Mas as mensagens de Kátia eram um fluxo constante e atormentador. *Heitor me comprou uma nova pulseira de diamantes hoje. É linda. Ele adora me encher de presentes.* Ela enviava fotos, brilhantes e irritantes. Então, os golpes verdadeiramente doentios. Vídeos. Clipes dela e de Heitor, íntimos, rindo, completamente absortos um no outro. Eu os apagava tão rápido quanto chegavam, meu polegar tremendo. Eu queria bloqueá-la, apagá-la completamente da minha vida.
Quando estava prestes a fazer isso, outra mensagem apareceu. *Heitor está planejando algo grande. Ele está convencendo sua família a investir em um grande projeto. Ele diz que vai garantir o seu futuro. Que fofo.*
Um pavor frio me dominou. Eu conhecia Kátia. Ela era ambiciosa, mas completamente ignorante em finanças. Se ela estava envolvida em um grande investimento, era uma armadilha. Um desastre esperando para acontecer. Minha família. Meu pai. Eles seriam arruinados.
Tentei freneticamente ligar para meu pai, mas ele não atendia. Liguei para minha mãe. "Mãe, por favor, me diga que o papai ainda não investiu com o Heitor."
A voz da minha mãe, leve e feliz, flutuou pelo telefone. "Oh, querida, é maravilhoso! Uma oportunidade tão brilhante. Seu pai já transferiu o dinheiro. Heitor é um gênio. Ele disse que isso solidificaria sua herança, garantiria que você nunca mais precisasse se preocupar com nada. Ele está sempre cuidando de você, nosso menino de ouro."
Meu mundo desabou. Meus pais. Eles trabalharam a vida inteira, construindo sua empresa do nada. A fortuna deles era modesta em comparação com a dos Bastos, mas foi conquistada com muito esforço, construída com integridade. Eles investiram tudo no meu futuro, na minha estabilidade com Heitor. Agora, por minha causa, por causa dessa monstruosidade de casamento, tudo estava em risco. A culpa era uma dor física.
Eu tinha que impedir isso. Eu não deixaria Heitor destruir minha família.
Apesar da minha perna ainda quebrada, recebi alta do hospital. Apoiando-me pesadamente em muletas, meu corpo ainda fraco, fui até o Grupo Bastos.
"Preciso ver Heitor Bastos", disse à recepcionista, minha voz tremendo ligeiramente.
Ela me olhou, um sorriso de escárnio nos lábios. "Sinto muito, Sra. Bastos, mas o Sr. Bastos está muito ocupado. E ele deixou instruções específicas para que a senhora não seja incomodada." Seu tom era desdenhoso, depreciativo.
"Eu sou a esposa dele!", gritei, um lampejo do meu antigo fogo retornando. "Tenho todo o direito de vê-lo!"
Ela apenas zombou. "E a Srta. Jordão é o futuro dele. As palavras dela agora fazem parte do estatuto da empresa. A senhora é efetivamente irrelevante aqui."
Meu coração martelou. Estatuto da empresa? Kátia já tinha tanto poder assim? O pânico se instalou. Tentei ligar para Heitor, seus assistentes, qualquer um. Todas as minhas ligações não foram atendidas. Fui excluída.
Eu falhei. O contrato foi assinado. O dinheiro do meu pai, o futuro da minha família, estava agora nas mãos de Heitor. E de Kátia.
Quando eu estava lutando para aceitar a derrota, as portas do elevador se abriram. Heitor e Kátia emergiram, lado a lado, irradiando poder e triunfo. Kátia sorriu para mim, uma dança de vitória silenciosa em seus olhos.
Heitor me viu, sua expressão escurecendo. "Aurora? O que você está fazendo aqui? Pensei que ainda estivesse no hospital." Seu tom era desprovido de preocupação, apenas aborrecimento. Ele nem sabia que eu ainda estava lá.
Então, meu pai apareceu, caminhando em direção ao elevador, um largo sorriso no rosto. Ele me viu, e seu sorriso vacilou. "Aurora! Minha querida, por que você está tão magra? Você e Heitor têm brigado?" Seus olhos gentis e preocupados me perscrutaram.
Meu pai tinha um coração delicado. Eu não podia contar a ele. Não agora. Não quando ele estava tão feliz, tão orgulhoso de seu "investimento".
"Por favor, Heitor", implorei, minha voz quebrando, lágrimas ardendo em meus olhos. "Por favor. Não deixe Kátia cuidar deste projeto. Nossa família será arruinada. Por favor, proteja meu pai. Ele colocou tudo nisso. Por favor, eu te imploro."
Heitor me olhou, seus olhos frios e distantes. "Aurora, não seja tão mesquinha. Kátia é brilhante. E ela precisa dessa experiência mais do que sua família precisa de alguns trocados extras. Ela está aprendendo, crescendo. Isso é importante." Ele então se virou para Kátia, um sorriso suave no rosto. "Não é mesmo, meu amor?"
Kátia sorriu radiante, pressionando um beijo em sua bochecha. "Claro, querido. Estou aprendendo tanto." Ela então se inclinou para perto de mim, sua voz um sussurro baixo e vicioso. "Sua família vai perder tudo, Aurora. Tudo. E você não tem ninguém para culpar a não ser a si mesma."
Uma névoa vermelha desceu. Minha família. Meu pai. Essa mulher venenosa ia destruir tudo. Eu não aguentava mais. Avancei, agarrando o contrato na mão de Kátia.
"Não!", gritei, puxando com toda a minha força.
Kátia gritou, agarrando-se ao documento. Nós tropeçamos, perdendo o equilíbrio. O corrimão do mezanino, frágil demais para suportar nossa luta, cedeu.
Nós duas caímos.
Eu vi Heitor. Seus olhos, arregalados de horror. Ele estendeu a mão. Não para mim. Para Kátia. Ele agarrou o braço dela, puxando-a de volta para a segurança. Sua mão, estendida por um momento fugaz, passou direto por mim.
Ele a escolheu. De novo.
O chão correu para me encontrar. Um estalo doentio. Minha perna direita, já quebrada, torceu em um ângulo antinatural. A dor era ofuscante. Então, nada. Eu desmaiei.