Dona Sofia se levantou e caminhou até a janela. Ela olhou para os jardins bem cuidados da mansão, um mundo de ordem e controle que ela havia construído.
"O Norte é longe, Mari. É uma vida diferente. Mais simples, mais dura. Você teria que deixar tudo isso para trás."
Havia uma tristeza em sua voz, o carinho que ela raramente mostrava.
"Eu sei que fui dura com você. Mas você é filha da minha irmã. Eu queria te proteger da única maneira que conheço, com poder e alianças. Mandá-la para longe... parece que estou falhando com ela."
Mari se aproximou e, pela primeira vez em anos, abraçou sua tia. Dona Sofia ficou tensa por um momento, depois relaxou no abraço, colocando uma mão nas costas de Mari.
"Você não está falhando comigo, tia. Você está me salvando."
Naquele momento, a decisão foi tomada.
Dona Sofia agiu rapidamente. Ela fez as ligações, invocou o antigo acordo. A família Santos, surpresa, mas fiel à sua palavra, aceitou. O noivado com Pedro foi oficialmente e publicamente rompido. A razão dada foi "incompatibilidade".
Para Mari, a notícia foi como o primeiro sopro de ar fresco depois de quase se afogar.
Ela sentiu o peso de uma vida inteira sendo tirado de seus ombros. Ela riu. Uma risada genuína, alta, que ecoou em seu quarto. Ela não ria assim há tanto tempo que o som pareceu estranho e maravilhoso.
A liberdade era uma sensação estonteante.
A notícia, no entanto, atingiu Pedro como um trovão.
Ele estava no meio de um jantar com seus capangas, com Bruna ao seu lado, quando um de seus homens lhe trouxe a notícia.
Seu rosto ficou branco de fúria. Ele jogou a taça de vinho contra a parede, estilhaçando-a em mil pedaços.
"O QUÊ?" ele rugiu.
Bruna colocou uma mão em seu braço. "Calma, querido. Não vale a pena se estressar por causa dela."
Pedro a ignorou. Sua humilhação era pública. Dona Sofia o havia desafiado e vencido. E Mari... Mari estava escapando.
Sua mente trabalhou rápido. Ele precisava solidificar seu poder, mostrar a todos que ele ainda estava no controle.
Ele se virou para Bruna e, na frente de todos, anunciou: "Nós vamos nos casar. O mais rápido possível."
Bruna sorriu, uma vitória mal disfarçada em seus olhos.
Mais tarde naquela noite, Pedro encontrou Mari no jardim. Ela estava olhando para a lua, sentindo uma paz que não sentia há muito tempo.
"Então é isso," ele disse, sua voz tensa. "Você realmente acha que pode simplesmente ir embora."
Mari não se virou. "Não há nada que me prenda aqui, Pedro."
"Eu poderia te prender," ele rosnou, dando um passo em sua direção. "Eu poderia te quebrar em tantos pedaços que você nunca mais seria inteira."
"Tente," ela disse, finalmente se virando para encará-lo, sem medo em seus olhos. "E minha tia vai destruir tudo o que você construiu. Você sabe disso."
Ele parou, a verdade nas palavras dela o contendo como uma corrente.
"Você não vai se casar com aquele caipira do Norte," ele declarou. "Eu não vou permitir."
"Você não tem mais voz na minha vida."
A calma dela o enfurecia mais do que qualquer grito.
De repente, ele mudou de tática. Seu rosto se suavizou em uma máscara de falsa preocupação.
"Mari, pense bem. A vida lá é dura. Você não está acostumada. Aqui, você tem tudo. Eu posso te dar tudo."
Mari riu em seu rosto. "Você já me deu o suficiente, Pedro. Uma lição que nunca esquecerei."
Nesse momento, Bruna apareceu, como sempre, no momento mais oportuno. Ela cambaleou um pouco, uma mão na barriga.
"Pedro... o bebê... está chutando muito forte. Acho que algo está errado."
Pedro correu para o lado dela, o pânico em seu rosto. Ele lançou um olhar furioso para Mari.
"Veja o que você fez? Você está estressando a mãe do meu filho. Se algo acontecer com este bebê, eu juro, Mari, eu vou caçá-la até o fim do mundo e farei você pagar."
Ele a pegou no colo e a levou para dentro, deixando Mari sozinha no jardim escuro.
A ameaça pairava no ar, mas pela primeira vez, não a assustou.
Apenas fortaleceu sua determinação. Ela iria para o Norte. Ela encontraria Lucas Santos. E ela começaria uma nova vida, longe da teia venenosa de Pedro e Bruna.