Pelo resto da noite, ele desempenhou o papel do noivo devotado. Ele ficou ao meu lado, um escudo formidável contra os olhares curiosos de seus rivais. Ele colocou seu paletó sobre meus ombros quando um arrepio percorreu a sala. Ele até me deu um pedaço do meu próprio bolo de aniversário, seu toque um fantasma do afeto que eu um dia desejei.
Exatamente às 21:09, fogos de artifício explodiram no céu noturno, escrevendo meu nome em luz cintilante que ardeu por uma hora agonizante. Uma mentira grandiosa e espetacular para toda a cidade ver.
Quando a festa finalmente terminou, Dante dispensou seus Capos. "Esta noite pertence a Helena", ele declarou.
No carro, o silêncio era um peso esmagador. Seu telefone vibrou no console entre nós. Ele olhou para ele, e a farsa se estilhaçou. Ele pisou no freio, os pneus cantando enquanto ele desviava para o acostamento.
"Esqueci um arquivo no escritório", ele mentiu, sua voz tensa e artificial. "Pegue um carro para casa. Volto logo."
Saí sem uma palavra. Eu não precisava ver o identificador de chamadas desta vez. Enquanto seu carro se afastava em alta velocidade, meu próprio telefone acendeu. Uma mensagem de texto. Por um segundo tolo, meu coração saltou, mas o nome na tela não era o dele. Era Silvio, seu Consigliere, e a mensagem claramente não era para mim.
Localizamos a Sra. Rocha no estacionamento da orla.
Uma resolução fria se instalou no fundo dos meus ossos. Chamei um táxi e dei ao motorista o endereço.
Eu os encontrei em um canto deserto do estacionamento. Suas vozes, carregadas pelo ar úmido, me alcançaram antes deles. Ouvi a risada dela, depois o murmúrio baixo dele.
Então eu os vi. Ele a tinha pressionada contra a lateral de seu carro, beijando-a com uma fome que não me mostrava desde que acordei. Suas mãos deslizaram sob o vestido dela, puxando-a para mais perto.
"Você está feliz agora?", Sienna sussurrou, sua voz triunfante.
Ele a levantou para o banco do passageiro, e o carro começou a balançar num ritmo frenético e desesperado.
Algo dentro de mim não quebrou. Desintegrou-se. A última brasa de esperança que eu tolamente agarrava se extinguiu, não deixando nada além de um vazio frio.
Eu me afastei.
De volta à mansão, fui para o meu quarto e comecei a arrumar as poucas coisas que realmente me pertenciam. Um livro de poesia. Uma fotografia desbotada de mim e Luca quando bebê. Eu não tinha identidade, nem dinheiro, nem para onde ir, mas não importava. Eu não podia ficar aqui mais um segundo.
A porta se abriu com um estrondo. Luca estava lá, seu pequeno rosto contorcido com uma raiva que era aterrorizante em uma criança. Em suas mãos, ele segurava um balde.
"Você é uma mulher má!", ele gritou, e jogou o conteúdo do balde em mim.
Tinta vermelha, espessa e pegajosa, espirrou no meu vestido branco, no meu rosto, no meu cabelo. Parecia sangue.
Ele então jogou algo aos meus pés. Era a pequena boneca costurada à mão que eu fiz para ele pouco antes do acidente. Seus olhos de botão me encaravam, acusadores.
Olhei para o menino que eu não reconhecia mais, o filho cujo amor me fora roubado. A dor era tão imensa que era quase um alívio. Não havia mais nada a sentir.
"Não se preocupe", eu disse, minha voz estranhamente calma. "Sienna voltará em breve. E eu terei ido."