Ele os Escolheu, Eu Perdi Tudo
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Alice Campos:

A dor no meu peito foi tão aguda, tão súbita, que parecia que meu coração tinha se partido fisicamente. Foi uma agonia lancinante que rapidamente deu lugar a uma dormência assustadora e crescente.

Antes que eu pudesse processar a foto, meu celular vibrou novamente. Uma nova mensagem. De Brenda.

Era um vídeo.

Meu polegar tremeu quando apertei o play. A câmera estava trêmula, claramente filmada em segredo. Mostrava Heitor sentado em um sofá, meu sofá, na minha casa. O filho de Brenda, Cael, estava aninhado ao lado dele.

"Heitor?", a pequena voz de Cael soou. "Posso te chamar de papai?"

Minha respiração engasgou.

"Eu gosto muito de você", o menino continuou, sua voz enjoativamente doce. "Você é tão legal e me compra brinquedos e protege minha mamãe. Eu queria que você fosse meu papai de verdade."

Ele olhou para Heitor com olhos grandes e suplicantes. "Por favor? Você pode ser meu papai?"

A voz de Brenda veio de fora da câmera, um tom falso e repreensivo. "Cael, não incomode o Heitor."

Heitor, meu Heitor, apenas sorriu. Ele estendeu a mão e bagunçou o cabelo do menino. "Não diga isso, Brenda. Ele não está me incomodando."

Ele olhou para Cael, sua expressão se derretendo em uma de ternura, um olhar que eu não via dirigido a mim há meses.

"Você realmente quer que eu seja seu pai?", ele perguntou suavemente.

O menino assentiu com entusiasmo.

O sorriso de Heitor se alargou. "Ok, então", ele disse, sua voz clara e firme. "De agora em diante, eu sou seu papai."

O vídeo terminou com o grito de alegria de Cael. Um segundo depois, uma mensagem de voz de Brenda apareceu.

"Ele é meu agora, Alice. Um homem quer uma família. Ele quer um filho. Algo que você nunca pôde dar a ele. Você perdeu."

Eu toquei a mensagem de voz de novo. E de novo. A malícia triunfante em seu tom era uma coisa física, se enrolando no meu estômago.

"Lice, desliga isso", disse Jaqueline gentilmente, sua mão no meu braço. Ela tinha vindo assim que eu a liguei, minha voz um soluço estrangulado. "Não se torture."

Ela respirou fundo. "Lice... você tem que contar a ele. Diga a ele que você está grávida. Este é o filho dele. Ele vai voltar. Eu sei que vai."

Instintivamente, coloquei a mão na minha barriga ainda lisa. O segredo que eu guardava há seis semanas, uma pequena centelha de esperança que eu planejava compartilhar com ele como uma surpresa, uma ponte para consertar nosso casamento quebrado.

Mas agora... a ideia de usar meu bebê, nosso bebê, como moeda de troca para reconquistar um homem que me traiu tão completamente parecia um sacrilégio.

Pensei na minha própria infância, em ser um fardo indesejado, um peão em um sistema que não se importava. Eu não traria uma criança para um mundo de conflito e desolação. Eu não a submeteria a um pai cujo coração estava dividido.

"Ele não merece ser pai do meu filho, Jaque", sussurrei, as palavras com gosto de cinzas. "Ele não é digno."

O confronto que eu temia aconteceu dois dias depois, no hospital. Eu estava lá para minha primeira consulta pré-natal, meu coração uma mistura confusa de terror e um amor feroz e protetor pela vida dentro de mim.

Ao sair do consultório do obstetra, segurando a foto granulada do ultrassom que era meu mundo inteiro, eu o vi.

Heitor. Ele estava parado perto do posto de enfermagem, e segurando sua mão estava Cael.

A cabeça de Heitor se virou bruscamente quando me aproximei. Ele me viu, e seus olhos se arregalaram. Ele instintivamente soltou a mão de Cael, dando um passo em minha direção.

"Lice", ele disse, sua voz hesitante. "O que você está fazendo aqui? Você está doente?"

Ele viu o papel dobrado em minha mão, o logotipo do departamento de obstetrícia visível. Sua testa franziu em confusão, e ele começou a se aproximar.

"Papai, minha barriga dói!", Cael gritou de repente, agarrando o estômago e se curvando em uma demonstração de agonia dramática.

Heitor parou, dividido. Ele olhou do meu rosto pálido para a criança chorando.

"Lice, só... só espere um segundo", ele disse, a voz tensa. Ele se abaixou para Cael. "O que há de errado, amigão?"

Eu apenas fiquei ali, observando o homem que eu amava escolher, mais uma vez, confortar o filho de outra mulher em vez de mim. A cena era tão grotescamente familiar que quase senti uma risada histérica borbulhar na minha garganta.

"Heitor Werner, seu desgraçado!", a voz de Jaqueline ecoou pelo corredor. Ela estava me esperando perto dos elevadores e tinha visto tudo.

Ela marchou em nossa direção, o rosto uma máscara de fúria. "Você não tem ideia, não é? Você não tem ideia do que ela está passando!"

Ela apontou um dedo trêmulo para mim. "Ela está grávida, seu idiota! É o seu bebê que ela está carregando!"

Antes que as palavras pudessem sequer registrar no rosto chocado de Heitor, Cael reagiu. O menino, instruído por sua mãe a me ver como a inimiga, se lançou para frente.

"Você é uma mentirosa!", ele gritou, o rosto contorcido em um rosnado que era aterrorizante em uma criança tão jovem. "Você é um monstro! Você está tentando levar meu papai embora!"

Jaqueline tentou ficar na minha frente, mas eu a empurrei para o lado. Aconteceu tão rápido. Cael, com toda a força que seu pequeno corpo podia reunir, bateu com a cabeça diretamente na minha barriga.

Um universo de dor explodiu dentro de mim. Era branco-quente e absoluto. Minhas pernas cederam, e eu desabei no chão, a foto do ultrassom flutuando da minha mão.

A dor era uma coisa viva, uma garra cruel rasgando minhas entranhas.

"Sua bruxa malvada!", Cael gritou, chutando meu lado. "Eu te odeio! Eu te odeio!"

As pessoas começaram a olhar, murmurando entre si. "Olha aquela mulher, brigando com um menino." "Que tipo de pessoa grita com uma criança assim?"

Olhei para cima, minha visão turva. Vi Heitor, parado a alguns metros de distância, o rosto uma mistura de choque e indecisão. Ele estava apenas... observando. Esperando que eu cedesse, que admitisse que estava errada, que fosse o monstro que todos pensavam que eu era.

"Heitor", eu engasguei, uma onda de tontura me invadindo. "Me ajude."

Eu podia sentir algo quente e úmido se espalhando debaixo de mim.

"Por favor", eu ofeguei, minha voz quase um sussurro. "Chame um médico."

Mas Cael começou a chorar de novo, mais alto desta vez. "Papai, dói! Minha barriga dói muito, muito!"

O rosto de Heitor se contorceu em agonia. Ele olhou para mim, sangrando no chão. Ele olhou para a criança histérica.

E ele fez sua escolha.

"Alice", ele disse, sua voz fria e distante. "Você precisa se controlar. Olha o que você fez. Você está assustando ele."

Ele pegou Cael nos braços, virando as costas para mim.

"Você precisa pensar seriamente no seu comportamento", ele disse por cima do ombro, e então se afastou, me deixando ali no chão frio e duro, em uma poça crescente do meu próprio sangue.

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