Casada com um Monstro: Meu Grito Silencioso
img img Casada com um Monstro: Meu Grito Silencioso img Capítulo 2
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Capítulo 2

A mudança começou há seis meses. Tiago me apresentou a Kátia Campos em uma gala de caridade que eu estava organizando. Ele disse que ela era uma artista talentosa que ele estava patrocinando, uma garota pobre de um lar desfeito.

Seu estilo era agressivo, feito para chocar. Achei de mau gosto, mas guardei minha opinião para mim.

Então, ela se candidatou a uma bolsa da fundação de arte da minha família. Sua proposta envolvia usar sua própria avó doente como uma escultura viva, alegando que era uma declaração sobre a mortalidade. O conselho, que eu presidia, rejeitou por unanimidade.

Kátia me encurralou após a reunião. Ela me acusou de ter ciúmes, de estar a impedindo.

"Você não sabe como é fazer o que for preciso pelo seu sonho!", ela cuspiu. "Eu sacrificaria qualquer coisa, qualquer um!"

Na época, Tiago ficou furioso em meu nome. Ele a chamou de monstro, de aproveitadora. Ele me abraçou e me disse que nunca deixaria ninguém como ela perto de nossa família novamente.

Alguns meses depois, Kátia Campos era um "gênio" aos olhos dele.

Eu o questionei, confusa. "Tiago, você disse que ela era um monstro."

"É só um investimento, Helena", ele disse, descartando minhas preocupações. "O trabalho dela tem valor de choque. Vai vender."

Ele me puxou para seus braços, seus lábios encontrando os meus. Ele era tão convincente, seu toque tão familiar e amoroso. Ele sussurrou que eu era a única, que me amava mais que a própria vida.

Eu acreditei nele. Fui uma tola.

O nome "Kátia" começou a aparecer cada vez mais. Um jantar com ela para discutir estratégia. Um voo para a SP-Arte para ver sua nova peça. Ele sempre tinha uma desculpa perfeita, sempre seguida por reafirmações apaixonadas de seu amor por mim.

Eu nunca suspeitei da profundidade de sua obsessão, da realidade arrepiante de que ele sacrificaria meu irmão, minha carreira e nosso filho ainda não nascido por ela.

Agora, parada em nossa sala de estar, a verdade era um golpe físico. Eu tremia, meu corpo sacudido por soluços. Eu concordei com seus termos. Eu tinha que concordar. Precisava proteger Caio.

Entreguei as provas que meu advogado havia reunido e assinei o acordo de confidencialidade que ele havia preparado.

Enquanto eu saía cambaleando de casa, o céu se abriu. Uma chuva fria e miserável começou a cair, me encharcando até os ossos em segundos.

Meu telefone tocou. Era Irene, sua voz frenética e embargada de lágrimas.

"Helena! É o Caio! Ele se jogou!"

O mundo girou. Minhas pernas cederam e eu desabei no asfalto molhado. Uma dor aguda e uma cãibra atravessaram meu abdômen.

Não. Agora não.

Ignorando a dor, voltei correndo para o carro e acelerei em direção ao hospital, minhas mãos tremendo tanto que mal conseguia segurar o volante.

Corri para a emergência e o vi. Caio estava em uma maca, o rosto pálido, o corpo quebrado. Irene estava de joelhos, implorando a um médico para fazer alguma coisa.

"Por favor! Você tem que salvá-lo!"

O médico apenas ficou parado, o rosto uma máscara de relutância sombria. "Sinto muito, senhora. Não há nada que possamos fazer."

"Como assim não há nada que vocês possam fazer?", gritei, agarrando seu braço. A dor no meu estômago era um fogo violento, mas eu a ignorei. "Ele ainda está respirando! Faça o seu trabalho!"

As pessoas começaram a olhar. Eu podia sentir seus olhos em mim, ver o sangue que agora manchava a frente do meu vestido.

"É assim que este hospital trata os pacientes?", um homem na multidão gritou. "Todos nós temos celulares! Isso vai estar em todas as notícias em cinco minutos!"

O médico se encolheu. Ele baixou a voz. "Olha, minhas mãos estão atadas. Eu tenho minhas ordens."

"Ordens? Ordens de quem?"

Ele não me encarou. "Do Sr. Slater. Ele é o principal benfeitor deste hospital. Ele disse... ele disse para não desperdiçar recursos."

"Desperdiçar recursos?", eu mal conseguia falar. "Os ferimentos dele... nem são tão graves. Um cirurgião competente poderia consertar isso!"

"As ordens do Sr. Slater são absolutas", disse o médico, com a voz trêmula. "Eu tenho uma família. Não posso perder meu emprego."

Minha mão caiu de seu braço. Senti uma onda de náusea.

Gritei por ajuda, por outro médico, por qualquer um, até minha voz ficar rouca. Tentei encontrar um telefone para pedir uma transferência, mas era tarde demais.

Olhei para o rosto imóvel de Caio. A vida havia se esvaído dele enquanto discutíamos.

Ele se foi.

Tiago tinha feito isso. Ele havia assassinado meu irmão com um único telefonema.

A dor no meu abdômen tornou-se insuportável. Agarrei meu estômago, ofegando por um ar que não vinha. Meu bebê. Nosso bebê.

A culpa foi minha. Eu assinei aquele papel. Eu confiei nele. Eu matei meu irmão. Eu matei meu bebê.

Irene correu para o meu lado, seu rosto um borrão de lágrimas. "Helena, não é sua culpa. Temos que sair daqui. Temos que sair desta cidade."

            
            

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