POV Alessa:
Dante veio me buscar. Mas ele não estava sozinho.
Bella deslizou para o banco do passageiro de seu sedã preto, seus movimentos fluidos e possessivos. Ela olhou para mim no espelho retrovisor, um pequeno sorriso triunfante puxando o canto de sua boca.
"Bella é minha parceira", disse Dante, sua voz monótona. Ele não olhou para mim. Apenas ligou o carro.
Ele a chamava de Bella.
"Estávamos pensando em fazer uma trilha neste fim de semana, não é, Dante?", disse ela, sua voz carregada de uma intimidade casual projetada para me ferir. "Perto de onde sua mãe... teve o acidente."
Ela deixou as palavras pairarem no ar, uma nuvem de veneno.
Dante não disse nada. Apenas dirigiu, seus nós dos dedos brancos contra o couro do volante.
Ele nos levou para o interior do estado do Rio, a paisagem tornando-se árida e implacável. Ele parou o carro em um local familiar e desolado. Uma simples cruz de madeira estava cravada na terra seca. *Marta Gallo. Amada esposa e mãe.*
Ajoelhei-me, meus joelhos afundando na poeira. As lágrimas embaçaram a madeira bruta da cruz, o mundo se dissolvendo em uma névoa aquosa.
"Me desculpe, mamãe", sussurrei para o marco silencioso. "Acho que foi ele. Acho que o papai estava envolvido. Me perdoe."
De volta ao carro, aquele pedido de desculpas sussurrado pareceu uma rendição. A necessidade desesperada de negação havia evaporado, substituída por um desejo frio e oco pela verdade. Tirei o velho laptop da minha mãe da minha bolsa.
Era uma coisa antiga, mas eu conhecia o programa de criptografia que ela usava. Levei algumas tentativas frenéticas - o aniversário de casamento deles, o aniversário dele - antes que meus dedos, tremendo, digitassem o meu. O pen drive abriu.
Era um diário. O diário dela.
Fotos. Notas codificadas. Nomes. "O Escorpião." "O Chefe." Estava tudo lá. Um registro meticuloso de sua investigação sobre meu pai.
Uma entrada final, datada do dia anterior à sua morte, fez o ar congelar em meus pulmões.
*Ele sabe. Tenho que mover o pacote. A caverna. O lugar que eu mostrei a ela.*
A caverna. Uma pequena gruta escondida nas rochas que ela me mostrou quando eu era criança. Nosso lugar secreto.
Saí do carro e corri, ignorando o chamado agudo de Bella. Eu a encontrei, meio escondida por um emaranhado de arbustos.
Dentro, enfiada em um recesso na rocha, havia uma caixa de metal trancada.
Encontrei uma pedra pesada e esmaguei a fechadura, o som ecoando na quietude do deserto. Abri a tampa com força.
Minha garganta se fechou, roubando meu fôlego.
Pilhas de dinheiro. E ao lado delas, tijolos retangulares e selados de pó branco.
Dante apareceu ao meu lado, uma sombra silenciosa. Sua voz era calma, clínica, como se estivesse identificando um espécime em um laboratório.
"Cocaína de alta pureza", disse ele, apontando para um pequeno e intrincado escorpião estampado em um dos tijolos. "O emblema dele."
E assim, a negação à qual eu me agarrei - o último e frágil escudo ao redor do meu coração - não apenas rachou. Ela explodiu.
Era tudo verdade.