Paixão Indomável
img img Paixão Indomável img Capítulo 1 Destino
img

Paixão Indomável

Taisa Morais
img img

Capítulo 1 Destino

O calor abrasador do deserto de Nevada fazia o ar tremular sobre a pista de pouso da base aérea. O ronco dos motores e o cheiro de querosene misturavam-se ao sol poente, criando um cenário quase cinematográfico para aqueles que viviam pelo céu.

A Força Aérea dos Estados Unidos sempre se orgulhou de formar guerreiros dos ares, mas ali, naquela academia de elite, a missão ia além. Não bastava ser bom. Era preciso ser o melhor.

No coração desta máquina implacável de treinamento, May caminhava pelos corredores metálicos do prédio administrativo, os saltos das botas ressoando no chão encerado. Amanhã começaria uma nova turma de cadetes, e ela teria o desafio de moldá-los, talhar suas habilidades até que se tornassem mestres dos céus. Seu primeiro grupo como instrutora a chance de provar que sua posição era fruto de mérito e não de sorte.

Dentro da sala de instrução, ajeitou os materiais sobre a mesa e respirou fundo. A luz dourada do entardecer entrava pelas janelas, refletindo no quadro-negro ainda vazio. O cheiro de papel recém-impresso misturava-se ao perfume metálico dos equipamentos, criando uma sensação familiar, quase confortável.

- Ainda aqui? - A voz bem-humorada de Phyta ecoou na sala.

May ergueu os olhos e encontrou o amigo encostado no batente da porta, braços cruzados e um sorriso de divertimento nos lábios.

- Apenas finalizando alguns detalhes para amanhã.

Phyta arqueou uma sobrancelha e entrou na sala, puxando uma cadeira sem cerimônia.

- Ah, por favor... Amanhã você vai estar soterrada de trabalho. Melhor aproveitar a noite antes que seja tarde.

Antes que May pudesse retrucar, outra voz surgiu no corredor.

- Ouvi alguém falando em aproveitar a noite?

Laís entrou com um sorriso travesso, jogando os cabelos para o lado.

- Estamos indo ao bar. Você vem ou vai passar a noite rodeada de papéis e gráficos de voo?

A hesitação de May durou apenas um instante. O trabalho estaria ali de manhã, esperando por ela. Mas uma noite de distração talvez fosse exatamente o que precisava.

- Certo, vamos.

---

O bar estava mais cheio do que de costume, lotado de jovens pilotos recém-chegados. Risadas altas se misturavam à batida suave da música, e o ar carregava o aroma inconfundível de álcool e couro, pontuado pelo cheiro amadeirado de perfumes masculinos.

As luzes amareladas criavam sombras nas paredes, refletindo nos copos e garrafas espalhadas pelo balcão. Um jogo de sinuca acontecia em um canto, enquanto um grupo de soldados trocava histórias e brindava à nova fase de suas carreiras.

May entrou no ambiente sentindo o peso do dia começar a se dissipar.

- Está mais movimentado do que o normal - comentou, observando o fluxo de pessoas ao redor.

Phyta assentiu.

- Os novos pilotos chegaram hoje. Parece que estão aproveitando a folga antes do inferno começar.

Laís, sempre atenta, deslizou o olhar pelo bar, um sorriso brincando no canto dos lábios.

- Muitos rostos novos. E alguns bem interessantes. Hoje eu desencalho.

May soltou uma risada leve, sacudindo a cabeça. Sentaram-se numa mesa próxima à pista de dança, onde um casal girava ao som da música. Phyta foi até o balcão buscar as bebidas, enquanto Laís continuava sua observação discreta.

Foi então que May sentiu um olhar sobre si. Não era invasivo nem descarado, mas havia algo nele que chamou sua atenção. Seguindo seu instinto, virou-se na direção do balcão.

Um homem alto, de cabelos negros e mandíbula bem desenhada, segurava um copo de uísque. Conversava com outro piloto, mas seus olhos estavam fixos nela, analisando-a com um misto de curiosidade e desafio.

Ela desviou o olhar rapidamente, mas sentiu o canto dos lábios se erguer levemente. Algo nele parecia... presunçoso. E ela nunca tivera paciência para homens presunçosos.

---

Do outro lado do bar, John Vlad observava a cena com interesse.

- Viu aquilo, Guzmán? - murmurou, inclinando levemente o copo de uísque.

Christian Guzmán seguiu o olhar do amigo e sorriu de lado.

- Hm... Interessante. Mas aposto que ela gosta de caras mais velhos. Você viu o cara que a acompanhava?

John girou o líquido âmbar no copo antes de esvaziá-lo.

- Só tem um jeito de descobrir.

Sem hesitar, deixou o copo sobre o balcão e atravessou o salão, os passos confiantes. Puxou uma cadeira na mesa das mulheres e se sentou, como se já pertencesse àquele espaço.

May ergueu os olhos, surpresa com a audácia.

- O que uma moça tão bonita faz num bar cheio de pilotos? - Ele sorriu, apoiando os braços na mesa. - Prazer, Vlad.

Ela arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

- Vlad? Sua mãe queria homenagear quem com esse nome? O Drácula?

Ele soltou uma risada baixa.

- Apenas um codinome.

- Ah... Então você é piloto.

- Sim, fui enviado para a academia.

- Deve ser bom. Só os melhores entram lá.

Vlad inclinou-se um pouco mais, um sorriso convencido brincando no canto dos lábios.

- Modéstia à parte, diria que sou o melhor.

May bufou, pegando o copo da mesa.

- Arrogante.

Sem dar tempo para mais conversa, levantou-se e seguiu para o banheiro, mas ele não demorou a segui-la, parando junto ao batente da porta.

- Sabe, Srta. acredite ou não, vim te ajudar.

Ela virou-se para encará-lo, divertida.

- Me ajudar?

- Sim. Para que não cometa um erro... Ele faz uma pausa dramática e continua... - Com um cara mais velho.

Ela revirou os olhos e fala em tom sarcástico.

- Então devo cometer um erro com um garotão metido como você?

Ele sorriu, recostando-se na parede.

- Não seria nada mal.

Ela soltou uma risada breve, sacudindo a cabeça.

- Bom, Vlad, ou seja lá qual for seu nome... Espero nunca mais te ver.

E com isso, virou-se e saiu, deixando-o para trás.

---

O dia seguinte amanheceu quente e claro. May chegou cedo à base aérea, ajustando a postura ao entrar na sala de instrução.

Os cadetes já estavam em seus lugares, os rostos ansiosos para o primeiro dia de treinamento. Seu olhar percorreu a turma, absorvendo cada expressão... até que parou nele.

John Vlad estava lá, sentado na primeira fileira, um sorriso torto nos lábios e os olhos brilhando com um desafio silencioso.

Ela respirou fundo e se recompôs.

- Bom dia, senhores. Meu nome é Major May, e serei a instrutora de vocês.

O sorriso de Vlad se alargou, cheio de satisfação.

- Que ironia... Parece que nos veremos bastante, Srta. Major.

                         

COPYRIGHT(©) 2022