"Ria", disse ele, sua voz carregada de uma tristeza cuidadosamente ensaiada. "Sinto muito pela sua mãe."
"Sim", eu disse. A palavra era plana, vazia.
"Meu pai acabou de me contar. Ele viu o obituário. Não acredito que você não me ligou."
"Eu estava ocupada", respondi, meus olhos fixos em uma rachadura na calçada.
"Amor, não faz isso", disse ele, o antigo termo de carinho soando como uma obscenidade.
"Onde você está, Salvatore?" perguntei, cortando-o.
"Estou no apartamento. Nosso apartamento. Onde você está? Fiquei preocupado."
"Estou na casa da minha mãe."
Ele soltou um suspiro de alívio. "Graças a Deus. Tive medo que você tivesse feito algo... drástico."
"Eu tentei te ligar", ele continuou, sua voz mudando para um tom apaziguador. "Depois que você me contou sobre a Elena. Desculpe não ter retornado antes. As coisas estavam caóticas aqui."
"Sim", eu disse novamente. "Você estava esquiando."
Ele suspirou, o som de um homem se preparando para uma discussão. "A Sofia ficou devastada, Ria. Absolutamente arrasada de culpa. Ela chorou por horas."
Eu não disse nada, apenas ouvi o som distante de uma sirene.
"Ela amava sua mãe", ele insistiu.
"Põe ela no telefone", eu disse, minha voz perigosamente baixa.
Houve um som abafado, sussurros trocados. Então a voz de Sofia, doce como melado.
"Ria? Ah, queridinha, eu sinto tanto, tanto. Estou péssima. Eu amava a Elena como se fosse minha própria mãe."
A audácia da mentira quase me fez rir.
"Ela era uma mulher maravilhosa", Sofia continuou, sua voz embargada. "Tão gentil. Ela não deveria ter assustado o Caesar daquele jeito, mas sei que não foi por mal."
Uma raiva fria e precisa se enraizou em meu peito. "Minha mãe não assustou seu cachorro, Sofia."
"Bem, o Sal me ajudou com o seguro, e..."
"Que bom", eu disse, minha voz plana.
Sal voltou para a linha. "Viu? Foi um acidente trágico. Essas coisas acontecem."
"Acontecem?" perguntei. "Acidentes trágicos com cães que têm histórico de agressão e não são vacinados?"
Silêncio. Um silêncio denso e condenatório.
"Quem te disse isso?" ele finalmente rosnou, sua voz baixa e ameaçadora.
"O médico", eu disse simplesmente.
"Você está histérica", ele cuspiu. "Você está de luto e não está pensando com clareza. Vamos resolver isso quando eu te vir. Mando sacrificar o cachorro, se é isso que você quer. Podemos consertar isso."
Consertar isso. Como se minha mãe fosse um vaso quebrado.
Ele a estava protegendo. Ele estava escolhendo a aliança com a Família Ricci em vez de mim, em vez da verdade. Em vez da memória da minha mãe.
"Preciso ir", eu disse abruptamente.
"Para onde você vai? Estou indo aí."
Eu desliguei.
Imediatamente fui às configurações do meu celular e bloqueei o número dele. Depois bloqueei o de Sofia. Observei seus nomes desaparecerem da minha lista de contatos, um pequeno e satisfatório ato de apagamento.
Sentei-me na varanda enquanto o sol se punha, o céu se tornando um roxo machucado. Eu tinha me esforçado tanto para ser a mulher Moretti perfeita. Polida, recatada, solidária. Um belo acessório para um homem poderoso. Eu havia construído meu mundo inteiro ao redor dele.
E com um telefonema, aquele mundo se revelou o que era: uma gaiola dourada com um monstro na porta.
E eu não tinha mais nada a que me agarrar. Nada além de uma casa silenciosa cheia de fantasmas e um futuro que era um branco assustador e vazio.