Ele os Escolheu, Eu Perdi Tudo
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Capítulo 2

Ponto de Vista de Alice Campos:

Heitor piscou, a testa franzida em confusão. "O que... o que você acabou de dizer?", ele perguntou, a voz tensa.

Olhei para além dele, para Brenda, que me observava com um sorriso de triunfo mal disfarçado. Aquilo nem me afetava mais.

"Eu disse, estou te deixando ir", repeti, minha voz clara e firme agora. O tremor havia sumido. "Vá em frente. Seja o cavaleiro de armadura brilhante dela. Salve-a. É o que você sempre quis."

Eu me virei, minha decisão um peso sólido e inabalável no meu estômago. "Heitor, acabou."

Então adicionei as palavras que tornaram tudo real, as palavras que eu tive medo de dizer por meses.

"Eu quero o divórcio."

O trajeto de volta da delegacia foi um borrão de silêncio e raiva fervente. Não apenas a minha raiva, mas a dele. Ele se recusou a aceitar, me seguindo até o meu carro, seu rosto uma máscara de incredulidade.

"Nós não vamos nos divorciar, Alice", ele disse, abrindo a porta do passageiro e entrando antes que eu pudesse trancá-la.

Antes que eu pudesse protestar, Brenda havia se esgueirado para o banco de trás, uma sombra indesejada. Agora, o espaço na minha Mercedes parecia contaminado, claustrofóbico.

Heitor quebrou o silêncio, sua voz tensa de frustração. "Não aconteceu nada entre mim e a Brenda. Eu juro."

Mantive meus olhos fixos na estrada, meus nós dos dedos brancos no volante.

"Eu estava na lanchonete para uma reunião, e ela estava chorando", ele continuou, seu tom suplicante. "O ex-namorado dela tem a ameaçado, dizendo que plantaria drogas no apartamento dela e chamaria o conselho tutelar para levar o Cael. Ele a atraiu para aquele motel, dizendo que queria conversar. Ela ficou com medo e me ligou. Foi isso. A polícia já estava lá."

Ele estava tentando fazer parecer nobre. Um resgate heroico. Mas tudo que eu ouvia era a mesma velha história. Brenda estava em apuros, e Heitor, meu Heitor, tinha que ser o único a salvá-la.

Como se fosse uma deixa, um soluço suave veio do banco de trás.

"Me desculpe, Sra. Werner", Brenda choramingou. "Eu nunca quis ficar entre vocês dois. Eu nunca tentaria roubar seu marido."

Ela fez uma pausa, sua voz assumindo um novo tom, adocicado. "Mas o Heitor... ele é tão... bom. Ele é gentil e protetor. Ele me lembra como um homem de verdade deveria ser."

Ela soltou um suspiro trêmulo. "Às vezes eu me permito sonhar... como seria se eu não fosse uma mãe solteira com tanta bagagem. Se eu fosse livre... eu lutaria por um homem como ele. Eu realmente lutaria."

O ar no carro engrossou com seu perfume enjoativo e palavras ainda mais enjoativas. Senti uma onda de náusea. Heitor estava em silêncio, e eu sabia, sem nem mesmo olhar para ele, que ele estava comovido com a confissão patética e transparente dela.

Era o fim.

Pisei no freio com tudo.

O carro cantou pneu e parou no meio da rua, nos jogando para frente. No retrovisor, vi os olhos de Brenda, arregalados com um lampejo de medo antes que ela recompusesse suas feições em uma máscara de inocência manchada de lágrimas. Heitor me lançou um olhar furioso.

Eu apenas ri, um som amargo e oco.

Apertei o botão para destravar as portas e abaixei os vidros do lado do passageiro. O ar fresco da noite entrou, mas não conseguiu limpar o fedor da traição.

"Pronto", eu disse, minha voz pingando desprezo. "Estou facilitando para você. Você não precisa mais se esconder. Saiam."

Heitor me encarou, a boca aberta. "Alice, o que você está fazendo?"

"Estou te libertando", eu disse, olhando do rosto dele para o de Brenda no retrovisor. "Vá em frente. Transe em um quarto de motel. Prometo que não vou denunciar vocês desta vez."

As palavras eram feias, vis. Eu podia senti-las rasgando minha própria garganta enquanto as falava.

"Talvez vocês possam até ter um bebê de vocês", acrescentei, a crueldade das palavras um escudo contra a dor esmagadora no meu peito. "Uma pequena família perfeita."

O ar estava tão denso com coisas não ditas que eu mal conseguia respirar. O rosto de Brenda se desfez, sua atuação finalmente quebrando sob a força do meu desprezo cru e sem filtros.

"Você é uma mulher horrível!", ela gritou, atrapalhando-se com a maçaneta da porta. Ela saiu do carro, parando na calçada e me encarando com puro ódio.

No momento em que a porta dela bateu, Heitor se virou para mim.

"Você está feliz agora?", ele rosnou, o rosto contorcido de raiva. "Você tinha que humilhá-la daquele jeito? Qual é o seu problema, Alice? Ela é uma vítima em tudo isso!"

Ele fez um movimento para sair do carro. "Eu tenho que ter certeza de que ela está bem. Ela não tem para onde ir."

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