Esposa Invisível, Amor Eterno
img img Esposa Invisível, Amor Eterno img Capítulo 4
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Clara dormiu no chão da sala de estar.

Quando acordou, a casa estava vazia. Caio e Cassandra haviam saído. Uma dor surda havia se instalado profundamente em seus ossos.

Hoje era o aniversário da morte de Jairo.

Ela dirigiu até o cemitério São João Batista, um pequeno buquê de lírios brancos no banco do passageiro.

A lápide de mármore preto estava fria ao toque. A foto dele sorria de volta para ela, para sempre jovem, para sempre gentil. Ela traçou o contorno de seu rosto, as pontas dos dedos tremendo.

"Só mais um dia, meu amor," ela sussurrou. "Esta é a última vez que terei que te visitar assim. Amanhã, estaremos juntos."

Ela ficou lá até o sol da tarde começar a mergulhar abaixo do horizonte.

Seu celular vibrou. Uma mensagem de Caio.

Venha para o set de filmagem. Agora.

Ele nem disse por quê. Ela sabia que era melhor não perguntar.

Quando chegou, entendeu. A dublê de Cassandra não havia aparecido. E Cassandra, sempre a flor delicada, se recusou a fazer suas próprias cenas de ação.

Especialmente a que estavam filmando hoje.

A cena exigia que ela ficasse submersa em um lago gelado.

"A luz está acabando!" gritou o diretor, impaciente.

Clara não teve escolha. Ela já estava fraca, seu corpo ainda se recuperando. No momento em que a água gelada se fechou sobre ela, um tremor violento sacudiu seu corpo.

"Corta!" gritou Cassandra de sua cadeira aquecida na margem. "Não ficou bom. Sua expressão estava errada. Vamos fazer de novo."

Repetidamente, ela encontrava defeitos. Repetidamente, Clara era forçada a mergulhar na água gélida.

Seus lábios ficaram azuis. Seu corpo tremia incontrolavelmente.

Finalmente, após a décima tomada, Cassandra pareceu satisfeita.

Dois membros da equipe tiveram que tirar Clara da água. Ela não sentia as pernas.

Cassandra caminhou até Caio, entrelaçando o braço no dele. "Obrigada por deixar a Clara ajudar, Caio. Ela foi maravilhosa."

Caio olhou para Clara, que tremia sob uma toalha fina. Sua expressão era indecifrável. "É o que ela deveria fazer."

"Oh!" Cassandra exclamou, uma nova ideia brilhando em seus olhos. "Acabei de me lembrar! Eu queria ir ao templo na montanha para rezar pela minha saúde. Dizem que para ser sincero, você deve se prostrar a cada degrau dos mil degraus."

Marcos e Léo, que também estavam no set, trocaram olhares de incredulidade.

"Cassandra, isso é loucura," disse Marcos. "O Caio acabou de fazer um check-up. Os médicos disseram que ele precisa evitar atividades extenuantes. Os pulmões dele não aguentam."

Os olhos de Cassandra se encheram de lágrimas. "Eu... eu só queria rezar por nós. Não queria ser um fardo."

"Você não é um fardo," Léo rosnou. "Você é uma praga. Desde que você voltou, tudo o que fez foi causar problemas para ele e para a Clara."

As lágrimas transbordaram. "Me desculpe..."

Caio a abraçou, fuzilando os amigos com o olhar. "Já chega. Se ela quer rezar, eu a levarei."

Ele estava decidido. Seus amigos se calaram sob seu olhar furioso.

Ao pé da montanha, Cassandra fez um show de se preparar para ajoelhar. "Eu mesma farei isso, Caio. Você não deve se esforçar."

"Não," ele disse, parando-a. E então ele se ajoelhou na pedra fria, suas calças de terno caras roçando na sujeira. Ele curvou a cabeça até o chão.

Clara o observava, uma estranha mistura de emoções girando dentro dela. Ele podia ser tão cruel, mas sua devoção a Cassandra era absoluta.

Ele completou a primeira série de nove degraus, sua respiração já se tornando ofegante.

Antes que ele pudesse continuar, Clara parou na frente dele.

"Pare."

Ele ergueu os olhos, o olhar duro. "Saia da minha frente."

"Você não pode fazer isso," ela disse, a voz firme. "Seu coração... seus pulmões. O Jairo não iria querer isso."

A menção do nome de seu irmão o fez estremecer.

Clara se virou para Cassandra, seus próprios olhos frios pela primeira vez. "Eu faço isso por você."

Sob os olhares atentos dos amigos de Caio, Cassandra não teve escolha a não ser concordar.

Clara puxou Caio para cima e tomou seu lugar na pedra fria.

Um passo. Uma reverência.

Seus joelhos gritavam em protesto. Sua cabeça girava. O mundo era um borrão de degraus de pedra e céu cinzento.

Todo o caminho da montanha ficou em silêncio. O único som era o farfalhar de suas roupas contra a pedra.

Caio ficou congelado na base, observando suas costas finas e trêmulas enquanto ela fazia sua jornada lenta e árdua.

Ele sentiu uma dor aguda e lancinante em seu próprio peito, bem onde o pulmão de seu irmão residia. Era uma dor fantasma, feroz e sufocante.

Ele pressionou a mão no coração, tentando respirar.

É apenas um reflexo, ele disse a si mesmo. Não significa nada.

Ele não podia se importar com essa mulher. Não podia.

                         

COPYRIGHT(©) 2022