Ponto de Vista de Alana Costa:
As palavras de Bruna, um dardo envenenado apontado para Lucas, me perfuraram. Ele lançou um olhar para ela, um movimento rápido e quase raivoso dos olhos, depois se virou para o diretor, uma risada forçada sacudindo seu peito.
"Alana? Casada? Não, não, Davi, isso é impossível. Ela não faria isso. Não sem mim."
Sua negação, tão absoluta, era um eco cruel de sua arrogância, um testamento de quão pouco ele realmente me conhecia agora.
Terminei minha consulta com a Dra. Reed, o zumbido suave do equipamento médico um contraste gritante com a ansiedade zumbindo no meu peito. A médica tinha sido gentil, suas palavras de encorajamento um bálsamo. Agora eu só precisava pegar a receita. Caminhei em direção ao balcão da farmácia, segurando o pequeno pedaço de papel na mão como uma tábua de salvação.
Então, nossos olhos se encontraram. Do outro lado da sala de espera lotada, seu olhar se fixou no meu. A confiança casual que o cercava momentos atrás evaporou, substituída por um lampejo de incredulidade, depois um sorriso crescente e autoconfiante. Ele começou a andar em minha direção, seus passos longos e determinados, um brilho predatório em seus olhos.
"Alana", ele sussurrou, sua voz um ronco baixo, um som que eu não ouvia de verdade há anos. Ele parou diante de mim, bloqueando a luz, seu sorriso muito largo, muito confiante. "Eu sabia. Eu sabia que você ainda estaria me esperando. É quase nosso aniversário, não é? Nossa data de casamento original. Você se lembrou."
Ele não esperou por minha resposta. Ele continuou, suas palavras uma enxurrada de autojustificação.
"Sinto muito por não poder estar lá. O projeto, você sabe. Ultrassecreto. Mas estou de volta agora, Alana. E podemos finalmente consertar as coisas."
Seus olhos se desviaram para a placa acima do balcão: "Ginecologia e Obstetrícia". Um lampejo de preocupação, fabricado e vazio, cruzou seu rosto.
"Você... você está bem? Não está doente, está? Todos esses anos, esperando por mim... isso te afetou?"
Eu me lembrava de sua falsa preocupação, uma performance que ele havia aperfeiçoado. A maneira como ele perguntava sobre o meu dia durante aquelas raras ligações, nunca ouvindo de verdade, sempre esperando sua vez de falar sobre o último drama da Bruna. Eu esperei, tolamente, por um homem que via minha lealdade inabalável como um dado adquirido, meu sofrimento como um inconveniente.
Mas aquela Alana se foi. Balancei a cabeça, um movimento pequeno, quase imperceptível, pronta para lhe dizer a verdade. Pronta para estilhaçar sua ilusão.
Antes que eu pudesse falar, ele riu, um som desdenhoso, e agarrou o braço de Bruna, puxando-a para o balcão da farmácia.
"Com licença, Doutora", disse ele, não para uma médica, mas para a farmacêutica, seu tom condescendente. "Minha amiga aqui tem uma constituição delicada. Você poderia talvez atendê-la primeiro? Ela desmaia facilmente."
Bruna, sempre a atriz, agarrou a cabeça, seus olhos tremulando dramaticamente.
"Oh, Lucas, não, a Alana estava aqui primeiro. Eu posso esperar. Minha dorzinha de cabeça não é tão importante."
Sua voz era suave, tingida com uma modéstia fingida que fez meu estômago revirar.
Lucas a ignorou, apertando seu aperto.
"Besteira, querida. A Alana está acostumada a esperar. Ela não vai se importar, vai, Alana?"
Ele se virou para mim, seu sorriso largo e insensível.
"Você é uma garota paciente, sempre foi."
Suas palavras me atingiram como um golpe físico, roubando o ar dos meus pulmões. Acostumada a esperar. Ele quis dizer isso como um elogio, um testamento da minha devoção. Mas tudo que eu ouvi foi o eco de mil momentos esquecidos, mil vezes em que fui deixada de lado. Lembrei-me das noites intermináveis chorando no meu travesseiro, agarrando meu telefone, esperando por uma ligação que nunca veio. Lembrei-me do dia em que minha mãe foi diagnosticada, como eu mandei mensagens frenéticas para ele, desesperada por conforto, e sua resposta de três palavras: "Que barra, amor."
Ele até brincou sobre isso.
"Você é tão dramática, Alana. É só a vida. A Bruna entende."
A Bruna entendia porque ele estava lá, sussurrando garantias, segurando sua mão, enquanto eu era deixada para lidar com o peso esmagador da realidade sozinha. Seu "trabalho ultrassecreto" nem sempre era ultrassecreto. Às vezes, sua "agenda lotada" envolvia levar Bruna a shows de bandas desconhecidas, confortá-la após um encontro ruim, ou simplesmente ser seu apoio emocional infinito. Eu era uma palhaça, ouvindo seus colegas elogiarem sua "devoção" à sua "irmãzinha", enquanto eu murchava nas sombras, minha própria dor invisível.
Eu tentei lutar por nós. Enviei-lhe cartas sinceras, e-mails cheios de meus medos, meu amor, minha saudade. Eu até voei para a cidade mais próxima da instalação, apenas para estar mais perto dele, na esperança de ter um vislumbre, um momento roubado. Ele voltou para casa uma vez, brevemente, depois de dois anos. Ele se ajoelhou, anel na mão, e prometeu cortar os laços com a Bruna, focar em nós. Eu fiquei em êxtase, uma tola acreditando que meu amor finalmente havia sido reconhecido. Então ele se foi novamente, outra "missão urgente", outro ciclo de negligência, mais um ano de seu curto e precioso tempo pessoal dedicado exclusivamente à Bruna.
Minhas necessidades emocionais simplesmente deixaram de existir, substituídas pelas dela.
"Alana Costa?" A voz da farmacêutica cortou minhas memórias dolorosas. "Sua receita está pronta." Ela me entregou uma pequena sacola. "Lembre-se, tome conforme as instruções. Eles vão ajudar na concepção, querida."
As palavras pairaram no ar, densas e pesadas. Os olhos de Lucas se arregalaram, seu sorriso presunçoso se dissolvendo em uma máscara de puro choque. O ar crepitou com um silêncio súbito e sufocante.