Visita íntima
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Capítulo 4 04

A Última Esperança

Vanessa

No final do ano passado, minha mãe descobriu que estava com câncer. Ela não quis me contar de imediato - dizia que era pra não me preocupar, que daria um jeito sozinha. E tentou. Continuou trabalhando mesmo quando o corpo já dava sinais de fraqueza. Mas a verdade é que todo mundo ao redor já tava desconfiado.

O dia em que ela desmaiou no serviço foi o último. Ninguém mais quis ela lá. E, como sempre foi só eu e ela nesse mundo, desde que me entendo por gente, a queda da nossa renda virou um abismo.

Antes, a gente vivia com o básico. Eu trabalhava, ela também. Não era muito, mas dava pra ir levando. Só que depois que ela parou de trabalhar, as contas começaram a se acumular feito lixo em beco de viela. E quando, finalmente, ela me contou a verdade... eu desabei.

Pensei que ia perdê-la. Pensei que ia ficar sozinha nesse mundo. E eu não tenho mais ninguém.

Ninguém além dela.

Eu prometi pra mim mesma que ia dar um jeito. Trabalhar em dobro, fazer bico, vender coisa, juntar centavo por centavo. Mas os dias passaram. Os meses passaram. E eu continuo ganhando o mesmo salário de merda - mil reais.

Com isso, eu tenho que pagar o aluguel, água, luz, comida, remédio, passagem. E o que sobra? Nada. Às vezes nem o básico fecha. E mesmo assim, eu me obrigo a guardar um trocado por mês.

Mas o tratamento custa dez mil reais. E eu não consigo nem raspar dois.

Toda vez que eu guardo alguma coisa, surge outra despesa que suga o que restava.

Mas eu não vou desistir. Nem que pra isso eu tenha que fazer o que nunca imaginei. Nem que precise vender minha alma. Ou meu corpo.

Cheguei no bar do Seu Zé já com o mundo nas costas e o coração na mão. Tava atrasada - de novo. Entrei apressada, coloquei o avental quase rasgando os cordões, tentando passar despercebida. Mas bastou eu virar pro balcão que a Leila, esposa dele, tava me esperando com os braços cruzados e a cara de nojo de sempre.

- De novo atrasada, garota? - ela disse seca, me medindo de cima a baixo.

Tentei sorrir, mesmo com o olho ardendo.

- Me desculpa, dona Leila. Eu tava no hospital com a minha mãe e...

- Isso não vai dar certo - ela me cortou, balançando a cabeça. - Eu preciso de alguém aqui em tempo integral. Ou você trabalha, ou cuida da sua mãe. As duas coisas, não dá.

- Eu... eu preciso estar com ela, dona Leila. Ela tá em tratamento, tá muito frágil...

Ela não hesitou. Nem piscou.

- Sinto muito, querida. Mas eu e meu marido já conversamos. Vamos contratar outra pessoa pro seu lugar.

- O quê? - senti meu mundo parar. - A senhora não pode fazer isso! Eu preciso desse trabalho! A senhora sabe da situação da minha mãe!

- Sinto muito, Vanessa. Mas você não é mais necessária - disse com aquele tom de pena forçada que me deu nojo.

Fiquei parada, tentando entender como alguém podia ser tão fria. Como ela teve coragem de me mandar embora sabendo da minha situação? Como consegue dormir?

- A senhora é uma vaca! - gritei, sem pensar.

Ela arregalou os olhos, ofendida.

- Como é!?

- A senhora escutou muito bem! É uma velha feia, mal amada, mal comida! E eu espero que a senhora caia e quebre todos os dentes! - tirei o avental com força e joguei na cara dela. - Sua velha fedorenta!

Todo mundo no bar me olhou. As mesas pararam. O garçom largou o pano. A TV ficou muda. Mas eu não ligava mais.

Saí dali com a cabeça erguida e os olhos queimando. O orgulho tentava segurar o choro, mas era difícil.

Perder meu emprego hoje era tudo que eu não precisava.

Mas, ao mesmo tempo, parecia o empurrão final.

A vida me empurrou até o limite. E agora... eu não tinha mais por onde fugir.

Mais tarde, sentada no quarto, sem coragem de contar pra minha mãe o que aconteceu, abri o Instagram só pra distrair a cabeça.

Foi aí que chegou a mensagem.

Uma mulher que eu nunca tinha visto antes.

Dizendo que me viu com minha mãe no hospital, e que podia me indicar pra uma "oportunidade".

Disse que era uma forma de ganhar muito dinheiro de uma vez.

Curiosa, perguntei o que era.

Ela respondeu com frieza:

> "Uma visita íntima. O Rei do morro está procurando companhia. Paga adiantado. Discreta. Você tem o perfil."

Na hora, senti um enjoo. Me deu vontade de xingar. De denunciar.

Mas logo depois, a imagem da minha mãe voltou na minha cabeça.

A mão dela tremendo no lençol. O sorriso forçado pra não me preocupar.

A voz fraca, tentando me convencer que ia ficar tudo bem.

E foi aí que eu pensei na Rubi.

Ela era forte.

Ela era linda.

Ela chamava atenção por onde passava.

Talvez... ela conseguisse.

Ou talvez eu mesma tivesse que fazer isso.

Talvez... seja o único jeito.

            
            

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