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[Ponto de vista: Olívia]
O convite chegou com um tom de ordem.
Não foi um pedido. Foi uma instrução.
"Almoço. Hoje. Meio-dia. Endereço abaixo."
Ela leu a mensagem no celular, deitada no sofá, os pés descalços apoiados no encosto, ainda usando o short de dormir e uma camiseta velha do tempo da faculdade.
A resposta não veio de imediato.
Olívia encarou a tela por longos segundos, sem saber se ria da ousadia ou se amaldiçoava o arrepio que correu pela espinha. O nome Noah Ferraz não era mais só um homem - era uma presença que invadia a mente, o corpo, os espaços.
Ela odiava admitir, mas pensar nele provocava um calor silencioso.
Um incômodo gostoso.
Como um lugar proibido que você sabe que não deve entrar... mas quer, mais do que qualquer coisa.
Suspirou fundo.
"Eu não sou uma peça do jogo dele", pensou.
Mas talvez...
Talvez pudesse mostrar que ela também sabia jogar.
Levantou-se, foi até o guarda-roupa e escolheu um vestido que abraçava suas curvas com precisão cirúrgica: vinho, justo até a cintura e fluido na barra, com fenda lateral e decote discreto, mas estrategicamente sensual.
Nos pés, sandália de salto médio.
Cabelo preso em um coque baixo com alguns fios soltos, como se tivesse se arrumado rápido - o suficiente para parecer despretensiosa, mesmo tendo planejado cada detalhe.
Ela não era tola. Sabia o que provocava.
E por mais que dissesse a si mesma que só queria deixar claro que ele não mandava nela, no fundo... havia curiosidade. Havia
[Ponto de vista: Noah]
Ele a viu entrar antes mesmo que o maître a conduzisse.
Noah estava de frente para a entrada do restaurante, um dos mais exclusivos da cidade, com vista panorâmica e reservas esgotadas com semanas de antecedência. Estava lá desde as 11h45, mesmo o almoço estando marcado para meio-dia. O relógio marcava 12h02 quando ela surgiu.
E por um segundo - apenas um - ele esqueceu de respirar.
Olívia caminhava com a calma de quem não devia nada a ninguém. O vestido abraçava o corpo dela com um equilíbrio absurdo entre elegância e provocação. A fenda mostrava a perna em ângulos calculados pelo acaso. Os olhos vinham cobertos por óculos escuros que escondiam a expressão... mas não o fogo.
Ela parou diante da mesa, tirou os óculos e o encarou como quem joga a primeira carta de uma disputa silenciosa.
- Boa tarde, Sr. Ferraz - disse com um leve sorriso, tão irônico quanto desafiador.
- Você está absolutamente estonteante, Srta. Mendes.
Ela sentou-se sem esperar que ele puxasse a cadeira.
Ele gostou disso.
- Pedi vinho. Branco, gelado.
- Se tivesse perguntado, saberia que prefiro tinto.
- Fica pra próxima. - Ele sorriu, sem culpa. - Gosto de te contrariar.
Ela ergueu a taça sem brindar.
- Parece que você gosta de testar meus limites.
- E você parece ter muitos. Quero descobrir todos.
A troca foi cortante, elegante e absurdamente carregada.
A comida chegou. Ele havia pedido por ela: salmão grelhado com purê trufado.
Ela arqueou a sobrancelha, mas não reclamou.
- Você sempre decide o que mulheres devem comer?
- Só quando quero impressionar.
- Impressão não é o problema. O problema é o controle.
Ele a encarou com um meio sorriso.
- E o seu problema é que você finge não gostar de ser desafiada.
Ela mordeu o lábio inferior. Levemente.
Não de nervoso.
Mas porque sabia que ele estava certo - pelo menos em parte.
[Ponto de vista: Noah]
Ele a observava enquanto ela cortava o salmão com precisão, como se dissesse com aquele simples gesto que estava no controle de si mesma. Mas Noah sabia que controle era uma ilusão. Principalmente entre os dois.
Cada olhar trocado era um passo a mais rumo ao incêndio.
E ele gostava de brincar com fogo.
Noah inclinou-se um pouco sobre a mesa, olhando diretamente para ela.
- Falei com o conselho do instituto ontem à noite.
Ela parou de cortar.
Levantou os olhos.
- E por que isso me interessa?
- Aprovei a expansão do projeto social. Dobraremos a verba.
- Hum... - Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada. - Que generosidade repentina.
- Com uma condição - ele continuou, bebendo um gole do vinho branco.
Ela pousou os talheres com um leve tilintar no prato.
- Claro. Sempre tem um "mas".
- Quero que você assuma a coordenação geral.
Ela não respondeu de imediato. A expressão endureceu.
- Você está me oferecendo um cargo que não existe, com uma verba que não foi discutida comigo, para um projeto que eu criei com a minha melhor amiga.
- Estou oferecendo reconhecimento. Liderança. Você merece estar à frente.
- E de quebra, garantiria que eu esteja sempre sob seu radar, é isso?
Ele não respondeu.
O silêncio foi mais eloquente que qualquer confirmação.
- Você está tentando me comprar - ela disse, sem elevar a voz, mas com a firmeza de quem acabou de ser insultada.
- Não. Estou tentando me aproximar. E essa é a única linguagem que eu domino.
Ela cruzou os braços. A respiração acelerou.
- Isso é invasivo, manipulador... e patético.
- Eu sou direto, Olívia. Nunca escondi que te quero por perto.
- O problema não é querer. É achar que pode moldar o mundo ao seu favor - ela rebateu, o olhar faiscando. - Você quer me seduzir com poder. Mas eu não sou o tipo de mulher que se dobra por cifras.
Ele sorriu.
- Não. Você é o tipo de mulher que se dobra só quando quer. E isso me enlouquece.
Ela empurrou a cadeira com um movimento seco. Levantou-se, pegou a bolsa.
- A comida estava boa. O resto? Um desastre.
Ele se levantou, instintivamente, e segurou seu braço com firmeza, mas sem força.
- Espera.
Ela se virou com os olhos em chamas.
- Não me toque, Noah. Nem física, nem emocionalmente, se for pra tentar me manipular.
Soltou o braço e saiu, com o vestido balançando furioso ao redor das pernas.
Ele ficou parado, respirando fundo.
Sabia que tinha cruzado uma linha.
Sabia que tinha perdido - e ainda assim, queria mais.
[Ponto de vista: Olívia]
O táxi demorou vinte minutos, mas ela preferiu esperar na calçada a voltar para a recepção daquele restaurante onde só cabia gente fria, elegante... e controladora.
Ela não sabia se estava mais irritada com Noah ou consigo mesma.
Porque parte dela queria gritar, mas a outra...
A outra queria voltar e jogar aquele maldito blazer dele no chão, sentar no colo dele e dizer: "Então manda agora."
Mas não.
Ela não seria essa mulher.
Ela era muitas coisas, mas nunca submissa.
Ao chegar em casa, foi direto para o quarto. Jogou a bolsa sobre a cama, tirou o vestido com um puxão, e olhou para o próprio corpo no espelho.
Seios erguidos pela raiva, mamilos endurecidos, respiração curta.
Estava furiosa.
Mas também... excitada.
Maldito Noah Ferraz.