A porta se abriu. Cecília entrou, segurando a cintura devido à gravidez, seguida por Jerald.
Ela usava um vestido rosa empoeirado, mas fixou seu olhar no vestido de veludo bordô sob medida pendurado no closet. Fora feito à mão por alfaiates habilidosos em um país estrangeiro. Clara o havia preparado especialmente para o jantar.
"Esse vestido é lindo," disse Cecília suavemente, acariciando a barriga, "Jerald, quero usar aquele."
Jerald franziu a testa e disse a Cecília: "Esse pertence à Clara..."
"Não me importo. Quero usá-lo." Cecília se aninhou nos braços de Jerald com os olhos avermelhados. "Estou carregando seu filho. E nem posso usar um vestido que gosto? Você realmente acha que um vestido vale mais do que eu?"
Jerald, incapaz de resistir a ela, virou-se para Clara e exigiu casualmente: "Clara, é só um vestido. Deixe Cecília usá-lo. Devemos considerar os sentimentos de uma mulher grávida."
Clara olhou para ele através do espelho, levantou-se e entrou no closet para pegar o vestido. Ela o entregou a Cecília. "Tem certeza de que quer usá-lo?"
Cecília não percebeu a insinuação nas palavras dela e pegou o vestido com um sorriso triunfante. "Obrigada, Dona Lucas."
Ela segurou o braço de Jerald e saiu do quarto, como se o vestido sempre tivesse sido dela.
Jerald lançou um olhar culpado para Clara antes de sair. "Clara, não se atrase para o jantar."
Clara não respondeu. Depois que saíram, ela tirou outro vestido preto de sereia do fundo do guarda-roupa.
Seu design simples realçava ainda mais sua figura graciosa.
Quando chegou ao cruzeiro, o jantar estava prestes a começar.
Clara caminhou pelo convés segurando o braço de Jerald. Ao chegar, a conversa ao redor parou por um momento.
Os convidados a olhavam com admiração e elogios. Os lábios vermelhos contrastavam com o vestido preto, conferindo-lhe um ar deslumbrante e enigmático.
"A Dona Lucas está deslumbrante hoje," sussurrou uma convidada em admiração. "Sua elegância é verdadeiramente incomparável."
"De fato. Dizem que a Sra. Rernald era famosa por sua beleza, e a Dona Lucas se assemelha a ela."
"É verdade, elas compartilham o mesmo sobrenome. Talvez haja uma conexão ancestral entre elas."
"Se a filha da família Rernald não tivesse falecido, ela certamente seria a mulher mais bonita de Hallen agora."
Jerald parou, subconscientemente apertando o aperto em sua mão. Uma emoção complexa cintilou em seus olhos.
Ele conhecia a beleza de Clara melhor do que qualquer um. Se não fosse pelo acidente, ele nunca teria deixado outra mulher entrar na família. Infelizmente, ele precisava de um filho.
Para Cecília, a admiração por Clara soava desagradável.
O vestido de veludo bordô, com seu tecido lustroso, destacava sua figura grávida e volumosa. Além disso, sua tez estava amarelada. Quando estava ao lado de Clara, era claro quem era a verdadeira beleza.
Cecília cerrou os punhos. Seu olhar para Clara era carregado de rancor.
No meio do jantar, Clara se desculpou para tomar um ar fresco e caminhou sozinha até o final do convés.
A brisa suave do mar acariciava seus cabelos esvoaçantes. As luzes da cidade distante brilhavam.
Ela tocou o colar em seu pescoço.
Era uma corrente de prata com um pequeno pingente de estrela, presente de Jerald no dia em que ele declarou seu amor. Ela o usava há muitos anos.
"Clara!" Cecília avançou furiosa, com passos decididos e mãos nos quadris. Seu movimento parecia particularmente desajeitado por causa da gravidez.
"Você fez isso de propósito?" Cecília a encarou. "Vestida assim, quem você está tentando impressionar? Quer que todos zombem de mim?"
Clara a ignorou e estava prestes a sair.
"Pare!" Cecília avançou para bloqueá-la. De repente, seu olhar caiu sobre o colar no pescoço de Clara. Seus olhos brilharam, "Esse colar é lindo. Me dê."
"Foi um presente de Jerald." Clara pressionou a mão contra o colar, seu tom ficando frio. "Não vou te dar.
Você já se divertiu roubando o homem dos outros e agora quer tomar tudo sem pensar? Por que não pede a Jerald um? Ah, certo. Foi feito pela mãe dele. E ela disse para ele dar a quem ele ama."
"Vou ter o que você tem agora!" O olhar de Cecília no colar tornou-se mais frenético. Ela tentou agarrar o colar. "Jerald é meu. O título de Dona Lucas é meu. E seu colar também!"
"Solte!" Clara desviou-se dela.
Vendo Clara se esquivar, a loucura de Cecília se intensificou. Ela avançou, agarrou o pulso de Clara com uma mão e puxou a corrente do colar com a outra. Estava tão irritada que até arranhou a pele de Clara com suas unhas. "Não vou soltar! Pertence a mim! Você, uma mulher que não pode ter filhos, não tem direito de manter a posição de Dona Lucas ou usar um colar dele!"
A corrente apertou dolorosamente em volta do pescoço de Clara. Clara empurrou Cecília com força. Enquanto lutavam, Cecília escorregou e caiu no chão. Jerald, que havia acabado de virar a esquina do convés, viu a cena.
"Jerald!" Cecília gritou.
Jerald tinha vindo procurar Clara. Ao ver isso, sentiu o coração apertar e correu para segurar Cecília, protegendo-a atrás dele.
Quando percebeu que Clara e Cecília estavam discutindo e brigando, e notou que Cecília estava pálida e protegendo a barriga com a mão, seu olhar para Clara se tornou gélido. Ele a repreendeu severamente: "Clara! O que está fazendo com ela? Ela está grávida!"
O pulso de Clara ainda tinha as marcas vermelhas causadas pela força de Cecília. Ela olhou para Jerald, vendo-o proteger Cecília e percebendo seu total favoritismo por outra mulher.
Notou alguns convidados por perto, espiando e cochichando com os olhos cheios de curiosidade e ânsia por fofoca.
Todas as suas mágoas e desespero se transformaram em uma determinação feroz.
Quando Jerald estava prestes a falar, Clara levantou a mão e deu-lhe um tapa forte no rosto.
O tapa ecoou claramente na brisa do mar.
Jerald ficou atordoado, segurando o rosto e encarando Clara em choque.
Cecília também ficou perplexa, esquecendo-se de fingir fraqueza.
Os murmúrios distantes cessaram abruptamente.
A mão de Clara formigava levemente.
Ela olhou para Jerald calmamente e disse com firmeza: "Jerald, vamos nos divorciar."