Seu Amor, a Prisão Dela, o Filho Deles
img img Seu Amor, a Prisão Dela, o Filho Deles img Capítulo 4
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Capítulo 4

Do lado de fora da sala de jantar, Ricardo andava de um lado para o outro, um cigarro aceso entre os dedos. Ele deu uma longa tragada, a fumaça não fazendo nada para acalmar a estranha inquietação em seu peito. Ele ouviu a risada gordurosa do homem, seguida pelo apelo desesperado de Helena. Um músculo em sua mandíbula se contraiu. Isso era por Isabela. Isso era justiça.

Lá dentro, enquanto a mão suada do Sr. Queiroz se fechava em meu braço, um instinto primitivo tomou conta. Eu não ia deixar isso acontecer. Eu preferia morrer. Com toda a minha força, mordi minha própria língua com força. Uma dor aguda e lancinante explodiu em minha boca, seguida pelo jorro quente de sangue.

A súbita violência do ato chocou o Sr. Queiroz. Seu aperto afrouxou por uma fração de segundo. Era tudo que eu precisava. Eu o empurrei e me lancei em direção à mesa, pegando uma pesada faca de prata.

"Fique longe de mim!" eu gritei, minha voz abafada pelo sangue que enchia minha boca. Eu segurei a faca em minha própria garganta.

Naquele exato momento, a porta se abriu com um estrondo. Ricardo estava lá, seus olhos arregalados com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. Não era sua raiva fria de sempre; era uma raiva quente e violenta. Ele viu a faca na minha garganta, o sangue escorrendo dos meus lábios, e algo dentro dele estalou.

Ele se moveu mais rápido do que eu pensava ser possível. Ele não estava olhando para mim. Seus olhos estavam fixos no Sr. Queiroz. Ele agarrou o homem maior pelo colarinho e socou seu rosto com o punho. E depois outro. E outro. O som de osso quebrando ecoou na sala silenciosa.

Ele espancou o homem até que ele fosse um monte inconsciente e ensanguentado no chão. Então ele se virou para mim. Seu peito subia e descia, suas mãos cobertas por uma mistura do meu sangue e do de Queiroz.

"Você ousa?" ele sibilou, sua voz um rosnado baixo. "Você ousa tentar morrer?" Ele arrancou a faca da minha mão e a atirou do outro lado da sala. "Sua vida é minha para controlar. Você não tem o direito de acabar com ela."

Suas palavras não faziam sentido. Ele tinha acabado de tentar me dar para outro homem. Agora ele estava com raiva porque eu tentei escapar através da morte.

Minha mente, cambaleando de dor e terror, voltou a um tempo diferente. Nosso primeiro encontro em uma gala de caridade. Eu tinha tropeçado, e ele me segurou. Suas mãos eram gentis então. Ele tinha sorrido, uma visão rara e de tirar o fôlego. Ele me entregou uma conta de lápis-lazúli que havia caído da minha pulseira. "Para proteção," ele disse, ecoando as palavras da minha avó. Eu havia guardado aquela conta, aquela memória, durante todos os anos solitários na clínica de reabilitação. Era o último resquício do homem que eu pensei que ele era.

Agora, olhando para o monstro diante de mim, aquela memória parecia uma mentira. A conta parecia uma maldição.

A luta saiu de mim. Caí de joelhos, o resto da minha força se foi.

"Eu quero o divórcio, Ricardo," eu disse, minha voz surpreendentemente firme apesar do sangue que eu estava engolindo.

Ele congelou. A palavra pairou no ar entre nós, um pecado imperdoável.

"Minha única condição," continuei, olhando-o diretamente nos olhos, "é que você me deixe levar o Lucas comigo. Você pode ficar com tudo. Eu só quero meu irmão."

Seu rosto, já uma máscara de fúria, escureceu ainda mais. "Divórcio?" ele sussurrou, como se a própria palavra fosse veneno. Ele deu um passo em minha direção, e depois outro. Ele agarrou meus ombros e me levantou, seus dedos cravando em minha carne. "Você acha que pode simplesmente ir embora?"

Ele me sacudiu, sua raiva uma força palpável. "Você é minha esposa. Você sempre será minha esposa." Ele me empurrou com força, e minha cabeça bateu na quina da mesa de jantar. O mundo explodiu em um flash de branco, e então, misericordiosamente, houve apenas escuridão.

Acordei em um quarto branco e austero que cheirava a antisséptico. Um hospital diferente desta vez. O bipe rítmico de um monitor cardíaco era o único som. Do lado de fora da janela, uma tempestade se formava, o céu de um roxo machucado.

Um acesso de tosse me tomou, e senti um calor úmido e familiar na garganta. Tossi na minha mão e vi o vermelho vivo do sangue.

Um médico que eu não reconhecia entrou no quarto. Ele era jovem, com olhos gentis que continham um pingo de pena.

"Sra. Montenegro," ele disse gentilmente. "Sou o Dr. André Mendes."

Ele olhou para o meu prontuário, sua expressão sombria. "Seu corpo esteve sob imensa pressão. A desnutrição, os ferimentos internos da... substância que lhe foi dada... cobraram um preço severo. Seus órgãos estão começando a falhar."

Suas palavras me atingiram como um golpe físico.

"O que você está dizendo?" eu sussurrei.

Ele olhou para mim diretamente, sua gentileza tornando a verdade ainda mais cortante. "Estou dizendo que você não tem muito tempo, Sra. Montenegro. Alguns meses, talvez. Se tiver sorte."

Alguns meses.

Minha mão foi para a pequena conta de lápis-lazúli que eu ainda segurava. Não era mais um símbolo de esperança. Era uma zombaria. Um lembrete de um amor que se transformou em uma sentença de morte.

Os dias que se seguiram foram um novo tipo de inferno. Fui liberada do hospital e voltei para a mansão, mas não como paciente. Como uma escrava. Ricardo me forçou a realizar o trabalho manual mais degradante. Eu esfregava pisos, limpava banheiros, meu corpo ficando mais fraco a cada dia que passava. Os acessos de tosse se tornaram mais frequentes, o sangue mais abundante.

Os funcionários da casa se deliciavam com meu sofrimento.

"Anda logo, assassina," uma empregada zombou uma tarde, chutando um balde de água suja que eu acabara de encher. "Os banheiros não vão se limpar sozinhos."

Enquanto eu me ajoelhava para limpar a bagunça, ouvi duas delas sussurrando animadamente.

"Você ouviu? A senhorita Isabela volta amanhã! Para ficar!"

"Sério? Pensei que ela estivesse viajando."

"Não, o patrão a convidou para morar aqui. Ele quer cuidar dela."

O mundo inclinou. Isabela. Viva. Vindo para cá.

Não podia ser verdade.

                         

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