Enquanto ele estava ocupado sendo o marido perfeito, eu estava ocupada sendo a estrategista perfeita. Meus dias eram um borrão de atividades clandestinas, meu estúdio de design gráfico transformado em uma sala de guerra.
Meu laptop era minha arma.
Zara, minha assistente, havia cumprido a promessa. Ela me enviou um arquivo protegido por senha que era uma aula magna em escavação digital. A vida inteira de Kátia Bernardes estava exposta. Registros públicos, contas de redes sociais e, o mais condenatório de tudo, um link para uma conta privada no TikTok que ela compartilhava com um pequeno círculo de 'amigos'.
O nome de usuário era KátiaAConquistadora.
Minhas mãos tremeram quando cliquei no link. A página era um monumento ao seu narcisismo e falência moral. Vídeo após vídeo dela se exibindo em quartos de hotel caros, ostentando bolsas de grife que eu reconheci como presentes que Antônio alegou estar comprando para a mãe dele, bebendo champanhe em banheiras de espuma.
O Fasano, Quarto 207, era um cenário recorrente.
Em um vídeo, ela estava enrolada em um dos roupões brancos e felpudos do hotel, segurando um relógio da H.Stern de aparência familiar. "Quando seu homem casado sabe o seu valor", ela legendou, com um emoji de piscadela. Era o mesmo relógio que Antônio me deu no nosso décimo nono aniversário. Ele deve ter comprado dois.
Em outro, ela o filmou enquanto ele dormia, o rosto virado para longe da câmera. "Meu coroa gato", dizia o texto na tela. "Ele acha que está no comando, mas nós sabemos quem realmente manda no show." Os comentários de suas amigas eram bajuladores e encorajadores. "Arrasa, mana!" "Você está vivendo o sonho!"
Meu sonho. Minha vida. Ela estava fazendo cosplay da minha vida e se gabando disso para sua audiência vazia.
O pior vídeo, aquele que me fez querer esmagar meu laptop, era um clipe de 'hora da história'. Ela sentou-se na frente da câmera, um olhar presunçoso no rosto.
"Então, o filho do meu homem é, tipo, totalmente obcecado por mim", ela disse, jogando o cabelo. "Ele é um garoto doce, mas um pouco sem noção. Ele acha que eu sou a coisa mais legal desde o pão fatiado." Ela revirou os olhos. "Ele vive dizendo ao pai que deveria largar a 'mala sem alça' por mim."
Ela riu, um som agudo e tilintante que irritou meus nervos. "Tipo, alô? Quem você acha que colocou essa ideia na cabeça dele? A melhor parte é que a esposinha não tem ideia. Ela provavelmente está em casa, organizando a gaveta de meias dele ou algo assim. Coitada, tão sem graça."
Uma fúria fria e limpa me invadiu. Eu não estava mais magoada. Eu era cirurgicamente precisa. Baixei cada vídeo, cada foto, cada comentário incriminador. Salvei tudo em um drive seguro e criptografado.
Assisti a um vídeo de Antônio e Kátia rindo juntos em um jogo do Palmeiras, um jogo que ele me disse que foi com um cliente. Eu os vi comemorando sua indicação preliminar ao prêmio em um restaurante com estrela Michelin que ele havia alegado ser "muito formal" para um encontro comigo. As mentiras eram uma teia vasta e intrincada, e eu era agora a aranha em seu centro.
Respirei fundo, minha mente clara e afiada. Os vídeos eram a peça central do meu plano, mas eu precisava de mais. Eu precisava controlar toda a narrativa.
Naquela noite, enquanto Antônio revisava a lista de convidados para a gala de premiação, aproximei-me dele, debruçando-me sobre as costas de sua cadeira.
"Querido", eu disse, minha voz suave e casual. "Eu estava pensando na festa. Nós realmente deveríamos convidar a orientadora educacional do Lucas, a Sra. Bernardes. Ela tem sido uma influência tão positiva para ele. Seria um gesto simpático."
Ele congelou por uma fração de segundo, suas costas enrijecendo. Foi quase imperceptível, mas eu vi.
"A Sra. Bernardes?", ele repetiu, sua voz cuidadosamente neutra. "Não sei, Alê. É principalmente um evento profissional."
"Ah, não seja bobo", eu cantei, passando a mão por seu ombro. "É uma celebração de você, e você é um homem de família. Isso reflete bem em nós. Além disso", acrescentei, desferindo o golpe de mestre, "deveríamos convidar os pais dela também. E talvez o Diretor Matos? Mostrar à escola o quanto os apreciamos. É bom para nossa imagem na comunidade."
Eu podia ver o pânico por trás de seus olhos. Ele estava encurralado. Recusar seria levantar suspeitas. Ele era o grande Antônio Moraes, o homem de família preocupado com a comunidade. Como ele poderia se opor a homenagear os educadores que estavam moldando o futuro de seu filho?
Ele engoliu em seco. "Essa é... uma ideia muito atenciosa, Alê." Seu sorriso era forçado, uma careta tensa e dolorosa. "Claro. Vou pedir à minha assistente para adicioná-los à lista."
Ele pensou que eu estava sendo uma esposa atenciosa e sem noção. Ele não tinha ideia de que estava me ajudando a carregar a arma para a qual ele logo estaria olhando pelo cano.
Ele se virou de volta para sua lista, mas eu podia ver a tensão em seus ombros. Ele estava encurralado. E ele nem sabia a forma da jaula que estava se fechando ao seu redor.
Afastei-me, um sorriso fraco e frio nos lábios. A lista de convidados estava pronta. As provas estavam compiladas. O palco estava esperando. Tudo o que eu tinha que fazer era esperar as cortinas se abrirem.