Capítulo 6

O leilão começou. Tiago levou Kátia para a primeira fila, seu braço possessivamente em volta da cintura dela. Ele olhou para trás para mim, um aviso silencioso em seus olhos. Ele estava me observando, desfrutando da minha humilhação.

Lembrei-me de um tempo em que ele teria movido montanhas para me proteger de uma única palavra indelicada. Agora, ele era quem orquestrava minha execução pública. Aquele homem se foi, substituído por este monstro. Estava acabado. Tudo o que eu queria era que esta noite terminasse.

Tiago comprou para Kátia tudo o que ela apontava, uma exibição luxuosa de sua riqueza e devoção.

Então, uma pintura pequena e despretensiosa foi a leilão. Alguém na fileira de trás superou a oferta de Tiago antes mesmo que ele pudesse levantar sua raquete.

Kátia fez beicinho. "Ah, mas eu queria aquela, querido. Ficaria perfeita no nosso quarto."

Após o leilão, Tiago procurou o comprador, um homem chamado Marcos Telles, um notório fotógrafo de tabloides com reputação de gostos depravados. Tiago ofereceu a ele o dobro do que havia pago.

Telles recusou.

O rosto de Tiago endureceu. Ele não estava acostumado a ouvir um não.

Telles sorriu, um sorriso oleoso e desagradável. "Eu poderia estar disposto a trocar, no entanto."

Eu estava nas sombras de um corredor próximo, tentando ser invisível, quando ouvi a conversa deles.

"Eu preciso de um novo tema", disse Telles, seus olhos percorrendo-me de uma forma que fez minha pele arrepiar. "Sua esposa. Um ensaio fotográfico exclusivo. Ela, como minha tela."

A mandíbula de Tiago se contraiu. Por um momento, um lampejo do antigo Tiago, o protetor, surgiu em seus olhos. Mas desapareceu tão rápido quanto apareceu. Ele não disse não.

Meu sangue gelou. Eu sabia que tipo de "ensaios fotográficos" Marcos Telles era famoso. Eram brutais, degradantes e muitas vezes terminavam com suas modelos psicologicamente destruídas.

Virei-me para sair, para correr, mas mãos fortes me agarraram por trás. Um pano foi pressionado sobre minha boca e nariz, o cheiro doce e enjoativo de clorofórmio enchendo meus pulmões.

Minha visão ficou turva. O mundo começou a desaparecer.

A última coisa que ouvi foi a voz de Tiago, um sussurro suave em meu ouvido.

"Tudo vai acabar logo, Helena. Então poderemos voltar a ser como éramos."