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Quase todas as mulheres sonham em algum momento de suas vidas com o seu casamento. Seja na adolescência seja na idade adulta. O desejo por um casamento na igreja com a presença dos amigos para festejar aquele momento. Os cumprimentos de pessoas especiais para o casal que está iniciando a vida a dois, construindo uma nova família.
Com 18 anos eu não sonhava em me casar. Eu queria mais do que tudo fugir do lugar em que era prisioneira. Queria terminar os meus estudos, viajar e conhecer outros lugares.
Mas sendo uma filha adotiva de um casal que nunca me amou, meu destino tinha que ser outro. Eu havia sido entregue ao tio Arthur após a morte do irmão num acidente de carro quando eu tinha apenas 7 anos de idade. Minha mãe havia morrido no parto.
Acabei sendo a noiva substituta num acordo de negócios. Meu tio estava atravessando um período de dificuldade com a empresa e o CEO do conglomerado Luminous queria se casar. Eu me tornei a moeda de troca na negociação.
Eu não tive uma infância e uma adolescência fáceis, passei por muitas dificuldades vivendo sobre o teto do meu tio Arthur com as suas três filhas e a mãe delas Inês. Abigail era a mais velha, Mariel a filha do meio e Lourdes a mais nova.
Eu era a caçula e tinha completado 18 anos apenas a 5 dias. Estava me preparando para ir embora e sair daquela prisão, mas antes que conseguisse o meu intento o meu tio me colocou em outra gaiola, uma bem pior. A gaiola de um casamento contratual.
Maximilian não era um estranho para mim. Eu o havia salvado quando tinha treze anos. Ele estava sendo perseguido por um grupo de pessoas. Já estava machucado e tinha levado uma facada. Isso foi nos subúrbios da cidade quando eu estava indo até a casa de Agnes fugindo depois de ter levado mais uma surra das minhas primas. Ele estava encurralado num beco com vários homens indo em sua direção.
Eu não consegui ficar parada. Joguei minha bicicleta sobre eles derrubando alguns no processo. Surpresos demoraram para reagir e continuei usando minha bicicleta como arma. Dos sete que estavam ali, cinco estavam no chão. Os outros dois fugiram.
Peguei meu telefone e liguei pedindo uma ambulância e também para a polícia. Maximilian segurava a ferida em sua barriga que sangrava. Ele estava perdendo a consciência.
- Oi... espero só mais um pouco. Logo a ajuda estará aqui. Olhe para mim...
- Você... você me salvou. Vou te dar esse anel que é o símbolo da minha família. Serei eternamente grato a você. Se algum dia precisar de ajuda me procure... Meu nome é Max...
Nesse momento ouvi sirenes. Com medo de ser envolvida no incidente achei melhor ir embora. Peguei minha bicicleta e deixei o Max sozinho.
Imagine minha surpresa ao descobrir que o "Max" que havia salvado anos atrás era o meu futuro marido Maximilian conhecido como um implacável homem de negócios.
Confesso que fiquei com medo. Não por casar com ele, mas sim pelo histórico de violência.
Sonhei com ele várias vezes ao longo dos anos. Ele era muito bonito, um deus grego da beleza. Que adolescente não iria fantasiar com alguém assim?
O apelido dele era demônio pois não sentia remorsos em derrubar empresas ou pessoas.
Na mansão do meu tio vivi 13 anos no sótão onde era muito quente no verão e frio no inverno. A violência física era uma coisa normal e os hematomas no meu corpo quase nunca saravam por completo pois sempre novos surgiam. Apesar de muitos empregados na casa, as três filhas gostavam de me humilhar, fazendo-me ficar de joelhos limpando o chão do quarto delas. Exibindo suas roupas e joias caras. Me dando bofetadas caso falasse alguma coisa. Com o tempo adotei o silêncio. Era raro que alguém ouvisse a minha voz.
Eu perdi a minha identidade como filha de Jeremias Velten, o fundador da empresa de Tecnologia Safira e me tornei apenas Núbia, mais uma empregada na mansão dos meus tios.
No dia do casamento me ameaçaram dizendo que iriam cortar o dinheiro do tratamento de uma das poucas pessoas com as quais eu tinha uma relação parecida com a de uma família: Agnes. Ela sempre foi a minha protetora, a pessoa que era meu anjo da guarda e, ela estava doente. Precisava de hemodiálise em dias alternados e estava na fila de espera por um novo rim para continuar vivendo. Ameaçaram tirá-la do hospital se eu não me casasse.
Maximilian era oito anos mais velho do que eu, parecia um mafioso com um rosto frio. Ele não transmitia calor mas sim uma sensação de frieza. As pessoas não o respeitavam, o temiam.
O vi pela segunda vez no dia do nosso casamento.
Depois da cerimônia, com a presença apenas das famílias, feita apenas no civil, fui colocada dentro de uma SUV preta e levada para o meu novo cárcere, ou melhor, minha nova casa.
Eu não tinha mais pretensões quanto ao meu futuro, na verdade eu estava me sentindo tão perdida que nem mesmo tinha vontade de continuar a viver. Carregava tanta desilusão e sofrimento que a morte seria um alívio. Essa sensação era típica de alguém em estado depressivo e a depressão já me acompanhava há quatro anos.
Há quatro anos em sua festa de aniversário Mariel me acusou de ter roubado um cordão. Por mais que argumentasse que não havia sido eu, por alguma razão ele parou embaixo do travesseiro do meu quarto. Alguém o havia posto ali.
Eu fui surrada pelo meu tio com um chicote que usava quando andava a cavalo. Foi uma das poucas vezes que gritei de pura dor. Suas filhas e sua mulher observavam minha agonia com um sorriso nos lábios.
Fui jogada sobre a minha cama no sótão e desmaiei de dor. Acordei com Agnes cuidando de meus ferimentos. Ela chorava lamentando a minha sorte. Depois disso, as filhas de Arthur se tornaram ainda mais difíceis de lidar. Eu vivia num verdadeiro inferno e cheguei a passar dias sem uma refeição decente, agonizando de dor sobre a minha pequena cama. Me tornei depressiva e introspectiva, criei um mundo particular onde essa dor não mais me atingia.
Uma jovem de 18 anos com tanta vida pela frente sofrendo com uma depressão profunda era natural querer que a vida tivesse um fim. Eu resistia por Agnes que sempre tinha sido meu porto seguro, eu não podia decepcioná-la.
Ao chegar na mansão fui levada pela governanta que me olhava com cara de poucos amigos para um quarto pequeno no fim de um longo corredor. Ela abriu a porta e nós entramos. Uma cama, um closet que não tinha roupas e um banheiro.
Com evidente descaso a governanta disse que eu devia tomar banho vestir a roupa que estava sobre a cama e aguardar o patrão que viria me encontrar mais tarde. Olhando para a cama vi uma camisola vermelha muito bonita. Era de cetim comprida até os pés, um decote deixava as costas totalmente à mostra e uma calcinha fio-dental também vermelha completava o traje.. Essa era minha vestimenta da noite de núpcias, ao invés de uma camisola branca digna de uma virgem eu estava vestida de vermelho, uma cor mais propensa a prostitutas do que a jovens virgens.
Eu fui tomar banho, chorei enquanto a água caía sobre mim.
De volta ao quarto meus dedos tocaram aquela camisola e a calcinha fio-dental. Se a intenção fosse não deixar nada para a imaginação, aquela peça de roupa era perfeita.
Uma bandeja com comida descansava sobre uma pequena mesa. E eu me servi pois estava desde cedo sem conseguir comer. Escovei os dentes, deitei na cama e adormeci, faz dias que não conseguia dormir direito e a exaustão me pegou.