Isabela Coleman sorriu para mim do banco do motorista. Seu cabelo loiro perfeito, suas maçãs do rosto perfeitamente esculpidas, seus olhos perfeitamente apologéticos, mas sutilmente triunfantes. "Clara, querida! Desculpe por te fazer esperar", ela arrulhou, sua voz doentiamente doce. "O Bruno só precisou correr na farmácia para comprar uns curativos especiais para o Léo. Você sabe como a pele do meu pequeno é sensível."
Seus olhos, no entanto, continham um brilho mais agudo, um lampejo de desafio que desmentia seu tom açucarado. Era um olhar que gritava: *Ele me escolheu. De novo.*
Então eu o vi. No banco de trás, o filho de Isabela, Léo, estava agarrado à minha manta de cashmere favorita, aquela que Bruno me deu no nosso primeiro Natal juntos. Minha manta, a coisa mais macia e reconfortante que eu possuía, agora enrolada no filho de outra mulher. Minha garganta se apertou.
Eu engoli a onda de náusea que ameaçava me dominar. "Isabela", eu disse, minha voz vazia, desprovida de emoção. "Eu preciso falar com o meu marido."
Seu sorriso perfeito vacilou, substituído por um lampejo de surpresa. Ela não estava acostumada a me ver sendo tão direta. Normalmente, eu sorriria educadamente, fingiria que estava tudo bem. Não hoje.
"Claro", disse ela, sua voz baixando para um sussurro vulnerável. "Léo, querido, por que você não vai esperar a mamãe lá dentro? O Bruno já volta."
Léo, um menino de sete anos surpreendentemente bem-comportado, começou a soltar o cinto. Mas antes que ele pudesse abrir a porta, a voz de Bruno cortou o ar.
"Não, Isa. Está tudo bem. Clara, entre no carro. Podemos conversar no caminho para casa." Ele estava andando em nossa direção, uma sacola de farmácia na mão, seu rosto gravado com uma calma falsa. Ele deu a Isabela um olhar tranquilizador, uma mão gentil em seu ombro.
"Mas Bruno", disse Isabela, seus olhos se enchendo de lágrimas. "O Léo precisa de mim. E não é seguro para ele esperar sozinho."
O olhar de Bruno se suavizou instantaneamente. "Não seja boba, meu bem. Eu cuido do Léo. Clara, por favor." Ele gesticulou para que eu entrasse no banco de trás com Léo.
Meu estômago se contraiu. Bruno, que uma vez reclamou de trocar a caixa de areia do nosso cachorro, agora estava bancando o padrasto dedicado, tudo isso enquanto se recusava a falar com sua esposa de verdade. Eu vi o jeito como seus olhos se demoraram em Isabela, uma ternura ali que há muito havia desaparecido quando ele olhava para mim. Era um olhar terno e protetor, do tipo que eu um dia desejei. Ele falava da segurança de Léo, mas seus olhos contavam uma história diferente. Ele queria manter Isabela por perto.
Era doentio. Ele queria um filho, mas apenas como um meio de consertar um casamento quebrado, de manter a ilusão de uma vida perfeita. Um filho para tapar as rachaduras, para me impedir de ir embora. Ele nunca quis de verdade o *nosso* filho, apenas *um* filho. Um adereço.
Dei um passo para trás, para longe do carro, para longe deles. "Não, Bruno. A Isabela pode levar o Léo para casa. Eu vou andando."
O rosto de Isabela empalideceu. Ela olhou para Bruno, o lábio inferior tremendo. "Bruno, eu não consigo. Estou tão tonta. Acho que... acho que vou desmaiar." Ela balançou levemente, agarrando a cabeça.
Léo, vendo a angústia de sua mãe, começou a chorar. "Mamãe! Não vai! Bruno, não deixa ela ir!", ele gritou, sua voz perfurando a quietude da tarde. "B-Bruno, não deixa ela ir embora! Eu quero que você seja meu papai!"
A cena era um espetáculo. As pessoas estavam se virando. Os transeuntes estavam olhando. A exibição pública era exatamente o que Isabela queria, o que Bruno ansiava.
"Clara", disse Bruno, sua voz baixa, um aviso em seus olhos. Ele gesticulou para que eu entrasse no carro. "Vamos para casa. Podemos discutir isso lá."
Isabela, ainda balançando, me deu um olhar lamentável e suplicante. Seus olhos estavam arregalados, cheios de lágrimas. Ela estava fazendo um show, e eu era a vilã.
Uma onda de náusea me atingiu, mais forte do que qualquer coisa que eu senti com os hormônios da FIV. Minha cabeça girou. Eu percebi então o que ele estava fazendo. Ele estava tentando me forçar a entrar no carro, ao silêncio, à submissão. Ele queria controlar a narrativa, conter os danos.
Mas eu me recusei a jogar o jogo dele.
"Não", eu disse, minha voz clara e firme. Fui até a parte de trás do carro, abri o porta-malas e peguei minha pequena mala de mão, aquela que eu tinha preparado para o período de recuperação após a transferência. Então, me abaixei e soltei a cadeirinha de bebê que havia sido instalada no banco de trás, aquela destinada ao nosso filho, se algum dia tivéssemos um. Eu a puxei com uma surpreendente onda de força e a joguei em uma lixeira pública próxima.
"Eu não preciso de carona", eu disse, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "E também não vou precisar disso."
Naquele exato momento, um SUV preto familiar parou ao meu lado. A janela baixou. "Clara?" Era Davi Matos, um pesquisador sênior do meu departamento. Sua testa estava franzida de preocupação. "Está tudo bem?"
Ele olhou do Mercedes, para mim, para a cadeirinha na lixeira. Seu olhar era firme, respeitoso.
"Não, Davi", eu disse, balançando a cabeça. "Nada está bem."
Ele assentiu, a compreensão surgindo em seus olhos. "Precisa de uma carona?"
Eu olhei para ele, depois de volta para Bruno, que estava paralisado ao lado de seu carro, Isabela ainda agarrada a ele, Léo ainda chorando. Eles pareciam um retrato de família perfeitamente encenado e disfuncional.
"Sim", eu disse, sem pensar duas vezes. "Por favor."
Bruno me observou entrar no carro de Davi, seu rosto uma máscara de incredulidade. Eu soube naquele momento, enquanto Davi se afastava da calçada, que nosso casamento não estava apenas em crise. Era um navio, afundando rápido, com Bruno ainda agarrado a um bote salva-vidas destinado a outra mulher. E eu, finalmente, estava nadando para longe.