Bruno, sentado ao meu lado, franziu a testa sutilmente. Ele estendeu a mão por baixo da mesa e apertou meu joelho, um gesto performático de apoio. "Mãe, pai, isso é injusto. A Clara passou por tanta coisa com a FIV. Todos nós sabemos que tem sido uma jornada desafiadora, e certamente não é culpa dela que ainda não tenhamos engravidado." Ele tentou soar protetor, mas suas palavras pareciam vazias, um roteiro cuidadosamente ensaiado.
Eleonora apenas riu, um som leve e desdenhoso. "Claro, querido. Nós só queremos o melhor para vocês dois. Uma família grande e feliz, exatamente como Bruno sempre sonhou."
Eu dei de ombros, um gesto indiferente que desmentia a fúria que fervia dentro de mim. Não me dei ao trabalho de responder. O que havia para dizer? Minha vida, minhas escolhas, meu corpo – eram todos apenas material para a narrativa de sua família.
Depois do jantar, Léo, o filho de Isabela, descobriu um velho álbum de fotos. Ele o trouxe para a sala de estar, folheando as páginas com entusiasmo. A família se reuniu ao redor, rindo, relembrando. Observei à distância enquanto eles apontavam para as fotos, suas vozes se sobrepondo em uma cacofonia de memórias compartilhadas.
Quase todas as fotos de Bruno de sua adolescência incluíam Isabela. Lá estava ela, na formatura, em férias em família, em festas de fim de ano. Sempre ao seu lado.
"Oh, olhem!", exclamou Eleonora, apontando para uma foto de um Bruno mais jovem olhando com adoração para Isabela. "Bruno, você era tão apaixonado! Ele teve uma queda pela Isabela por uma década, não é, querida?", ela perguntou, virando-se para Isabela.
Isabela corou lindamente, piscando os cílios. "Oh, tia Eleonora, você está o envergonhando!" Então ela olhou para mim, um lampejo de desdém frio em seus olhos, antes de baixar o olhar, fingindo timidez. "Espero que a Clara não se importe de estarmos relembrando."
Se eu me importava? Minha mente gritava. Se eu me importava que você estivesse sentada na sala de estar dos meus sogros, com meu marido, olhando fotos antigas que provam que ele sempre foi apaixonado por você?
O passado não era passado. Estava sentado bem ali, no sofá comigo, respirando no meu pescoço. Lembrei-me do sussurro de Isabela no banheiro mais cedo, enquanto eu lavava as mãos. *Ele nunca te amou, Clara. Você foi só um prêmio de consolação.*
O dedo de Bruno, pálido e tremendo levemente, traçou o contorno do rosto de Isabela na foto. Ele se demorou em uma foto espontânea dela rindo, seu olhar perdido no passado. Foi tudo o que eu pude suportar.
A alegria, a tristeza, a esperança, o desespero – tudo parecia totalmente sem sentido. Eu me levantei. Eu só precisava ir embora.
Quando me virei para sair, uma força súbita e brusca atingiu a parte inferior das minhas costas. Uma dor aguda me atravessou, e eu tropecei, caindo com força no tapete macio. Minha cabeça bateu no chão com um baque surdo.
Bruno foi o primeiro a reagir. Ele correu, seu rosto momentaneamente despojado de sua compostura ensaiada. Ele se ajoelhou, pairando sobre mim, sem saber se deveria me tocar.
"Léo! O que você fez?", Isabela gritou, sua voz estridente. "Peça desculpas para a tia Clara agora mesmo!"
Léo começou a chorar, balançando a cabeça. "Não! Eu odeio ela! Ela vai levar o Bruno embora! O Bruno é MEU papai!", ele gritou, seu pequeno rosto contorcido de raiva.
Os olhos de Isabela se encheram de lágrimas, sua voz um sussurro magoado. "Oh, Léo, querido... O Bruno vai ter seus próprios filhos um dia. Ele não vai te esquecer."
"Não! Eu quero que o Bruno seja meu papai!", Léo gritou, agarrando-se à perna de Isabela.
Bruno, sua preocupação comigo já desaparecendo, olhou para o meu vestido, verificando se havia alguma mancha visível. Ele soltou um suspiro de alívio quando não viu nenhuma. "Clara, por favor", disse ele, a voz carregada de uma impaciência cansada. "Não faça uma cena. Ele é só uma criança."
Uma criança? Pensei, minha cabeça latejando. Quando eu me tornei a vilã nesta peça distorcida?
Eu afastei a mão dele, me levantando. "Ele fez isso de propósito, Bruno. Ele me empurrou."
Os olhos de Bruno endureceram. "Clara, já chega", disse ele, a voz vazia, uma pitada de aço sob a superfície. "Não seja dramática."
Eu ri, um som áspero e quebradiço. Agarrei o ombro de Léo, meus dedos cravando em seu pequeno braço. "Peça desculpas", exigi, minha voz baixa e perigosa.
Isabela gritou, me empurrando para longe de seu filho. "Não se atreva a tocar no meu filho! Ele é só um bebê!"
No meio do empurrão, Isabela perdeu o equilíbrio. Ela caiu para trás, seu braço batendo na quina afiada de uma mesa lateral. Um suspiro escapou de seus lábios, e uma fina linha de sangue imediatamente brotou em seu antebraço.
A sala ficou em silêncio. Todos olhavam, congelados de choque.
"Isabela!", Bruno gritou, seus olhos arregalados de horror. Ele imediatamente se ajoelhou ao lado dela, procurando freneticamente por um kit de primeiros socorros. Seu rosto, quando ele olhou para mim, estava contorcido com uma fúria crua e pura que eu nunca tinha visto antes.
"Clara, qual é o seu problema?", ele cuspiu, a voz tremendo de raiva. "Você está agindo como uma barraqueira qualquer! Como você pode achar que seria uma boa mãe se comportando desse jeito?"
Suas palavras, afiadas e venenosas, me atingiram em cheio. Meu peito parecia uma bigorna, cada respiração uma luta. Engoli as lágrimas, recusando-me a dar a ele a satisfação de me ver desmoronar.
Olhei diretamente para a câmera de segurança montada no canto da sala. "Eu não a toquei, Bruno. Eu a empurrei depois que ela me empurrou. Cheque as câmeras."
Então, eu o encarei nos olhos, minha voz tremendo um pouco, mas clara. "E sabe qual é a parte mais engraçada, Bruno? Eu não fiz a transferência dos embriões. Eu cancelei. Então, você não precisa se preocupar com seus genes perfeitos sendo manchados por uma 'barraqueira' como eu."
Seu rosto perdeu toda a cor. Ele me encarou, a boca aberta.
"Eu quero o divórcio, Bruno", eu disse, as palavras ecoando no silêncio súbito e horrorizado da sala. "E desta vez, não estou brincando."