Clara olhou o celular, suspirou. Tentou se convencer de que ele estava preso no trânsito, que talvez tivesse parado pra comprar flores, quem sabe uma sobremesa. Arthur sempre fazia essas pequenas surpresas. Ele era assim - atencioso, gentil, um marido que parecia saído de um sonho.
Mas aquela noite tinha algo estranho. Um silêncio incômodo dentro da casa, uma solidão que ela não sabia explicar.
Pra se distrair, abriu o WhatsApp. No grupo das amigas, risadas, mensagens, fotos de jantares, drinks, um pouco de tudo. Até que uma imagem fez o coração dela parar por um instante.
Era a Marina, uma das meninas da faculdade, jantando em um restaurante elegante. Até aí, tudo normal. Mas o problema era o restaurante.
Clara reconheceu o cenário de imediato - o La Terraza, o lugar que guardava cada lembrança boa do casal: o primeiro encontro, o pedido de casamento, as comemorações de aniversário.
Aquela era "a mesa deles".
E na foto, bem ao lado do prato de entrada, ela viu algo que fez o estômago revirar.
A mão dele.
O relógio prateado que ela mesma dera no último Natal.
Por alguns segundos, o mundo ficou em silêncio. O som do relógio da parede parecia distante, como se o tempo tivesse parado.
Clara não pensou. Apenas pegou a bolsa e as chaves.
O vento lá fora estava frio, cortante. As luzes da cidade passavam rápidas pela janela do carro enquanto ela dirigia. O coração batia descompassado, as mãos tremiam no volante.
Quando estacionou em frente ao restaurante, ficou parada por um tempo, observando através do vidro.
E então viu.
Arthur.
Sorrindo.
Com outra mulher.
Ela estava de vermelho. Jovem, linda, com aquele tipo de leveza que só quem ainda não viveu o peso do amor tem.
Clara desceu do carro. Caminhou até a porta. Cada passo parecia ecoar dentro dela. O garçom tentou detê-la, mas ela apenas sorriu - um sorriso tenso, sem alma - e entrou.
Arthur demorou alguns segundos pra perceber. Quando o fez, o riso morreu no rosto dele.
- Clara... - a voz saiu fraca, quase um sussurro.
Ela parou diante da mesa.
- Espero que a comida esteja boa. O La Terraza nunca decepciona, não é?
A outra mulher abaixou os olhos. Arthur ficou pálido, tentando se levantar.
Clara ergueu a mão, firme.
- Não precisa se explicar. Eu só vim confirmar o que o meu coração já sabia.
Silêncio. O tipo de silêncio que grita.
Ela respirou fundo, sentiu as lágrimas queimarem por trás dos olhos, mas não deixou que caíssem.
- Feliz aniversário de casamento, Arthur.
Virou-se e foi embora, deixando pra trás o homem que jurou amá-la "até o fim"