As palavras da audiência eram como sal na ferida, mas eles estavam apenas confirmando o que eu já sentia.
De repente, entendi tudo.
O sistema não me trouxe de volta para me dar uma segunda chance fácil, ele me trouxe de volta para o show, para o drama. Me fazer voltar no dia da venda do apartamento era o ápice da crueldade calculada, projetada para gerar o máximo de audiência, o máximo de conflito.
Eu era apenas um peão em seu jogo sádico.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
"Tudo bem", murmurei para o ar vazio, "se é um show que vocês querem, é um show que terão."
Por dinheiro, eu faria qualquer coisa, eu engoliria meu orgulho, minha dor, minha humilhação.
Minha decisão estava tomada, eu não ia deixar esse apartamento ser vendido. Era meu único elo tangível com o Gabriel que eu conheci, e agora, seria minha base de operações.
Peguei meu celular e disquei o número da imobiliária listada no anúncio.
"Alô, eu ligo sobre o apartamento na Rua das Acácias," eu disse, minha voz soando mais firme do que eu me sentia, "eu quero comprá-lo."
Houve uma pausa do outro lado da linha.
"Senhorita... desculpe, mas já temos um acordo verbal com outro comprador," disse uma voz feminina, suave e educada.
"Eu cubro qualquer oferta," respondi imediatamente, "pago à vista."
Outra pausa.
"Nesse caso... preciso consultar o proprietário. Um momento."
Esperei, o coração batendo forte contra minhas costelas. Depois de alguns minutos, a mesma voz feminina voltou, mas desta vez, havia um tom de surpresa nela.
"O Sr. Moretti disse que falará com você pessoalmente."
Sr. Moretti. O sobrenome de Gabriel.
"Ele está aí?", perguntei, tentando manter a calma.
"Não, mas ele está a caminho para encontrar a noiva dele aqui. Ele disse que você pode esperar."
Noiva.
A palavra me atingiu como um soco no estômago, me deixando sem ar.
Gabriel estava noivo.
Antes que eu pudesse processar o choque, ouvi um barulho na linha, como se o telefone estivesse sendo passado para outra pessoa.
"Alô? Quem é?"
Era a voz dele. A voz profunda e rouca que assombrava meus sonhos há três anos. Estava mais fria, mais dura, mas inconfundivelmente a voz de Gabriel.
Meu nome ficou preso na minha garganta.
"Sou eu," consegui sussurrar.
Silêncio. Um silêncio tão pesado que parecia que ia me esmagar.
"Sofia?", ele finalmente disse, seu nome soando como uma maldição em seus lábios. "Onde você está?"
"No apartamento," respondi.
"Não saia daí," ele ordenou, a voz cortante como vidro. "Estou indo."
A ligação terminou.