A enfermeira suspirou, afofando seu travesseiro. "Você tem sorte. Pode receber alta esta tarde. Seu marido pagou por tudo."
Quando a enfermeira saiu, Clara a ouviu conversando com uma colega no corredor.
"Você acredita? Ela desmaia por doar sangue para a ex dele, e ele nem veio vê-la uma vez."
"Eu sei! Ele ficou no quarto da Sra. Fontes o tempo todo. Ele é tão devotado a ela. Queria ter um homem que me amasse tanto assim."
"É, mas coitada da esposa dele... fica aí deitada, sozinha."
As vozes desapareceram. Clara olhou pela janela, observando um pássaro solitário voar pelo céu cinzento.
A tarde veio e se foi. Caio nunca apareceu.
Sentindo-se tonta, Clara deu alta a si mesma do hospital. Ela teve que passar pelo quarto de Cassandra para chegar ao elevador.
A porta estava entreaberta.
Ela o viu. Caio estava sentado ao lado da cama de Cassandra, segurando sua mão, sua expressão mais suave e terna do que ela jamais vira. Ele estava descascando uma maçã para ela, seus movimentos cuidadosos e precisos. Ele nem sequer olhou para o corredor. Ele não sabia que ela estava lá. Ele não havia perguntado.
A cena era um tipo familiar de dor. Ela se virou e foi embora.
A casa estava fria e vazia. Parecia menos um lar e mais um museu de uma vida da qual ela nunca fez parte de verdade.
Ela tentou fazer uma xícara de chá, mas suas mãos tremiam demais. A xícara de porcelana escorregou de seu aperto e se estilhaçou no chão de mármore.
O som quebrou algo dentro dela. Uma única lágrima quente rolou por sua bochecha. Depois outra.
Ela se ajoelhou para pegar os cacos, e uma borda afiada cortou seu dedo. O sangue vermelho vivo brotou, um contraste gritante com sua pele pálida.
"Jairo," ela sussurrou, o nome um soluço doloroso. "Estou tão cansada."
Ela se lembrou de como Jairo sempre a repreendia por ser desastrada, como ele gentilmente pegava as coisas de suas mãos e as fazia ele mesmo, seu toque sempre tão quente.
Depois de limpar a bagunça, ela se levantou, respirando fundo. Quase lá, Clara. Só mais um pouco.
"Pelo que você está chorando agora?"
A voz fria a fez pular. Caio estava na porta, de braços cruzados, o rosto uma máscara de irritação.
"Fazendo cena pra mim? Doar sangue, desmaiar, agora isso? Você nunca se cansa desses joguinhos patéticos?"
Ela abriu a boca para argumentar, mas ele a cortou.
"Eu não me importo, Clara. Já te disse mil vezes. Eu nunca vou ter sentimentos por você."
Ela ficou em silêncio, o olhar caindo para o chão. Era mais fácil assim.
Seu silêncio pareceu irritá-lo ainda mais. Um músculo se contraiu em sua mandíbula.
"Por que você não chamou a empregada para limpar isso?" ele rosnou, mas então fez algo que a chocou. Ele avançou, a pegou nos braços e a levou escada acima.
Seu toque era rude, mas sua voz, quando falou novamente, era mais suave.
"Você é uma idiota. Deveria estar descansando."
Clara estava confusa demais para lutar. Ele a deitou na cama de seu quarto, um quarto em que ele nunca havia entrado em dez anos.
Ela olhou para o perfil dele, tão dolorosamente semelhante ao de Jairo. O mesmo maxilar forte, o mesmo cabelo escuro.
Sem pensar, ela estendeu a mão e agarrou seu pulso.
"Fica," ela sussurrou, a voz pequena e fraca. "Por favor. Só por esta noite."
Ele congelou, interpretando mal seu apelo. Um lampejo de algo - seria tentação? - cruzou seu rosto antes de ser substituído por sua máscara fria de sempre.
Naquele exato momento, seu telefone tocou, o som estridente quebrando o momento.
Ele atendeu. Era Cassandra. A voz dela, fraca e frágil, saiu pelo alto-falante.
"Caio... estou com medo. Você pode voltar?"
Caio olhou para Clara, um breve e fugaz momento de hesitação em seus olhos.
Clara viu. Ela entendeu. Ela soltou o pulso dele.
"Vai," ela disse, a voz neutra. "Ela precisa de você."
Ele pareceu quase aliviado. Ele estendeu a mão, os dedos roçando seu cabelo em um gesto surpreendentemente gentil.
"Eu volto mais tarde," ele prometeu.
Então ele se virou e saiu do quarto sem um segundo olhar.
Ele não voltou.