Capítulo 4 NÃO VOU PERMITIR

- Ei!

Junior piscou, atordoado, ao perceber que se perdeu naquela lembrança quando olhou pra menina novamente.

- Desculpe, o que você disse?

- Que estou aqui, há há. Está com a cabeça no mundo da lua?

- Não. Também estou aqui - Júnior respondeu, entregando- lhe seus chocolates preferidos e se preparando para abrir o vinho e pegando as taças

Samara agarrou os chocolates como se nunca os tivesse tido na vida, e enquanto abria, observava o distanciamento de Júnior. Deu uma mordida no chocolate e de repente, com a boca cheia, exclamou:

- Não está não. Quem é ela? Eu não estraguei nada, não é? Você tinha encontro com a próxima vítima?

Júnior se virou para ela com certo amargor nos olhos. Por que ela sempre lidava com isso de forma tão clara e despreocupada?

- Não diga bobagens - ele respondeu, lhe entregando uma taça de vinho - É você quem está aqui hoje não é?

Enquanto falava, ele usou a mão desocupada para colocar em seu pescoço, adentrando em seus cabelos e a puxando para um beijo

O toque fez Samara se arrepiar. "Meu Deus, como esse homem ainda mexe comigo, como se fosse a primeira vez!"

Tentou manter seus sentidos alertas para o afastar gentilmente, recusando o beijo:

- Sobre isso que precisamos conversar. Não estarei mais.

Júnior sentiu o baque. Então seus anseios estavam corretos. Ela pretendia mesmo colocar um fim em sua história. Não teve tempo de pensar no que fazer, então pretendia ganhar tempo, se fazendo de desentendido:

- É mesmo? Pretende viajar a trabalho? Ficará quanto tempo?

- Não vou viajar. Ficarei aqui mesmo.

- Você acabou de dizer que não estará mais aqui - ele respondeu levantando uma sobrancelha

- Não estarei mais aqui para você

- Hoje você está estranha, eu hein. Quando você esteve aqui para mim?

Samara o olhou mais atentamente. Apesar de ele tentar parecer despreocupado, frio até, ela sentiu uma pontada de amargor em sua voz

- Ah tio, não se faça de desentendido. entendeu perfeitamente o que eu quis dizer

- Então desdiga, oras. Não vou aceitar. Você não vai a lugar nenhum. Tome seu vinho para ficar bem molinha pra gente fazer amor.

As palavras dele foram um baque pra ela. E a frase "fazer amor" a fez lembrar o que Ana lhe disse: nunca fizeram amor!

Samara pulou da cama, virou seu vinho de uma vez e o encarou

- Como assim você não vai aceitar? Sou de sua propriedade agora? Você manda em mim? Te pertenço? Sou obrigada a ficar com você?

Junior preparou cuidadosamente esse ataque. Ele sabia que a pior coisa pra ela era se considerar obrigada a algo. Que alguém tivesse a falsa impressão que mandava nela, que teria algum poder sobre ela por qualquer razão.

Caminhou lentamente até ela e encheu novamente sua taça, sem dizer nada

Ela ficou olhando pra ele incrédula. Ele não iria reagir? Ao invés disso, lhe serviu mais vinho?

- Cristopher Altoé Júnior, você está tentando me embebedar?

Calmamente ele olhou pra ela como se nada o afetasse e respondeu

- De forma alguma. Sei bem o quanto você é capaz de aguentar antes de cair bêbada. E você bêbada é um porre. Quero apenas que você fique inclinada a fazer amor comigo...

Samara surtou com as palavras dele. Não era a reação que ela esperava. Ao longo de quase 15 anos desde a primeira vez, eles terminaram milhões de vezes, sempre discutindo, sempre gritavam, sempre ficavam alguns dias sem se falar, e ao menor sinal de saudades, qualquer um dos dois dava o braço a torcer sem o menor constrangimento ou orgulho, e o outro seguia para seu ninho de amor para fazerem as pazes.

Aquela não era a residência oficial de Júnior. Se olhasse bem onde ele tinha chegado, como CEO da empresa de família e tudo o que ele tinha conquistado, acharia até aquela casa humilde de apenas um quarto desproporcional. Mas era onde eles se encontravam desde a primeira vez, sempre às escondidas.

Samara ponderou as opções que tinha com base na reação dele. Estranhou o fato de ele não querer sexo com ela imediatamente depois do divórcio há 6 meses. Entendeu que ele estava dando o tempo dela se levantar sozinha. E achou isso muito legal da parte dele.

Era interessante pra ela ter alguém como Júnior, tinha que admitir. Samara era relações públicas de Emília. Trabalhou muito duro para chegar a essa posição. Sua irmã hoje era muito famosa, reconhecida. Então as duas precisavam tomar muito cuidado com suas atitudes, pois qualquer coisa virava escândalo em sua família. E ela não poderia se dar ao luxo de estragar a imagem cuidadosamente trabalhada de Emília.

Seu divórcio já tinha chamado bastante atenção, os guerreiros da internet estavam vasculhando os reais motivos. Se ela fosse flagrada fazendo sexo sem compromisso por aí, poderia colocar a perder todo o trabalho que estava fazendo.

Samara tinha que ser cuidadosa ao extremo para não envolver a irmã em um escândalo, pois conseguiu uma indicação para Emília gravar um filme no exterior, com um roteiro poderoso. Ela tinha viajado para assinar o contrato, então estava tudo perfeitamente encaminhado.

Manchar suas reputações agora poderia ser o fim do sonho para o qual as duas se prepararam durante toda a vida artística de Emília

Então, ter o Júnior ali para fazer sexo despreocupado com ela, era até cômodo para si. Ela ponderou que fazia mais de seis meses que não era tocada, e que depois que terminasse em definitivo com ele, poderia ter que passar mais seis meses sem sexo.

Ela iria lhe ensinar uma lição!

Seria simples, tentar seduzi- lo, provocar uma boa sessão de sexo de despedida, talvez até capotar ele.

Depois que ele adormecesse, ela pegaria as coisas dela e iria embora. Talvez até deixasse um bilhete. Eles não tinham brigado de fato. Não teria motivo nenhum para sair dessa relação como se ele fosse um pária! Apenas não valia a pena manter isso tudo. Precisava fazer as coisas bem calmamente para que ele acreditasse que estava tudo bem, que tinha dissuadido ela da idéia de terminarem.