A acusação era tão absurdamente falsa, tão profundamente insultuosa, que senti uma onda de raiva incandescente. "Você é delirante! Jaxon é meu amigo! Estávamos comemorando minha alta do hospital, um hospital em que eu estava por sua causa! Cássio é quem os arrastou para cá!"
Minha ousadia só pareceu alimentar o drama de Cássio. Vendo que Afonso não correu imediatamente para mimá-lo, ele soltou um soluço teatral e girou nos calcanhares. "Tudo bem! Se você vai ficar do lado dele, então eu vou embora!"
Ele saiu furioso da sala.
Previsivelmente, a raiva de Afonso por mim desapareceu, substituída pelo pânico por seu amante. "Cássio, espere!" ele chamou, correndo atrás dele.
Eu o vi ir, um gosto amargo na boca. Ele alcançou Cássio no corredor, segurando seu braço gentilmente.
"Meu amor, não fique com raiva," eu o ouvi murmurar, sua voz uma carícia baixa e suave. "A culpa é minha. Eu vou consertar isso."
Ele levou Cássio de volta para a porta da sala. Cássio ficou lá, de braços cruzados, seu rosto uma máscara de petulância manchada de lágrimas.
"Como?" Cássio exigiu. "Eles me insultaram! E o brinquedinho do seu ex-marido tentou dar em cima de você! Você tem que puni-lo!"
A cabeça de Afonso se virou, seus olhos se fixando em Jaxon. O CEO frio e implacável estava de volta.
"Você o ouviu," Afonso disse a seus guarda-costas. "Ele 'ofendeu' Cássio. Quebrem as mãos dele. Ele é um arquiteto, não é? Vamos ver como ele projeta qualquer coisa depois disso."
Uma onda de puro terror me invadiu. Isso não era uma ameaça. Era um comando.
"Não!" eu gritei, me jogando na frente de Jaxon enquanto os guarda-costas começavam a avançar. "Você não pode! Afonso, ele não fez nada de errado!"
"Saia do caminho, Adriel," Afonso avisou, sua voz perigosamente calma.
Eu balancei a cabeça, meu coração batendo contra minhas costelas. "Você não vai tocar nele. A família dele é o grupo Construtora Martinez. Se você encostar um dedo nele, terá uma guerra em suas mãos!"
Um dos guarda-costas deu uma risada curta e sem humor. "Senhor Tavares... ou devo dizer, Senhor Alencar... a família Martinez é um mosquito comparada ao Senhor Tavares. Ele poderia esmagá-los antes do café da manhã e nem perceber."
A verdade brutal de suas palavras me atingiu como um golpe físico. A culpa era minha. Minha conexão com Afonso, este vórtice tóxico e destrutivo, havia arrastado meus amigos para o perigo. Minha liberdade custou a segurança deles.
Uma determinação fria e desesperada se instalou em mim. Havia apenas uma moeda que este monstro entendia: dor e submissão.
Meus olhos percorreram a sala e pousaram em um atiçador de fogo de metal pesado, ao lado da lareira.
Antes que alguém pudesse reagir, eu o peguei. Meus amigos ofegaram. Jaxon gritou meu nome.
"Adriel, o que você está fazendo?"
Eu me virei para os guarda-costas, minha voz trêmula, mas clara. "Ele quer mãos quebradas, certo? Para apaziguá-lo?"
Sem outra palavra, levantei o atiçador pesado e o desci com toda a minha força em meu próprio pulso esquerdo.
Um estalo doentio e úmido ecoou pela sala, seguido por uma explosão de agonia incandescente. Eu gritei, caindo de joelhos, o atiçador caindo no chão. Meu pulso estava dobrado em um ângulo antinatural, a dor tão intensa que me deu vontade de vomitar.
"ADRIEL!" Jaxon gritou, correndo para o meu lado, seu rosto uma máscara de horror.
Eu cerrei os dentes, forçando-me a olhar para os guarda-costas atordoados, para Afonso, cujo rosto estava pela primeira vez indecifrável, para Cássio, cujo queixo estava caído de choque.
"Pronto," eu ofeguei, embalando meu pulso quebrado. "Uma mão está quebrada. Estamos quites. Agora deixem meus amigos em paz."
Os guarda-costas trocaram um olhar, depois olharam para Afonso. Após um longo e tenso momento, Afonso deu um aceno quase imperceptível. Eles se viraram e saíram da sala.
Meus amigos correram para mim, seus rostos pálidos. "Adriel, você está louco? Temos que te levar para um hospital!"
"Não podemos vencer," eu sussurrei, lágrimas de dor e frustração finalmente escorrendo pelo meu rosto. "Não podemos lutar contra ele. Vamos apenas embora."
Enquanto Jaxon e meus outros amigos me ajudavam a levantar, uma comoção explodiu na varanda do segundo andar, com vista para o salão principal do restaurante.
Era Cássio, gritando com Afonso. Ele havia subido no parapeito, balançando precariamente.
"Você deixou ele fazer isso! Você se importa mais com ele do que comigo!" ele gritou, sua voz histérica. "Se você não prometer se casar comigo agora mesmo, eu pulo!"
O rosto de Afonso estava branco de pânico. "Cássio, desça daí! É perigoso! Eu faço qualquer coisa, apenas desça!"
"Prometa-me!"
"Eu prometo! Eu prometo, agora por favor, desça!" Afonso implorou, sua voz quebrando de desespero.
Mas Cássio, bêbado e instável, deu um passo triunfante para trás para descer. Seu pé escorregou.
Ele soltou um grito curto e surpreso ao cair para trás do parapeito.
Tudo aconteceu em câmera lenta.
Ele estava caindo diretamente em direção a onde eu estava, paralisado de horror na base da escada. Meus amigos gritaram e se espalharam.
Não tive tempo de me mover.
Cássio Webster, com seus 70 quilos, se chocou contra mim. Meu corpo já ferido recebeu o impacto total. Minha cabeça estalou para trás e bateu no chão de mármore. Meu pulso recém-quebrado e minha perna cirurgicamente reparada se esmigalharam sob o peso.
A última coisa que vi antes de meu mundo escurecer foi Afonso Tavares, seu rosto uma tela de puro terror, descendo as escadas correndo. Ele nem sequer olhou para minha forma amassada e quebrada no chão. Seus olhos estavam apenas no homem que acabara de me usar como um airbag humano. Ele se ajoelhou freneticamente, embalando Cássio em seus braços, sua voz um soluço quebrado.
"Cássio? Oh, meu Deus, Cássio, você está bem? Por favor, diga alguma coisa..."
Ele nunca sequer olhou para mim.