhou para mim.
Sorri timidamente, mas logo vi Julie, sua ex-namorada, parada bem à frente dele.
"Sim?", respondeu ele.
Eu não sabia exatamente o que dizer ou como iniciar uma conversa, então apenas murmurei: "O-oi."
Em resposta, ele somente acenou com a cabeça e se virou de volta, sem dizer mais nada.
Com isso, recuei um passo, mas ainda consegui ouvir a voz da garota.
"Você conhece ela?"
"Hmm."
"Mas é alguém com quem você poderia..."
"Ela não é meu tipo."
Ouvi claramente a resposta dele.
Será que ele sabia que eu ainda estava ali?
Como podia dizer algo assim?
Eu não era o tipo dele?
Mas por quê?
Senti meus punhos se fecharem com força. Meus olhos começaram a lacrimejar, e o brilho das lágrimas tornou minha visão turva.
Uma espécie de névoa encobriu minha visão, enquanto eu recuava alguns passos, desnorteada.
Neste momento, minhas costas subitamente bateram contra um peito firme e sólido.
Virei-me rapidamente, mas não consegui distinguir nada de imediato por causa das lágrimas.
Pisquei algumas vezes, tentando limpar a visão embaçada.
Logo, um par de olhos negros fixou-se nos meus.
Meu olhar subiu, explorando seus traços marcantes.
Cabelos pretos, mandíbula bem definida, sobrancelhas espessas e uma pele clara e impecável.
Notei seus olhos descendo, examinando discretamente minhas roupas antes de retornarem ao meu rosto.
Foi então que escutei sua voz fria e grave: "Quem é você?"