Meus joelhos cederam. Uma onda de cólicas agonizantes tomou meu abdômen, tão intensa que roubou meu fôlego. Mordi o lábio para não gritar, sentindo o gosto metálico de sangue. A dor era uma coisa viva, torcendo e me rasgando por dentro.
Caí no chão, encolhendo-me em uma bola. Uma tosse violenta sacudiu meu corpo, e cuspi um bocado de sangue no mármore branco.
Do outro lado da sala, Ricardo se encolheu. Por um momento fugaz, um lampejo de algo - desconforto, talvez - cruzou suas feições perfeitas. Foi a primeira rachadura que vi em sua fachada gelada em cinco anos.
"Chame um médico," ele ordenou a uma empregada próxima, sua voz tensa.
"Não," eu ofeguei, forçando a palavra a sair através da dor. "Nenhum médico. O Lucas. Você prometeu."
Ele me encarou, seu rosto uma máscara de fúria fria mais uma vez. Ele virou nos calcanhares e saiu da sala, deixando-me contorcendo no chão em uma poça do meu próprio sangue.
As horas que se seguiram foram um borrão de dor excruciante. Um médico veio, uma lavagem estomacal foi feita, e o mundo desapareceu e reapareceu em ondas de agonia e inconsciência. Acordei não em um hospital, mas em um pequeno e úmido quarto nos aposentos dos empregados. Era uma cela.
Meu corpo era uma sinfonia de dores. Eu me sentia esvaziada, uma concha frágil que poderia se quebrar a qualquer momento.
A porta se abriu com um estrondo, me fazendo pular. Uma empregada que eu não reconhecia estava lá, seu rosto um esgar de desprezo. Ela jogou um maço de tecido em mim. Aterrissou no cobertor fino que cobria minhas pernas.
Era um vestido. Um pedaço de renda preta ridiculamente curto e frágil que parecia pertencer a uma casa de strip-tease. O tecido era barato e arranhava meus dedos.
"Ordens do patrão," disse a empregada, sua voz cheia de zombaria. "Você deve usar isso esta noite."
"Não," eu sussurrei, minha voz rouca. Afastei o vestido como se fosse uma cobra venenosa.
O esgar da empregada se alargou. Ela avançou e me deu um tapa forte no rosto. "Você não tem escolha." Ela arrancou o cobertor de mim e, com a ajuda de outra serva, forçou meus membros protestantes na roupa humilhante. "O Sr. Montenegro está recebendo um convidado. Ele quer que você os sirva."
Elas me arrastaram para fora do quarto, meu corpo tremendo incontrolavelmente. Na superfície polida de um espelho do corredor, vi um vislumbre de mim mesma. Eu era um espantalho vestido com os trapos de uma prostituta, meu rosto pálido e machucado, meus olhos arregalados de terror. Era difícil respirar.
Elas me empurraram para a sala de jantar privativa. A mesa estava posta para três, com taças de cristal e talheres reluzentes. Ricardo estava sentado na cabeceira da mesa, parecendo tão sereno e intocável quanto um deus. Ele nem sequer olhou para mim.
Ele ia me exibir na frente de alguém assim. Ele ia vender meu último pingo de dignidade para sua própria satisfação doentia.
Um homem grande e de aparência gordurosa, na casa dos cinquenta, sentava-se em frente a Ricardo. Seus olhos percorreram meu corpo, um sorriso lascivo se espalhando por seu rosto.
"Então, este é o presentinho que você me prometeu, Ricardo," o homem bradou, lambendo os lábios. "Ouvi dizer que ela é arisca."
Ricardo finalmente olhou para mim, seus olhos frios. "Sr. Queiroz, Helena está aqui para garantir que você tenha uma noite agradável."
Ele estava me dando para este porco. Como castigo.
Minha mente ficou em branco de horror. Tropecei para trás, tentando fugir, mas as empregadas me seguraram firme.
"Ricardo, não," eu implorei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Por favor, não faça isso comigo."
O Sr. Queiroz riu, um som horrível e úmido. Ele se levantou e caminhou pesadamente em minha direção. "Não se preocupe, querida. Seu marido só quer que eu lhe ensine uma lição. Ele me disse para ser minucioso."
Ele estendeu a mão para mim, seus dedos gordos agarrando meu braço. O mundo girou, e meu último pensamento consciente foi um grito que nunca saiu dos meus lábios.