Um Peão, Um Filho, Um Casamento Forçado
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Capítulo 5

Ponto de Vista de Ayla Medeiros:

Eu empurrei Heitor para longe, o calor persistente do cigarro em sua pele uma pequena e satisfatória queimadura contra o fogo que ardia dentro de mim. Voltei furiosa para o barraco, meu coração ainda batendo forte, meu corpo tremendo com uma mistura de raiva e uma estranha e fria clareza.

Isabela estava me esperando, um sorriso doentiamente doce estampado em seu rosto. Seus olhos, no entanto, estavam desprovidos de qualquer calor. Ela parecia uma víbora, enrolada e calculista.

"Aquela sopa de peixe estava deliciosa, Ayla", ela ronronou, sua voz excessivamente sacarina. "Realmente, verdadeiramente perfumada."

Estreitei os olhos. Meu estômago se revirou. Ela estava jogando um jogo. "Você não tem medo de que estivesse envenenada?", retruquei, minha voz pingando suspeita.

Seu sorriso se alargou, me arrepiando até os ossos. "O veneno não é você quem decide, Ayla."

Suas palavras me causaram um arrepio na espinha. Eu não entendia. Que jogo ela estava jogando? Antes que eu pudesse pressioná-la, ela pegou sua tigela, inclinando-a para trás. Ela bebeu as últimas gotas da sopa de peixe, seus olhos fixos nos meus, um brilho triunfante neles.

Nesse momento, Heitor irrompeu pela porta, sua mão ainda esfregando o pescoço, seu rosto uma mistura de raiva e confusão.

Isabela escolheu aquele momento. Ela deixou a tigela cair, agarrou a garganta e soltou um suspiro estrangulado. Ela tropeçou para trás, caindo no chão, se contorcendo em agonia. "Me ajude!", ela engasgou, seu rosto ficando vermelho e manchado. "O bebê! Oh, Deus, o bebê!"

Seu rosto estava de fato vermelho, um carmesim profundo e alarmante. Minha mente, no entanto, estava a mil. Espinha de peixe? Impossível. Eu havia limpado meticulosamente o peixe, especialmente o fresco que cozinhei para ela. Não havia um único fragmento em sua tigela. Isso era uma atuação. Uma performance calculada e cruel.

Heitor estava ao lado dela em um instante, seu rosto gravado de terror. Ele a pegou no colo, embalando-a como se fosse feita de vidro, e correu em direção à porta. "Isabela! Aguente firme! Vamos conseguir ajuda!"

Enquanto ele se virava, as palavras anteriores de Isabela ecoaram em minha mente: "O veneno não é você quem decide, Ayla." Uma percepção fria me invadiu. Ela não estava envenenada. Ela estava armando para mim. Me incriminando por prejudicar seu bebê. O pensamento me atingiu com a força de um maremoto. Ela era patética, sim, mas também assustadoramente astuta.

"Não machuque o bebê, Heitor!", Isabela soluçou, sua voz fraca, mas seu olhar, fixo nele, estava cheio de desespero manipulador. "Por favor, não deixe nada acontecer com nosso bebê!"

O rosto de Heitor era uma máscara de desespero absoluto. "Eu não vou! Eu prometo! Mesmo que eu tenha que cortar a espinha de peixe eu mesmo, eu salvarei nosso filho!" Sua voz estava embargada, lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ele tropeçava para fora. Ele amava aquela criança, de verdade. Mais do que ele jamais me amou. Mais do que ele jamais amou nosso filho. O contraste foi uma facada aguda e agonizante no meu peito. Ele não derramou uma única lágrima pela minha perda. Ele nem mesmo se importou.

Ele parou na porta, seus olhos, selvagens e furiosos, fixando-se nos meus. "Se algo acontecer com ela, Ayla, ou com nosso bebê, eu juro por Deus, eu nunca vou te perdoar."

"É assim que você pede ajuda, Heitor?", retruquei, minha voz surpreendentemente firme. "Com ameaças?" Meu último pingo de simpatia por Isabela evaporou. Ela era uma arma, empunhada contra mim. "A vida dela, ou a morte, não significa nada para mim. Absolutamente nada."

"Então ajude-a!", ele gritou, desesperado. "Me diga o que fazer!"

"Ajoelhe-se", exigi, minha voz baixa e perigosa. "Ajoelhe-se diante de mim, Heitor Montenegro, e implore."

Ele congelou, sua mandíbula frouxa, seus olhos arregalados de choque. O braço ao redor de Isabela se apertou, quase a esmagando. "Ayla, você está louca? Isso não é uma brincadeira! Ela está morrendo!"

"Eu pareço estar brincando?", perguntei, minha voz desprovida de calor. Caminhei lentamente em direção a eles, meu olhar inabalável. Estendi a mão, meus dedos traçando o rubor arroxeado na bochecha de Isabela. Seus olhos, arregalados de medo, encontraram os meus. Isso não era mais apenas um jogo.

"A vida dela, Heitor", sussurrei, minha voz assustadoramente calma, "a vida do seu precioso filho, vale mais do que sua preciosa dignidade?" Inclinei-me para mais perto, minha voz baixando para um sussurro conspiratório. "Ajoelhe-se, e eu os salvarei. Eu prometo."

                         

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