Os sussurros começaram. Eles zuniam pela multidão como dardos venenosos. "Aquela é a Aurora Mendes? Meu Deus, ela se largou completamente." "Olhe para ela ao lado da Kátia. Nenhuma comparação." "Pobre Heitor, aguentando esse fardo por tanto tempo."
As palavras me cortaram, cada uma uma ferida fresca. Eles me compararam a Kátia, sua figura firme e sem manchas, sua perfeição radiante. Eles falaram sobre Heitor, o marido "sofredor", aquele que merecia coisa melhor. A vergonha era um cobertor sufocante, me pressionando, esmagando os últimos vestígios da minha dignidade.
Tentei me fundir com as sombras, escapar do olhar cortante da multidão. Mas a mão de Heitor, fria e firme, se fechou em meu braço. "Não se atreva", ele sibilou, seu aperto machucando. "Você vai ficar aqui, Aurora. Você vai sorrir. Esta é a noite da Kátia, e você vai fazer o seu papel." Seus olhos eram como lascas de gelo.
Ele me exibiu, um troféu de sua traição, um testemunho vivo de sua suposta magnanimidade. Eu era o pano de fundo, o contraste contra o qual o brilho de Kátia deveria resplandecer.
No palco, sob um holofote, Heitor anunciou um presente maciço para Kátia: uma participação significativa no Grupo Bastos, tornando-a uma figura formidável na empresa. A multidão aplaudiu descontroladamente. Então, ele a presenteou com um colar de diamantes, uma delicada obra de arte que eu havia admirado em uma revista meses atrás, mencionando o quanto amava seu design único. Ele havia se lembrado. Mas não para mim.
"Kátia e eu", ele anunciou, sua voz ressoando com afeto, "compartilharemos todos os nossos triunfos, todos os nossos sucessos. Ela não é apenas minha colega, mas minha parceira na vida, na ambição." Ele apertou a mão dela, seus olhos cheios de uma adoração que um dia fora minha.
Ele então olhou para mim, um olhar frio e vazio. "Aurora", ele disse, sua voz plana, "ela cuida da casa. Kátia cuida da empresa. Cada um tem o seu lugar. E funciona perfeitamente."
Os sussurros começaram novamente, mais altos agora, tingidos de pena e desprezo mal disfarçado. Todos sabiam. Todos viam. Eu era uma esposa traída, publicamente humilhada e descartada. Meu rosto parecia sem sangue, minhas mãos tão cerradas que minhas unhas cravavam nas palmas, a dor aguda uma distração bem-vinda da agonia em meu coração.
Heitor e Kátia se afastaram, cercados por admiradores bajuladores. Eu me escondi em um nicho tranquilo, precisando escapar do ar sufocante, dos olhos julgadores. A febre, esquecida por um momento na torrente de humilhação, voltou com força. Meu corpo doía, a coceira ardente do creme se intensificando. Minha cabeça girava. Apoiei-me em uma parede fria, a escuridão me engolindo por inteiro.
Eu entrava e saía da consciência. Através da névoa, ouvi a voz de Heitor. Gentil. Preocupada. Ele estava lá. Ele estava limpando minha testa com um pano frio. "Aurora", ele murmurou, "você está queimando de febre."
Meu corpo instintivamente se inclinou para o seu toque, buscando o conforto que eu desejava desesperadamente. Por um segundo, imaginei que tudo estava bem. Que ele ainda era meu Heitor.
Então, a voz de Kátia, rouca e ofegante, quebrou a ilusão. "Ela está dormindo?"
"Apagada", Heitor riu, sua voz perdendo todos os traços de preocupação, substituída por uma indiferença casual. "Ótimo. Ela não vai saber que estamos aqui." O farfalhar de roupas. Um gemido suave. Os sons inconfundíveis de intimidade. Eles estavam fazendo isso. Bem ali. Enquanto eu estava inconsciente.
Meu sangue virou gelo. Minha mente gritou. *Não! Acorde! Levante-se e bata neles!* Mas meus membros estavam pesados, sem resposta. Meu corpo estava preso neste limbo agonizante, forçado a testemunhar a traição final.
Pouco tempo depois, senti os braços de Heitor me levantarem. Seu toque, que antes fora uma fonte de segurança, agora parecia invasivo, nojento. Ele me carregou, meu corpo mole um fardo. "Pronta para ir para casa, querida?", ele cantarolou, sua voz leve, cheia de um contentamento doentio.
O cheiro doce e enjoativo do perfume de Kátia estava impregnado nele, um lembrete tangível do ato deles. Meu estômago revirou. Empurrei seu peito, um som gutural escapando dos meus lábios. "Não", eu grasnei, minha voz mal um sussurro. "Leve-me... leve-me para a casa dos meus pais. Minha casa."
Os passos de Heitor, que haviam sido leves e alegres, vacilaram. Ele parou abruptamente.