Todos pensaram que ela tinha tirado a sorte grande, que se tornaria a esposa do chefe e viveria uma vida de luxo e poder.
Mas Mari sabia a verdade.
Ela sabia que cada sorriso de Pedro era falso, cada toque era calculado. Ele a usava. Ele a exibia como um troféu enquanto, secretamente, planejava sua morte. Uma morte feita sob medida, um acidente tão perfeito que ninguém jamais suspeitaria.
Ela morreu afogada, presa em um carro que ele mesmo sabotou, enquanto ele estava nos braços de Bruna, comemorando.
O frio da água invadindo seus pulmões era uma memória que nunca a abandonaria.
Mas então, ela acordou.
Ela renasceu.
De volta ao ponto de partida, ao dia em que o noivado com Pedro seria anunciado.
Desta vez, ela não seria a vítima.
Por isso ela estava ali, ajoelhada na chuva, implorando para ver sua tia, a Madrinha da Máfia, Dona Sofia.
A porta finalmente se abriu. Um dos guardas, com uma expressão entediada, disse para ela entrar.
Mari se levantou com dificuldade, suas pernas mal a obedeciam. Ela entrou na sala opulenta, o carpete grosso abafando o som de seus passos molhados.
Dona Sofia estava sentada em uma poltrona de couro, um charuto fino entre os dedos, a fumaça subindo em espirais lentas. Ela olhou para Mari com seus olhos penetrantes, uma mistura de irritação e preocupação.
"Você sabe o que as pessoas estão dizendo lá fora, Mari? Que minha sobrinha enlouqueceu. Ajoelhada na chuva por dois dias. Que tipo de espetáculo é esse?"
A voz dela era calma, mas carregava um peso que fazia o ar vibrar.
Mari não se importou com a repreensão. Ela caminhou até sua tia, suas pernas tremendo, e se ajoelhou novamente.
"Tia," sua voz saiu rouca e fraca. "Eu imploro, retire o acordo de casamento com o Pedro."
Dona Sofia franziu a testa, a surpresa quebrando sua compostura.
"Retirar o acordo? Você ficou louca? É o Pedro. O homem mais poderoso da cidade. Todas as mulheres sonham em estar no seu lugar, e você quer desistir?"
"Eu não o amo," Mari disse, as lágrimas finalmente escorrendo e se misturando com a água da chuva em seu rosto. "E ele não me ama."
"Amor?" Dona Sofia soltou uma risada curta e sem humor. "Nós não lidamos com amor, criança. Nós lidamos com poder. Esta união fortalecerá nossa família, fortalecerá a mim e a você."
"Ele vai me matar, tia."
As palavras saíram como um sussurro, mas ecoaram na sala silenciosa.
Dona Sofia ficou em silêncio por um momento, estudando o rosto desesperado de sua sobrinha. Ela viu o terror genuíno nos olhos de Mari.
"Isso é um absurdo. Pedro não faria isso."
"Ele fará," Mari insistiu, agarrando a barra do vestido de sua tia. "Ele tem outra pessoa. Ele só está me usando."
Dona Sofia suspirou, parecendo cansada.
"Mesmo que isso seja verdade, o que você sugere? Que fuja? Que se esconda? Ele a encontraria."
Era agora ou nunca. Mari respirou fundo, reunindo toda a coragem que possuía.
"Não. Eu não vou fugir."
Ela olhou diretamente nos olhos de sua tia.
"Madrinha, quero cumprir o noivado com a família Santos do Norte."
A sala ficou ainda mais silenciosa. Dona Sofia a olhou como se ela tivesse realmente perdido o juízo. Os Santos do Norte. Uma família que já fora respeitada, mas que perdera seu prestígio e se mudara para as terras remotas do norte. Eram considerados caipiras, uma piada.
"Os Santos?" Dona Sofia disse, incrédula. "Mari, eles não têm mais nada. O rapaz, Lucas... ninguém nem se lembra do rosto dele. Por que você faria isso?"
"Porque eles são honrados," Mari disse com firmeza. "Porque com eles, eu terei paz. Eu quero viver, tia. De verdade."
Antes que Dona Sofia pudesse responder, a porta da sala se abriu com um estrondo.
Pedro entrou, seu rosto uma máscara de fúria contida. Ele estava impecavelmente vestido em um terno caro, mas seus olhos queimavam.
Ele ignorou completamente Dona Sofia e caminhou diretamente até Mari.
"O que diabos você pensa que está fazendo?" ele rosnou, sua voz baixa e ameaçadora.
Ele a agarrou pelo braço, forçando-a a se levantar. O aperto era de ferro, doloroso.
"Fazendo um espetáculo na frente de todos. Humilhando a mim. Você quer morrer?"
Mari estremeceu, não de medo, mas da lembrança daquelas mesmas palavras, ditas em sua vida passada pouco antes de sua morte.
Ela não respondeu. Manteve a cabeça baixa, mas seus olhos buscaram os de sua tia. Ela não podia falar, não com Pedro ali, mas seu olhar era um pedido mudo, desesperado. Me ajude. Acredite em mim.
Dona Sofia viu. Ela se levantou lentamente, a autoridade emanando dela.
"Pedro. Solte-a."
Pedro a ignorou, seu foco total em Mari.
"Responda-me. Você cansou de viver bem? Preferia rastejar na lama?"
"Eu disse, solte a minha sobrinha," a voz de Dona Sofia cortou o ar, mais afiada que uma faca.
Desta vez, Pedro hesitou. Ele olhou para Dona Sofia, uma centelha de desafio em seus olhos, mas ele sabia que não podia desrespeitá-la abertamente. Ele a soltou com um empurrão, fazendo Mari tropeçar para trás.
"Ela está me desonrando, Madrinha."
"Ela é minha sobrinha e está sob minha proteção," Dona Sofia declarou, caminhando até ficar entre os dois. "Esta conversa acabou por hoje. Mari está exausta. Ela vai ficar aqui. Você pode ir."
A ordem era clara.
Pedro lançou um último olhar venenoso para Mari. Seus lábios mal se moveram quando ele sussurrou, para que apenas ela ouvisse.
"Isso não acabou. Você é minha. E você vai se arrepender disso."
Ele se virou e saiu, batendo a porta atrás de si, deixando um silêncio pesado e ameaçador na sala.