Caio desceu as escadas então, ajustando o cobertor nos ombros de Cassandra com uma ternura que fez o estômago de Clara se contrair.
"Clara," ele disse, sem olhar para ela. "Cassandra precisa descansar. Você pode cuidar dela."
Não era um pedido. Era uma ordem.
Cassandra sorriu docemente. "Oh, eu não poderia impor. Tenho certeza de que a Clara ainda está fraca de... tudo."
"Ela está bem," disse Caio, o tom desdenhoso. "Ela não tem nada melhor para fazer de qualquer maneira."
As palavras foram um soco casual no estômago. Ele a via como nada mais que uma serva, uma conveniência.
Clara mordeu o lábio, sentindo o gosto de sangue. Ela assentiu em silêncio.
"Estou com um pouco de fome," disse Cassandra, olhando para Clara com olhos grandes e inocentes. "Você poderia me fazer um mingau? Do tipo que você faz para o Caio. Ele diz que é o favorito dele."
As mãos de Clara se fecharam em punhos. Ela nunca havia cozinhado para ninguém além de Jairo e, por extensão, Caio. Ela era uma artista, uma pintora. Tinha sido mimada e cuidada a vida inteira.
Ela queria dizer não. Queria gritar.
Mas então sentiu os olhos de Caio sobre ela, frios e ameaçadores.
Ela abriu os punhos e se virou para a cozinha sem uma palavra.
Levou meia hora para fazer o mingau. Quando ela o trouxe, Caio havia saído, atendendo a uma ligação de trabalho em seu escritório.
Cassandra estava sozinha na sala de estar. A máscara doce e frágil havia desaparecido. Seus olhos eram afiados e zombeteiros.
"Você realmente é uma cachorrinha patética, sabia?" ela debochou. "Dez anos, e ele ainda te trata como lixo."
Clara colocou a tigela na mesa de centro.
Cassandra torceu o nariz em desgosto. "Isso está muito quente. Não consigo comer. Faça de novo."
Clara hesitou. Ela pegou a tigela, com a intenção de voltar para a cozinha.
De repente, Cassandra arrancou a tigela de suas mãos e deliberadamente derramou o mingau quente em seu próprio braço.
Ela soltou um grito agudo.
"Ahh! Queima!"
Caio saiu correndo de seu escritório, o rosto sombrio de fúria. Ele viu Cassandra segurando seu braço vermelho e escaldado e Clara de pé sobre ela com a tigela vazia.
Ele não perguntou o que aconteceu. Ele avançou e agarrou o pulso de Clara, seu aperto como um torno.
"Que porra você fez?" ele rugiu.
Cassandra já estava chorando, a voz embargada por lágrimas falsas. "Não é culpa dela, Caio! Eu só disse que estava um pouco quente... não queria deixá-la com raiva."
"Eu não..." Clara começou, mas Caio já a estava sacudindo, os olhos em chamas.
"Cala a boca! Eu te avisei. Eu te avisei para não tocar nela."
Ele jogou a mão dela para longe com tanta força que ela cambaleou para trás, batendo na parede. O impacto fez seus dentes rangerem.
Ele cuidadosamente levantou Cassandra em seus braços, a voz suavizando. "Está tudo bem. Vou chamar um médico."
Enquanto a carregava para longe, Cassandra olhou por cima do ombro dele para Clara. Seus lábios se curvaram em um sorriso triunfante e vicioso.
Clara deslizou pela parede, o corpo tremendo. A luta se esvaiu dela, deixando apenas uma exaustão vasta e oca.
Ela abraçou os joelhos, encolhendo-se.
"Jairo," ela sussurrou no silêncio. "Por favor... venha me buscar."