O Retorno da Noiva Traída
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Capítulo 3

A escuridão era uma criatura viva.

Ela respirava ao redor de Mari, a sufocava com o cheiro de mofo e medo. Cada pequeno ruído era amplificado, um arrastar de patas, um gotejar distante.

A memória do armário a atingiu com a força de um soco.

Ela tinha sete anos. Escondida durante um jogo de esconde-esconde. A porta do armário bateu, a fechadura emperrou. Ela ficou lá por seis horas. O pânico, a falta de ar, a certeza de que morreria ali.

Seu pai a encontrou. Ele arrombou a porta, a pegou nos braços e a segurou até ela parar de tremer.

O rosto de seu pai se materializou na escuridão à sua frente.

"Pai?" ela sussurrou, a voz rachada.

Ele sorriu para ela. Aquele sorriso gentil que sempre a acalmava.

"Está tudo bem, minha filha. Eu estou aqui."

Sua mãe apareceu ao lado dele, seu toque suave em seu cabelo.

"Nós estamos aqui, meu amor. Você não está sozinha."

Mari estendeu a mão, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Era um alívio tão profundo, uma alegria tão dolorosa. Eles estavam ali. Eles tinham vindo buscá-la.

"Me levem com vocês," ela implorou, sua mente se desprendendo da realidade. "Por favor, me levem."

Eles se aproximaram, seus braços se abrindo para recebê-la em um abraço caloroso e seguro.

A porta de ferro do porão se abriu com um estrondo metálico que quebrou a ilusão.

A luz forte do corredor inundou a cela, cegando Mari momentaneamente. As figuras de seus pais se dissolveram no nada.

Dona Sofia estava parada na porta, seu rosto uma máscara de fúria gelada. Dois de seus homens mais leais estavam atrás dela.

"Tirem-na daqui. Agora," ela ordenou.

Um dos homens a pegou nos braços com cuidado e a carregou para fora daquele inferno escuro. Mari estava em transe, seu corpo flácido, seus olhos vazios, ainda procurando por fantasmas no corredor.

Dona Sofia caminhou até Pedro, que observava a cena de longe com uma expressão de desdém.

"Você foi longe demais, Pedro," ela disse, sua voz baixa e perigosa.

"Eu estava apenas ensinando uma lição a ela," ele respondeu com um encolher de ombros. "Ela precisa aprender seu lugar."

"O lugar dela é como minha sobrinha. E você não vai tocar nela de novo. Estamos entendidos?"

Pedro a encarou, um brilho de desafio em seus olhos.

"Você pode protegê-la agora. Mas você não estará lá para sempre, Madrinha."

Ele se virou e foi embora, deixando Dona Sofia tremendo de uma raiva que raramente demonstrava.

Eles levaram Mari para seu quarto. Uma médica veio, deu-lhe um sedativo e cuidou de seus ferimentos superficiais. Mas os ferimentos internos eram muito mais profundos.

Ela dormiu por um dia inteiro, mas mesmo no sono, não encontrou paz. Pesadelos a assombravam, pesadelos de escuridão, de afogamento, do rosto sorridente de Pedro.

Quando finalmente acordou, ela ficou deitada na cama, olhando para o teto. Seu corpo estava ali, mas sua mente estava a milhas de distância, perdida em um nevoeiro de trauma.

Ela podia ouvir as vozes dos empregados no corredor. Eles falavam em sussurros, mas as palavras chegavam até ela.

"...pobre menina, parece um fantasma..."

"...ouvi dizer que o chefe Pedro a trancou no porão..."

"...enquanto isso, ele e aquela Bruna estavam rindo e bebendo no salão principal. Ela estava sentada no colo dele, agindo como a senhora da casa..."

A raiva substituiu o nevoeiro.

Uma raiva fria e cortante.

Em sua vida passada, ela tinha aceitado seu destino. Ela tinha sido a ovelha mansa indo para o abate, acreditando que o amor e a lealdade seriam recompensados.

Que tola ela foi.

Ele a usou, a humilhou e a matou. E agora, ele estava fazendo tudo de novo, saboreando cada momento de seu sofrimento.

Não.

Não mais.

Ela se sentou na cama, uma nova determinação endurecendo suas feições. Ele queria que ela implorasse? Ele queria que ela se quebrasse?

Ela faria algo muito melhor.

Ela o destruiria.

Ela se levantou da cama, ainda fraca, mas com um propósito. Ela encontrou Dona Sofia no escritório, revisando alguns papéis.

"Tia," Mari disse, sua voz firme pela primeira vez em dias.

Dona Sofia ergueu os olhos, surpresa com a mudança na sobrinha.

"Eu preciso que você me escute. E preciso que acredite em mim."

Mari respirou fundo.

"Ainda existe aquele acordo de casamento com os Santos, não é? Aquele que meu pai fez anos atrás."

Ela não estava mais pedindo. Ela estava traçando seu plano de fuga. E seu caminho para a vingança.

            
            

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