Quando o Amor Deixa de Ser Nosso
img img Quando o Amor Deixa de Ser Nosso img Capítulo 7 Coisas Que o Silêncio Revela
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Capítulo 8 A Foto Que Mudou Tudo img
Capítulo 9 O Gosto Amargo da Liberdade img
Capítulo 10 As Regras do Jogo Que Ele Criou img
Capítulo 11 O Peso do Silêncio img
Capítulo 12 O Ensaio do Que Já É Real img
Capítulo 13 Quando Fingir Vira Verdade img
Capítulo 14 O Que Escapa do Controle img
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Capítulo 7 Coisas Que o Silêncio Revela

O restaurante que Henrique escolheu ficava escondido numa rua tranquila, daqueles lugares que parecem guardar segredos entre as mesas. Luz baixa, música suave, o cheiro de vinho e temperos finos no ar. Clara gostou de cara.

Não era luxuoso, mas era acolhedor, e, de algum modo, ela se sentia segura ali.

Henrique chegou logo depois dela, sem terno, só camisa e mangas dobradas.

- Achei que você fosse desistir - disse, sorrindo, enquanto puxava a cadeira para ela.

- Pensei em desistir - respondeu, rindo -, mas aí lembrei que você prometeu não falar de trabalho.

- E eu cumpro promessas. - Ele fez um gesto para o garçom e pediu vinho.

A conversa começou leve, cheia de lembranças. Falaram de viagens, de como a vida muda sem pedir permissão, e de como o tempo apaga algumas dores, mas realça outras.

Clara estava à vontade, e era raro isso acontecer. Com Henrique, ela podia ser ela mesma. Sem medir palavras, sem se preocupar com o que parecia.

Depois de um tempo, o silêncio chegou, mas não o incômodo - aquele tipo de silêncio que existe quando duas pessoas simplesmente se entendem.

Henrique apoiou o queixo na mão e a observou por alguns segundos.

- Você parece diferente, Clara.

- Diferente como?

- Mais leve. Mesmo com essa sombra que às vezes passa pelo teu olhar... parece que tá se recomeçando.

Ela sorriu, mas havia tristeza no sorriso.

- Tô tentando.

- E o "sufoco" que te fez voltar a trabalhar? - perguntou com cuidado, o tom gentil. - Pode me contar ou ainda é segredo?

Clara respirou fundo, mexendo distraída na taça de vinho. Por um instante, pensou em mudar de assunto. Mas depois, simplesmente deixou as palavras saírem.

- Arthur me traiu.

Henrique ficou quieto.

Ela continuou:

- E, no meio da discussão, ele... - riu, um riso curto, amargo - ele me propôs um casamento aberto.

Henrique a olhou com algo entre espanto e raiva.

- Ele fez o quê?

- Isso mesmo. Disse que precisava de liberdade. Que amava, mas queria respirar.

- E você?

- Eu aceitei - respondeu, sem hesitar. - Não porque queria, mas porque cansei de implorar por respeito. Se ele quer liberdade, vai tê-la. Só que agora eu também sou livre.

Henrique ficou em silêncio por alguns segundos, como se tentasse digerir aquilo.

Então, com o olhar firme, disse:

- Ele não faz ideia de quem está perdendo, Clara.

Ela riu de leve, balançando a cabeça.

- Talvez não. Mas o que importa é que agora eu tô tentando me encontrar de novo.

Henrique apoiou os cotovelos na mesa e a olhou de um jeito que a fez prender a respiração.

- E se a gente o ajudasse a entender o que ele perdeu?

- Como assim? - perguntou, confusa.

- Se ele quer um casamento aberto, deve achar que ainda te controla, de alguma forma. Que pode ter você por perto, mesmo vivendo outra vida. - Ele fez uma pausa, olhando bem nos olhos dela. - Mas e se ele visse que você também seguiu em frente, que você também guarda suas surpresas?

Clara arqueou as sobrancelhas.

- Você tá sugerindo que eu arrume alguém?

- Não exatamente - disse, com um meio sorriso. - Eu tô sugerindo que a gente finja que já aconteceu.

Ela piscou, surpresa. - Fingir que estamos juntos?

Henrique deu um pequeno gole no vinho e assentiu.

- Isso. Fingir que estamos namorando. Nada sério, só o suficiente pra ele perceber que não é o centro do teu mundo.

Clara riu, balançando a cabeça.

- Você é louco.

- Um pouco. - Ele sorriu, sem desviar o olhar. - Mas, convenhamos, seria divertido.

- Divertido pra você, talvez.

- Pra mim e pra você. - Henrique se inclinou um pouco mais sobre a mesa. - Vai me dizer que não quer ver a cara dele quando perceber que te perdeu de verdade?

Clara o olhou por alguns segundos, tentando ler se ele estava mesmo falando sério.

O sorriso dele era provocante, mas o olhar... o olhar era sincero.

E, no fundo, ela sabia que havia algo mais ali.

- Você realmente faria isso? Fingir estar comigo? - perguntou, baixando o tom de voz.

Henrique deu de ombros. - Por você? Faria.

Ela desviou o olhar, tentando conter o riso nervoso.

- Isso é uma loucura.

- Às vezes, a loucura é a única coisa que faz sentido. - disse ele, sorrindo de leve.

O garçom trouxe a sobremesa, mas os dois já nem prestavam atenção.

O ar entre eles tinha mudado. Algo havia se instalado ali - algo que nenhum dos dois quis nomear, mas que ambos sentiram.

Na saída, ele a acompanhou até o carro. O vento da noite estava frio, e Clara cruzou os braços, tentando se aquecer. Henrique se aproximou e ajeitou o casaco dela, com um gesto simples, quase automático.

- Fica tranquila, tá? Eu prometo que não vou deixar nada sair do controle.

Clara ergueu o olhar pra ele, e por um instante, não soube o que responder.

O silêncio falou por ela.

- Boa noite, Henrique.

- Boa noite, Clara.

Entrou no carro e, quando olhou pelo retrovisor, ele ainda estava lá, parado na calçada, as mãos nos bolsos e aquele mesmo sorriso - meio cúmplice, meio perigoso.

Enquanto dirigia pra casa, Clara não sabia se ria ou se ficava nervosa.

A ideia dele era absurda.

Mas, de algum modo, fazia sentido.

E o pior, uma parte dela queria ver o que aconteceria se o plano realmente desse certo.

                         

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