Capítulo 4

Fácil.

Enquanto Isabella falava, minha mente voltou no tempo.

Eu me lembrei do Gabriel que conheci, um garoto quebrado escondido dentro do corpo de um herdeiro da máfia. Sua infância não foi uma infância, foi um campo de treinamento brutal nas mãos de um pai impiedoso, sua mãe, uma figura fantasmagórica, incapaz de protegê-lo. Ele cresceu cercado por violência, traição e solidão.

Ele não confiava em ninguém.

Levei meses apenas para fazê-lo olhar nos meus olhos, para convencê-lo de que eu não era mais uma pessoa que o usaria e descartaria.

Eu me tornei sua sombra, sua programadora parceira no trabalho, a única pessoa que via o brilho de sua mente em vez da escuridão de seu nome.

Lembro-me do dia em que ele finalmente me confrontou, seus olhos escuros queimando com suspeita.

"O que você quer de mim, Sofia?" ele perguntou, sua voz baixa e perigosa. "Todo mundo quer alguma coisa."

Eu menti. Eu disse a ele que só queria um amigo, um parceiro de trabalho, mas meu coração já batia descontroladamente por ele, mesmo sabendo que minha missão era puramente para "zerar seu índice de corrupção".

Aos poucos, a mentira se tornou minha verdade, eu me apaixonei por ele, de verdade, desesperadamente.

Vivemos com quase nada naquele pequeno apartamento, ele havia se afastado da riqueza de sua família para ficar comigo, para tentar construir uma vida normal. Comíamos macarrão instantâneo, dividíamos um único cobertor no inverno e contávamos as estrelas da nossa janela. Foram os dias mais difíceis e mais felizes da minha vida.

Lembro-me da noite em que gangues rivais vieram atrás dele, uma emboscada. Eles queriam forçá-lo a voltar. Eu me joguei na frente dele para protegê-lo de uma faca, a cicatriz ainda ardia na minha costela como uma lembrança constante.

Foi preciso tudo de mim, cada grama da minha força, paciência e amor para salvá-lo da escuridão.

E essa mulher... essa Isabella... conseguiu tudo isso com alguns jantares?

A injustiça da coisa toda era sufocante.