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O salão da Casa de Vidro estava silencioso, exceto pelo som suave das chamas crepitando na lareira central. Do lado de fora, a noite dançava com ventos frios e folhas soltas, mas ali dentro, o calor era denso como o véu entre os mundos.
Maria permanecia sentada no chão de madeira escura, os joelhos recolhidos junto ao peito, envolta em um robe de linho branco que contrastava com a penumbra do ambiente. O tecido revelava mais do que escondia, e mesmo sem intenção, seu corpo era um convite silencioso. Seus olhos, no entanto, carregavam o cansaço de noites longas, repletas de sonhos estranhos e sensações que não sabia descrever.
João não estava por perto naquele momento, mas sua presença ainda parecia ocupar o lugar. Desde que ele abrira o grimório da biblioteca - aquele coberto por couro negro e costurado com fios prateados -, algo entre eles havia mudado.
Não apenas os encontros físicos, cada vez mais intensos e cheios de comandos sussurrados entre beijos e toques. Havia uma força silenciosa crescendo, um encantamento que parecia entrelaçar suas almas, como se uma parte dela começasse a pensar, respirar e ansiar através dele.
Naquela manhã, enquanto o sol mal havia tocado as janelas altas, João apareceu no quarto com uma expressão séria, diferente da usual tranquilidade com que a tratava.
- Hoje será o início de algo... maior - disse, sem esperar resposta. - Você está pronta?
Ela hesitou. Sua primeira reação ainda era o medo, mesmo depois de tudo. Ainda sentia o tremor nas mãos, a incerteza quanto ao que ele poderia exigir a seguir. Mas o desejo... o desejo era como um veneno doce, dissolvido lentamente em sua corrente sanguínea. Um sussurro interno que a fazia aceitar. Que a fazia querer.
Ela assentiu em silêncio.
João então retirou do bolso interno do sobretudo um pequeno frasco de vidro com um líquido azul-turquesa cintilante. Ao abri-lo, o aroma doce e almiscarado se espalhou, como névoa encantada. Ele molhou os dedos e se aproximou dela.
- Fique nua - ordenou com voz baixa.
Maria obedeceu. Já não havia mais vergonha. Cada peça de roupa retirada era como uma entrega, uma camada de proteção removida. Quando ela ficou completamente exposta, ele se ajoelhou diante dela, traçando com o líquido uma marca no centro de seu peito. Um símbolo antigo, pulsante, que parecia vibrar levemente contra sua pele.
- Esse é o Selo de Vínculo Arcano. A partir de agora, você será parte de mim. E eu, parte de você.
Ela estremeceu, não apenas pelo frio do líquido, mas por sentir o feitiço se insinuando sob sua pele, como se tatuasse sua alma com promessas que ela mal compreendia.
João a conduziu até a câmara inferior - um espaço oculto, apenas acessível por um feitiço de deslocamento. O chão de pedra negra, as paredes cheias de símbolos flutuantes e uma cama circular com lençóis de veludo vermelho compunham o cenário.
- Deite-se - disse, e ela obedeceu.
Ele caminhou ao redor, murmurando palavras em uma língua que não era deste mundo. As velas se acendiam sozinhas. A temperatura oscilava. Quando ele se aproximou, seus olhos brilhavam com uma luz âmbar que não era natural.
- A partir de agora, Maria... você sentirá minha presença mesmo quando eu estiver longe. Sentirá minha vontade, meu desejo, meu comando... aqui - e tocou entre os seios dela, onde a marca agora ardia levemente.
Ela arfou.
E então, ele a tocou como se a estivesse moldando. Não com pressa, mas com precisão mágica. Cada gesto carregava energia. Cada beijo, cada ordem sussurrada entre os gemidos, era um nó apertado no laço invisível entre eles.
Por horas, ele a fez repetir palavras arcanas entre respirações pesadas. Palavras de submissão, entrega, e vínculo. E ao final, quando ela mal conseguia manter os olhos abertos, sentiu algo se prender dentro dela - como se uma porta houvesse se fechado com um selo invisível.
- Você é minha, agora. Mais do que antes. E eu estarei em você, mesmo no silêncio - ele disse, antes de apagar todas as luzes com um gesto de mão.
Na escuridão, ela sentia o calor de seu corpo, o som de sua respiração, mas principalmente... sentia uma nova parte de si mesma. Algo que ardia. Algo que o chamava.