Um grito agudo me rasgou. Meu corpo desabou, contorcendo-se na terra úmida. A dor era ofuscante, avassaladora. Meu pé parecia desconectado, um apêndice inútil. Minha visão embaçou. Eu o encarei, meus olhos arregalados com uma mistura de choque e profunda decepção. Este homem distorcido e violento era aquele que eu amava? Aquele por quem quase morri?
"Você não vai estragar meu casamento, Eva", ele cuspiu, a voz desprovida de qualquer calor. "Apenas três dias. O que são três dias em uma caverna? Não é como se você fosse morrer."
Minha perna latejava, um roxo doentio surgindo sob minhas calças rasgadas. O tornozelo estava em um ângulo grotesco e antinatural. Senti a escuridão se aproximando, ameaçando me engolir por inteiro. Mas eu lutei contra ela. Eu tinha que dizer.
Lutei para levantar a cabeça, minha voz mal um sussurro. "Eu tenho três dias, Daniel. Meu suporte de vida... está programado para desligar. Isso não é um jogo. Eu voltei para me despedir."
Minhas palavras pairaram no ar, pesadas e ignoradas.
"Desejo a você e à Camila toda a felicidade do mundo", engasguei, a mentira com um gosto amargo. "Apenas... me deixe ver meus pais. Por favor. Uma última vez."
Eu os imaginei, seus rostos marcados por cinco anos de luto, de cabelos grisalhos, curvados, de coração partido. O pensamento deles, ainda me amando, ainda esperando, era a única coisa que me impedia de ceder à escuridão. Arrastei-me para frente, centímetro por centímetro doloroso, puxando com meu braço bom, meu tornozelo quebrado inútil, minha mão mutilada queimando de dor.
Ele me observou. Não com pena, não com compaixão, mas com uma expressão fria, quase indiferente. Ele pegou outra pedra. Menor desta vez, mas ainda letal. Ele a derrubou no meu pulso, o estalo doentio ecoando no espaço confinado.
Gritei novamente, um som cru e animal. Minha outra mão, a que eu usei para cavar, agora jazia uma bagunça mutilada. Ele se aproximou, a voz baixa, zombeteira.
"Não se incomode, Eva. Eles não vão acreditar nas suas histórias de fantasma. Não depois do que a Camila contou a eles." Sua voz era assustadoramente calma. "E além disso... eles já estão aqui."
Meu coração parou. Meu sangue gelou. "Não", sussurrei, a palavra um apelo desesperado. "Eles não fariam isso. Eles me amam."
Tentei ignorar meu corpo quebrado, exigir respostas, vê-los. Minha garganta se apertou. As palavras não saíam.
Então, duas figuras emergiram das sombras atrás de Daniel. Meus pais.