O corredor se encheu de moradores em pânico. Alguém me empurrou por trás, e eu tropecei, meus pés se enrolando debaixo de mim. Caí com força, o impacto me deixando sem ar.
As pessoas passaram por cima de mim, seus pés pisoteando minhas mãos, minhas pernas, minhas costas. A dor era aguda e ofuscante. Uma bota pesada pousou no meu peito, e senti um estalo doentio.
Eu não conseguia respirar. O ar estava sendo esmagado para fora dos meus pulmões.
A escuridão se insinuou nas bordas da minha visão. Meu último pensamento consciente foi do rosto de Arthur enquanto ele corria para longe de mim.
Acordei no hospital novamente. O cheiro agora familiar de antisséptico encheu meus sentidos.
Arthur estava lá, fumando um cigarro perto da janela aberta. A fumaça se enrolava em direção ao teto, um fantasma cinza no quarto estéril.
Eu tossi, minhas costelas quebradas gritando em protesto.
Ele imediatamente apagou o cigarro, seus movimentos bruscos. - Helena. Você acordou.
Ele correu para o meu lado, o rosto uma confusão de culpa e ansiedade. - Sinto muito. Pensei que você estivesse logo atrás de mim. Catarina tem asma, a fumaça... eu tive que tirá-la de lá.
Era sempre uma desculpa. Sempre uma razão pela qual ela vinha primeiro.
- Eu entendo - eu disse, minha voz um sussurro rouco.
Ele olhou para mim, confuso. - Você... você entende?
- Sim - eu disse. Minha voz era vazia, desprovida de emoção. Eu sabia que ele não estava falando comigo. Ele estava falando consigo mesmo, tentando se convencer de que era um bom homem que havia feito uma escolha difícil.
Ele relaxou, aliviado por eu não estar brigando com ele. - Bom. Isso é bom.
Uma onda de tontura me invadiu. A dor era imensa.
- Quero ver a vovó - eu disse, as palavras um apelo desesperado.
Ele assentiu. - Claro. Assim que você estiver melhor, vamos vê-la. Eu prometo.
Ele sentou-se ao lado da minha cama por horas, uma presença silenciosa e sombria. Seu telefone vibrou novamente. Catarina. Alguma nova crise.
- Eu tenho que ir - ele disse, já de pé.
Eu apenas assenti.
Um pavor frio se infiltrou em meus ossos. Algo estava errado.
Assim que ele saiu, usei o celular pré-pago que Juju me deu. Liguei para ela.
- Juju, preciso que você faça algo por mim. Descubra onde minha avó está. Agora.
Arthur voltou tarde da noite. Ele parecia... destruído. Suas roupas estavam amassadas, seu cabelo uma bagunça.
Ele invadiu o quarto e jogou um tablet na minha cama. - Que porra é essa, Helena?
Na tela havia uma notícia. Uma foto de Catarina, o rosto manchado de lágrimas. A manchete dizia: "AMANTE DE PROMOTOR É ASSediada POR ESPOSA CIUMENTA".
O artigo estava cheio de mentiras, me pintando como uma mulher vingativa e desprezada que estava atormentando a frágil e inocente Catarina. Detalhava meu "histórico de violência", transformando meu passado como vítima de abuso em uma narrativa de que eu era a agressora.
- Foi você, não foi? - Arthur rosnou, o rosto contorcido de raiva. - Vazando isso, tentando destruí-la?
- Não - eu disse, minha voz baixa.
Ele não acreditou em mim. Ele se lançou sobre mim, as mãos agarrando a frente da minha camisola de hospital. Ele me sacudiu, minha cabeça batendo contra o travesseiro.
- Você é um monstro, Helena! Está tentando arruinar a vida dela! - ele gritou, sua saliva atingindo meu rosto. - Depois de tudo que fiz por você!
Ele me empurrou de volta contra a cama e saiu furioso, me deixando tremendo, não de medo, mas de uma raiva fria e clara.
Fiquei deitada por um longo tempo, a dor nas minhas costelas uma pulsação surda e constante. Pensei em nossos votos de casamento. Na saúde e na doença. Para o melhor ou para o pior.
Eu me perguntei se ele sequer se lembrava deles.