A Armação do Marido, a Justiça Feroz da Esposa
img img A Armação do Marido, a Justiça Feroz da Esposa img Capítulo 4
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Capítulo 4

Uma enfermeira entrou momentos depois que Arthur saiu. Sua expressão era cautelosa.

- Sra. Montenegro - ela começou, segurando uma prancheta. - Seu marido assinou a papelada inicial. Ele listou sua condição como gastrite induzida por álcool.

Ela fez uma pausa, olhando para mim de forma significativa. - Esse é um diagnóstico preciso?

A mentira era tão descarada, tão humilhante. Ele já estava construindo uma narrativa. A ex-presidiária instável que não sabe beber.

A enfermeira deve ter visto algo no meu rosto. Ela suspirou e tirou um prontuário diferente de trás da prancheta. - Este é o seu laudo real. Você tem uma úlcera perfurada. Está sangrando. Você precisa de cirurgia.

Ela me olhou com uma mistura de pena e distanciamento profissional. - Esta é uma condição preexistente, não é?

Eu não respondi. Apenas pensei nas noites intermináveis e sem sono na minha cela, meu estômago em chamas, a dor uma companheira constante. Lembrei-me de contar a Arthur sobre isso durante uma de suas breves visitas antes do julgamento. Ele parecia tão preocupado na época. Prometeu que me conseguiria o melhor tratamento, que consertaria tudo.

Ele havia dito: - Eu te amo, Helena. Sempre cuidarei de você.

Que piada.

A cirurgia era cara. Eu não tinha nada. Minhas economias se foram, gastas com advogados que Arthur havia recomendado, advogados que me falharam.

Eu não tinha escolha. Tive que ligar para ele.

Ele atendeu no segundo toque. - O que foi, Helena? Estou com a Catarina.

- Preciso de uma cirurgia - eu disse, minha voz vazia. - Não posso pagar por ela.

Seu suspiro foi pesado, sobrecarregado. - Helena, isso não pode esperar? Você não tem ideia do que estou lidando agora. Catarina está um caco. Você é sempre tão dramática.

Ao fundo, pude ouvir a voz dela, suave e chorosa. Então o tom de Arthur mudou, tornando-se gentil e calmante. - Está tudo bem, Cat. Estou aqui. Não vou a lugar nenhum.

Ele a estava confortando. Enquanto eu estava deitada em uma cama de hospital, com uma hemorragia interna.

Uma calma estranha tomou conta de mim. Os últimos resquícios de esperança, de amor, de qualquer coisa que eu pensei que tínhamos, finalmente murcharam e morreram. A dor no meu estômago não era nada comparada ao vasto e frio vazio dentro de mim.

Eu não conseguia chorar. O sentimento era profundo demais para lágrimas.

Em vez disso, comecei a rir. Não era um som feliz. Era uma risada selvagem e descontrolada que rasgou minha garganta, crua e cheia de desespero. Ri até meus lados doerem, até a risada se transformar em soluços ofegantes que não produziam lágrimas.

Ri até ficar completamente vazia.

Na manhã seguinte, uma enfermeira diferente entrou. - Sua cirurgia foi paga. Anonimamente.

Um momento depois, uma mulher entrou no quarto. Jussara Brennan. Minha companheira de cela. Minha amiga. A única pessoa que me apoiou por três anos infernais. Ela era esperta, durona como prego e ferozmente leal.

Ela olhou para mim e praguejou. - Flores, que porra ele fez com você?

Ela jogou um maço de cigarros na minha mesa de cabeceira. - Você está um caco.

Sua franqueza era um conforto estranho.

- Ainda ama aquele desgraçado? - ela perguntou, acendendo um cigarro para si mesma.

A pergunta pairou no ar. Eu amava? Pensei nisso. Pensei no homem com quem me casei e no monstro que tomou seu lugar.

Meus lábios se torceram em um sorriso fraco e conhecedor. - Eu quero destruí-lo, Juju. Não o quero na cadeia. Quero que ele perca tudo. Sua carreira. Sua reputação. Sua preciosa Catarina. Quero que ele sinta o que eu senti.

- Agora sim - Juju sorriu, soltando um anel de fumaça. - Qual é o plano?

- Primeiro de tudo - eu disse, minha voz ganhando força. - Preciso de uma nova identidade. Você pode me ajudar com isso?

O sorriso de Juju se alargou. - Pra você, Flores? Qualquer coisa.

Arthur apareceu horas depois, após o término da cirurgia. Ele entrou correndo, fingindo pânico, exigindo ver meus prontuários, repreendendo as enfermeiras por não o manterem informado.

O cirurgião garantiu a ele que o procedimento foi um sucesso.

Ele relaxou visivelmente, uma onda de alívio percorrendo seu rosto. Ele realmente parecia assustado. Assustado por poder ter me perdido.

Eu o observei da minha cama, uma observadora distante.

- Olhe para você - eu disse, minha voz fria. - Fingindo se importar agora que o perigo passou.

Ele se encolheu. - Helena, isso não é justo.

Ele veio para o meu lado, tentando pegar minha mão. - Eu estava tão preocupado. - Ele tentou explicar o laudo falsificado, culpando um estagiário excessivamente zeloso, alguém de quem ele já havia "cuidado".

- Cuidado como? - perguntei, meus olhos cravados nos dele. - Você o demitiu? Ou apenas deu uma bronca severa antes de correr para confortar a Catarina?

            
            

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