Essa promessa era um escudo frágil enquanto eu voltava para a mansão Moretti para pegar as poucas coisas que ainda eram minhas. Dante estava me esperando no hall de entrada, seu corpo grande uma barricada na porta. Ele parecia exausto, seu paletó geralmente impecável, amassado.
"Onde você estava?", ele exigiu, sua voz um rosnado baixo.
"Com um antigo professor", eu disse, minha voz nivelada. Eu não lhe devia uma explicação. "Meu celular morreu."
Ele se aproximou, me encurralando contra a parede. Ele segurou meu rosto, seu polegar acariciando minha bochecha. O gesto que uma vez me fez derreter agora parecia uma marca de ferro. "Eu não posso te perder de novo, Helena. Não posso." Seu desespero era uma performance, e eu era a plateia relutante.
"Seu aniversário é amanhã", ele murmurou, seus olhos procurando nos meus por uma reação que eu não possuía mais. "Eu tenho uma surpresa para você. No seu antigo quarto."
O quarto que eu uma vez chamei de meu era agora um showroom. Araras de roupas de grife, caixas de veludo contendo joias brilhantes. Mas misturadas havia peças que eu nunca usaria - um vestido de estampa de oncinha berrante, um perfume que era doce demais. Eram para ela. Para Sienna.
Eu me virei do display. "Livre-se disso. Nada disso é para mim."
A mandíbula de Dante se contraiu. Antes que ele pudesse responder, Luca invadiu o quarto, uma carranca no rosto.
"Ela não gosta de nada", ele desdenhou, sua lealdade à sua nova mãe uma lâmina afiada e dolorosa se torcendo em minhas entranhas. "Sienna adoraria."
Eu congelei. A memória das pequenas mãos do meu filho agarradas ao meu pescoço, suas risadas enchendo um quarto, se dissolveu, substituída por este estranho frio e hostil. O espaço vazio no meu peito doía.
Dante o ignorou, tirando uma pequena caixa do bolso. Ele a abriu para revelar um anel de safira, uma pedra maciça da cor de um céu de meia-noite. "'A Única'", ele disse, sua voz carregada de significado. "Uma joia lendária para minha mulher lendária."
Enquanto ele falava, o murmúrio baixo de uma reportagem na TV no canto do quarto prendeu minha atenção. Um repórter estava falando sobre um Don rival que acabara de encomendar uma joia magnífica para sua esposa, uma pedra chamada "O Coração da Cidade". Era, disse o repórter, a gêmea de outra famosa safira, "A Única".
Meu olhar voltou para o anel na mão de Dante. Ele o deslizou no meu dedo. Era um milímetro grande demais, solto e frio contra minha pele.
"Você perdeu peso", ele disse, sua desculpa vindo rápido demais.
Eu o olhei diretamente nos olhos, a caverna no meu peito ecoando com a mentira. "Eu sou a sua única, Dante?"
O toque estridente de seu telefone quebrou o silêncio tenso. Sua expressão mudou, a máscara do Don deslizando de volta ao lugar. Ele tinha que ir. Uma "reunião urgente", sem dúvida. Ele evitou minha pergunta, seu olhar se desviando do meu.
"Vá", eu disse, minha voz desprovida de toda emoção. "Não a deixe esperando."
Ele beijou minha testa, um gesto oco e sem sentido. "Espere por mim."
Quando ele se virou para sair, a tela de seu telefone piscou, iluminando o identificador de chamadas.
Sienna.
No momento em que ele se foi, deslizei o anel grande demais do meu dedo e o joguei na lixeira de metal ao lado da penteadeira. O barulho foi pequeno, mas final.