Quando o Amor Deixa de Ser Nosso
img img Quando o Amor Deixa de Ser Nosso img Capítulo 4 Reencontros Têm Cheiro de Passado
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Capítulo 8 A Foto Que Mudou Tudo img
Capítulo 9 O Gosto Amargo da Liberdade img
Capítulo 10 As Regras do Jogo Que Ele Criou img
Capítulo 11 O Peso do Silêncio img
Capítulo 12 O Ensaio do Que Já É Real img
Capítulo 13 Quando Fingir Vira Verdade img
Capítulo 14 O Que Escapa do Controle img
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Capítulo 4 Reencontros Têm Cheiro de Passado

No dia seguinte, Clara acordou com o coração batendo mais rápido do que o normal.

A mensagem de Henrique ainda estava aberta na tela do celular. Leu mais uma vez, como quem precisa confirmar que aquilo era real. Ele lembrava dela. E queria vê-la.

Tomou banho com calma, prendeu o cabelo num coque simples e escolheu uma roupa que passava longe da tentativa de impressionar, mas ainda mostrava quem ela era - elegante, segura, de volta ao próprio eixo.

No espelho, reparou que havia algo novo no olhar. Um brilho que não via há anos.

Quando chegou em frente ao prédio da Vascon, respirou fundo. A fachada moderna, o vidro refletindo o céu da manhã, tudo ali parecia diferente do mundo que ela deixara quando abandonou a carreira.

Um segurança a recebeu com um sorriso e a encaminhou para a recepção.

Enquanto esperava o elevador, Clara se pegou rindo sozinha.

- O que você tá fazendo aqui, hein? - sussurrou pra si mesma.

No décimo andar, a secretária a conduziu até a sala de Henrique. A porta estava entreaberta, e a voz dele veio primeiro, firme, segura, a mesma que ela lembrava, mas agora com mais peso, mais maturidade.

- Clara. - Ele se levantou assim que a viu, com aquele sorriso que começava nos olhos. - Eu realmente não esperava te reencontrar.

Ela riu, meio sem graça.

- Pois é. A vida tem dessas, né?

Henrique contornou a mesa e estendeu a mão. O toque dele foi firme, quente, familiar.

Por um segundo, Clara sentiu o tempo se embaralhar. O passado e o presente se misturaram ali, num simples cumprimento.

- Você está igual - ele disse, observando-a com sinceridade. - Talvez um pouco mais... forte.

- E você... - ela hesitou, rindo - não tem mais nada daquele garoto desastrado da faculdade.

Henrique deu de ombros, brincando. - A vida obriga a gente a crescer. Mas confesso que tô feliz em ver que o tempo foi gentil com você.

Clara desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor.

Sentaram-se. Ele perguntou sobre os últimos anos, o que ela andava fazendo. Ela contou o básico, o casamento, o tempo fora do mercado, a vontade de recomeçar. Não falou da traição. Ainda não.

Henrique a ouviu com atenção genuína, sem interromper.

Quando ela terminou, ele ficou em silêncio por um momento e depois disse:

- Eu lembro que, na faculdade, você era a melhor da turma. Tinha um olhar diferente pras coisas, sabia? Tipo... enxergar o que os outros não viam.

- Faz tanto tempo, Henrique. Não sei se ainda tenho isso.

- Tem - ele respondeu de imediato, com firmeza. - Eu vejo nos seus olhos.

Ela sorriu, um sorriso pequeno, mas verdadeiro. E sentiu algo leve no peito, como se o ar ali dentro começasse a circular de novo.

Henrique pegou um papel sobre a mesa.

- Estamos com uma vaga de supervisora de projetos. É exigente, mas acho que combina com você.

- Não quero que pense que estou aqui pedindo um favor - ela disse, um pouco defensiva.

- E eu não estou oferecendo um. - Ele apoiou os cotovelos na mesa e a olhou nos olhos. - Estou convidando alguém que eu admiro pra fazer parte do meu time.

Clara segurou o olhar dele por alguns segundos.

Aquele jeito - seguro, tranquilo, sem promessas, sem segundas intenções - fazia falta na vida dela.

- Tá bom - ela respondeu, sorrindo de leve. - Eu aceito conversar sobre isso.

Henrique sorriu de volta, satisfeito.

- Ótimo. Mas antes, me deixa te levar pra almoçar. Temos anos pra colocar em dia.

Ela hesitou por um instante, mas acabou aceitando.

No restaurante, o clima foi natural. Riram, lembraram histórias da faculdade, falaram de amigos que se perderam pelo caminho. E entre um café e outro, Clara percebeu que não lembrava a última vez em que se sentiu assim: leve.

Quando ele a deixou na porta de casa, o sol já começava a se pôr.

- Foi bom te ver de novo, Clara. - disse ele, com um sorriso que parecia sincero demais pra ser casual.

- Foi bom pra mim também. - respondeu, sem conseguir disfarçar o olhar que durou um segundo a mais do que o necessário.

Entrou em casa com o coração batendo diferente.

Arthur ainda não tinha chegado. E, pela primeira vez, isso não a incomodou.

Ela deixou a bolsa no sofá, foi até a varanda e observou o céu laranja da tarde.

Um novo capítulo estava começando - e, talvez, ela mesma estivesse escrevendo a melhor parte da própria história.

            
            

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